#Reflexão: 21º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 22 de agosto)

11 de setembro de 2021

A Igreja celebrou no domingo (22/agosto), o 21º domingo do tempo comum. O padre Dirlei Abércio da Rosa nos ajuda a refletir e rezar a liturgia desse dia.

Leituras:

1ª Leitura – Js 24,1-2.15-18

Salmo – Sl 33(34)

2ª Leitura – Ef 5,21-32

Evangelho – Jo 6,60-69

JESUS, SÓ TU TENS PALAVRA DE VIDA ETERNA

Não é fácil seguir Jesus procurando cumprir a sua vontade e palavras. O evangelho de hoje encerra a sequência de quatro domingo sobre o discurso do Pão da vida. Tudo iniciou com o milagre da partilha que Jesus promoveu a partir da doação de cinco pães e dois peixes. Depois que todos ficaram saciados, a multidão queria proclamá-Lo rei, pois assim teria assegurado todas as necessidades materiais de que precisasse. Mas, Jesus rompe com esta lógica de somente buscar as coisas deste mundo. Ele se retira sozinho e deixa a multidão.

A partir deste milagre que todos participaram, Jesus inicia uma catequese sobre o verdadeiro alimento e da verdadeira bebida que todos, realmente, deveriam se buscar. É o próprio Jesus com seu corpo e sangue que todos deveriam se nutrir. O texto do Evangelho antes da passagem deste domingo, Jesus afirma com determinação que é necessário comer de sua carne e beber do seu sangue para se ter a vida eterna. Para não ter dúvida, Cristo ainda reforça que sua carne é verdadeira comida e seu sangue é verdadeira bebida. Expressões e palavras que espantaram a todos. Para o judeu, o sangue era algo quase sagrado e se acreditava que nele estava a vida, por isso, não se podia nem tocar nele, quanto mais, “beber” o sangue de uma pessoa.

Jesus falava não de ato humano sobre uma pessoa: comer sua carne e beber o seu sangue. Para o evangelista São João e sua comunidade, Cristo Jesus não era somente uma pessoa, mas uma única realidade com Deus Pai (“Eu e o Pai somos um” – Jo 10,30). Assim, as palavras de Jesus se concretizaram em dois momentos de sua vida: na Última Ceia e na Cruz. Na Quinta-feira Santa, Jesus criou a Eucaristia onde diz claramente sobre o Seu Corpo que Ele dá a todos como alimento e o Seu Sangue como bebida; nas espécies do pão e do vinho, Nosso Senhor nos deixou a forma de recebê-Lo plenamente em nós. A Eucaristia, como afirma o próprio Jesus, é a atualização até o final dos tempos do seu Sacrifício Salvífico da Cruz. Assim, a Santa Comunhão é o próprio Cristo que se perpetua em nosso meio e que quer nos transformar de dentro pra fora.

São João no Evangelho deste domingo nos apresenta a grande decepção que Jesus teve com o abandono de praticamente todos que o procuraram somente buscando-O para obter coisas materiais. O evangelista nos diz que a multidão de 5.000 homens resolveu ir embora e até mesmo discípulos acharam que aquelas palavras “eram duras demais”. A decepção não veio dos fariseus ou opositores judeus, mas entre os discípulos, entre seguidores de um tempo, em sua terra e em Cafarnaum, lugar de tantos milagres.

O Mestre que seguiam mostrou a necessidade de uma profunda adesão. Uma ligação que traz na base o essencial para todos: carne e sangue. Era preciso assumir Jesus em sua totalidade e profundidade, um pacto de vida onde Jesus doa-se completamente, mas era necessário que todos o assumissem completamente (sua carne e seu sangue). Mas, as pessoas queriam somente alguém para lhes fornecesse alimento para este mundo e para esta realidade, não algo tão exigente.

Na 1ª leitura, vemos Josué que provoca o povo de Deus no início da entrada na Terra Prometida. O novo líder do povo de Deus precisava ouvir de todos, qual deus todos queriam servir. Não somente acreditar, mas servir; não somente esperar de Deus, mas se colocar como servo, sem exigir, obedecendo sempre. Josué inicia deixando claro que ele e sua família iriam servir a Deus e o mesmo diz o povo no final.

Jesus no Evangelho pede um gesto semelhante e profundo. Não uma fé cega que não se sabe no que crê, mas uma fé profunda que coloca a confiança em Jesus. Josué lembra a grandeza de Deus que ele quer servir. Jesus já tinha mostrado quem Ele era, bastava agora a fé incondicional de todos.

De fato, as palavras de Jesus exige uma fé plena em sua pessoa, em quem Ele realmente é e não somente no que Ele é capaz de fazer. Uma fé em Deus somente na abundância das coisas é fácil; a fé verdadeira e necessária para a vida eterna deverá brotar não das cestas abundantes de pão e peixe, mas da Cruz onde Jesus se entrega completamente e derrama o seu sangue.

É bem provável que na comunidade de João, havia pessoas não aceitavam a Eucaristia como o próprio Corpo e Sangue de Cristo Jesus. Talvez negassem a realidade humana e até mesmo o sacrifício da Cruz. Cristãos que tinham dificuldade em relação à carne doada por Jesus, pois viam nela uma realidade de pecado e fraqueza. Mas, o autor do quarto Evangelho confirma a fé da Igreja que a mesma carne doada e recebida na Eucaristia, foi também assumida na Encarnação do Verbo. Vida humana assumida em sua totalidade (não na aparência), vivida intensamente e entregue complemente para ser assumida por seus discípulos na Eucaristia.

Assumir uma profunda realidade de comunhão e entrega; de serviço a Deus e ao próximo. Realidades que devem traçar a identidade do cristão no mundo de hoje, como Paulo lembrou sua comunidade na 2ª leitura onde o marido deve amar sua esposa como Cristo amou sua igreja; e as mulheres viver numa profunda entrega, união e comunhão com seu marido.

João retrata que o discurso de Jesus foi um momento decisivo para perceber quem realmente queria segui-Lo plenamente e não por motivos materiais. O grupo se reduziu aos doze discípulos. No entanto, eles mesmos foram questionados por Jesus se não queriam também ir embora. Jesus não iria abrir mão de nada do que disse. A resposta de Pedro deve ser sempre a nossa: “Somente tu tens palavra de vida eterna!”.

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