#Reflexão: 22º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 29 de agosto)

11 de setembro de 2021

A Igreja celebrou no domingo (29/agosto), o 22º domingo do tempo comum. O padre Dirlei Abércio da Rosa nos ajuda a refletir e rezar a liturgia desse dia.

Leituras:

1ª Leitura – Dt 4,1-2.6-8

Salmo – Sl 14(15)

2ª Leitura – Tg 1,17-18.21-22.27

Evangelho – Mc 7,1-8.14-15.21-23

JESUS TORNA PURO TODAS AS COISAS

Os textos bíblicos deste Domingo nos ajudam a refletir sobre a nossa fé, mas principalmente sobre a nossa religião. O confronto entre Jesus e os representantes da religião oficial revela a distância entre eles, mas principalmente como eles viviam de modo totalmente diferente a mesma fé.

Retomamos, neste Domingo, a caminhada proposta pelo Evangelho de Marcos. O contexto anterior ao Evangelho deste Domingo nos mostra Jesus anunciando o Reino de Deus na Galileia, região que está no limite de Israel. A fama de Jesus logo se espalhou e chegou até a Cidade Santa, Jerusalém. As autoridades religiosas ficaram curiosas no início, mas logo se tornou ódio, pois o jovem pregador da Galileia se revelava diferente em princípios e na prática da religião oficial. Jesus foi acusado até de operar milagres em nome de divindades pagãs. Mas, nada abalou Jesus que continuava sua missão.

No Evangelho de hoje, os fariseus e os escribas resolveram acompanhar Jesus, mas na intenção de flagrar algum erro ou desvio em relação à religião oficial, e acharam. Eles acusaram os discípulos de Jesus de não seguir as tradições dos antigos em relação à purificação das mãos (não se trata de questão de higiene, mas de ritual). Ao questionar os discípulos, eles estavam diretamente colocar em dúvida os ensinamentos do Mestre Jesus. Marcos dá alguns exemplos sobre costumes judaicos, pois seus leitores, possivelmente, não conheciam.

A crítica feita contra Jesus revela a imensa distância que existia entre Jesus e aqueles que defendiam a religião oficial. Nosso Senhor não pertencia a nenhum grupo judeu, não era da linhagem sacerdotal, não estava pregando em Jerusalém e nem no Templo; Jesus estava longe dessas estruturas religiosas que, infelizmente, tinham se esquecido do essencial em uma religião: o coração e as pessoas. O Mestre Jesus não classificava quem se aproximava Dele como puro e impuro, pecador ou santo, pobre ou rico, religioso ou pagão; Ele acolhia “pessoas” e lhes oferecia o melhor que podia dar: seu perdão, curas, bênçãos, palavras de vida ou simplesmente abraçava a todos. Cristo, verbo encarnado, queria semear a presença de Deus no coração das pessoas. Jesus acreditava que o contato com o Amor de Deus faria a transformação necessária nos corações das pessoas.

Na missão de Jesus, a pessoa humana ocupava o centro de tudo e por isso, Ele rompia barreiras que tinham sido criadas para separar, excluir e humilhar homens e mulheres. Jesus é o “Deus próximo” mencionado na primeira leitura, Deus que se deixa tocar e abraçar, Deus capaz de transformar a vida das pessoas.

Os religiosos vindos de Jerusalém representavam a religião oficial e se sentiam na autoridade de questionar Jesus em relação às tradições que, para eles, eram fundamentais. Ao responder, Jesus demonstra sua tristeza a eles, pois estavam preocupados com costumes criados por homens e não por Deus.

A religião judaica no tempo de Jesus tinha se tornado um peso para quem quisesse realmente praticá-la. Eram mais de 600 preceitos, normas e proibições que o fiel deveria saber e praticar; somando-se a isto, deveria praticar inúmeros costumes e tradições, como aquele mencionado no Evangelho de hoje relacionado a lavar as mãos. Uma religião feita de inúmeros detalhes que era quase impossível para alguém seguir. Eles acreditavam que bastava a prática destes inúmeros preceitos para que o fiel se sentisse santo e com sua salvação garantida.

O judaísmo daquela época tinha se perdido em rituais perfeccionistas que somente acarretavam angústia nas pessoas, pois bastava o simples esquecimento de um detalhe, para que o judeu se sentisse excluídos ou em pecado. Uma religião onde as pessoas não contavam tanto, mas sim, as normas e os costumes.

Jesus se encontrava completamente distante desse mundo religioso dos escribas e fariseus. Sem abandonar a religião judaica, Ele procurou concentrar-se nas pessoas que eram marginalizadas e desprezadas pelos representantes da religião oficial. Nosso Senhor não foi um rebelde ou revolucionário, alguém que quis desfazer da religião, mas procurou viver tudo aquilo que era importante e fundamental no judaísmo, mas deixou de lado costumes que atrapalhavam se aproximar das pessoas. Citando o profeta Isaias, Jesus chama aquele grupo de hipócrita: louvam a Deus somente com palavras e não com o coração.

Voltando-se para os discípulos (não fala mais aos escribas e fariseus, pois sabia que seria inútil), Jesus decreta tudo como puro e explica que nada exterior (tocado ou ingerido) pode tornar uma pessoa impura ou pecadora. De fato, tudo é obra de Deus e são simples criaturas que não têm o poder de tornar alguém impuro. Para Jesus o que mancha alguém de pecado é aquilo que sai do coração e da mente das pessoas. Os pecados – e Jesus cita alguns no Evangelho – esses sim saem de dentro de cada pessoa e as tornam impuras e pecadoras.

Assim, Jesus ensina uma nova religião onde não existe mais desculpas de algo externo que torna impuro ou pecaminoso, mas uma religião onde tudo nasce de dentro de cada pessoa. A maldade no coração das pessoas é que estraga tudo inclusive a própria religião. As leis e mandamentos (1ª leitura) devem nos ajudar a praticar e viver o amor de Deus, sem excluir ninguém e amando a todos.

Na religião de Jesus, cada pessoa ocupa o centro de tudo e tem como lugar privilegiado o coração de cada um, lugar do encontro com Deus bem como lugar a ser curado dos pecados. O coração é o centro da pessoa e também dali é que nascem os bons propósitos; dentro de cada pessoa nascem as boas intenções da verdadeira religião que vai de encontro e acode a todas as pessoas, principalmente, aquelas que são as mais vulneráveis (Tiago, na 2ª leitura, cita para aquele tempo os órfãos e viúvas). Uma religião do encontro sem preconceitos e vivendo intensamente o amor, esta é a religião que devemos viver sempre!

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