#Reflexão: 23º domingo do Tempo Comum (04 de setembro)

2 de setembro de 2022

A Igreja celebra, no dia 04, o 23º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Sb 9,13-18

Salmo: 89(90),3-4.5-6.12-13.14.17 (R. 1)
2ª Leitura: Fm 9b-10.12-17
Evangelho: Lc 14,25-33

Acesse aqui as leituras.

EXIGÊNCIAS PARA SEGUIR JESUS COMO DISCÍPULO

            O Evangelho deste domingo retrata a retomada do caminho de Jesus para Jerusalém. Domingo passado Jesus estava na casa de um fariseu ilustre e lá procurou ensinar a todos convidados como se comportar em relação aos primeiros lugares. Prosseguindo sua estrada, Ele procura ensinar agora a multidão.

Lucas nos informa que junto com o pequeno grupo de discípulos, uma multidão tinha se formado. Estavam próximos, mas para Jesus ainda não eram discípulos; buscavam algo junto a Ele (curas e milagres), mas não estavam interessados em fazer parte do mesmo grupo de discípulos. Jesus conhecia aquelas pessoas que O seguiam, por isto, lhes apresenta a condição para deixarem de “ser povo” e de se tornarem “discípulos”; deixarem se serem espectadores e passarem a compor o mesmo grupo de escolhidos de Jesus; deveriam abandonar a mentalidade de “receber algo” de Jesus (prodígios e milagres) para aprender a doar-se completamente. As palavras de Cristo são profundas e exigentes.

A primeira exigência de Jesus é chocante. Usando um recurso dos grandes mestre, Jesus propõe uma ideia que chama atenção de todos para em seguida explicar seu significado. A frase começa com uma proposta e não uma imposição: “Se alguém vier…” Não há obrigação, mas se alguém decide ir até Jesus, é chamado a fazer uma escolha radical, mas por outro lado, profundamente benéfica. A multidão seguia Jesus, mas cada um com suas necessidades e exigências pessoais; Cristo apresenta suas condições para que todos possam realmente receber muito mais que um benefício físico (cura) ou uma diversão (ver um milagre). Prossegue Jesus dizendo “Se alguém vier a mim e não odiar seu pai… sua própria vida, não pode ser meu discípulo”. Não tem como não se surpreender com a condição fundamental “odiar”, colocada por Jesus.

            Lucas procura preservar a força da “expressão semita” (jeito do povo da Bíblia pensar: radical e sem meio termo). Este modo de pensar e de afirmar encontramos nos profetas e nos textos da Lei que proclamam que Deus deve receber todo o amor e não parte dele. Em outro trecho de Lucas, Jesus mesmo diz que não se pode servir a dois senhores: ou odiará um e amará outro, ou há de aderir a um e desprezará outro (cf. Lc 16,13). Mateus, ao retratar a mesma citação, faz uma adaptação que nos ajuda a entender melhor a expressão em Lucas. Diz o primeiro evangelista: “Quem ama seu pai e mãe, mais do que a mim, não é digno de mim…” (Mt 10,37). Na lista de Lucas são seis tipos de pessoas (pai, mãe, filhos…) mais a vida: sete é o número. Para ser discípulo de Jesus é precisa abandonar de forma radical todos e a própria vida para segui-Lo.

Este termo é comumente traduzido no Evangelho de Lucas por “amar menos” (ou ser capaz de rejeitar), seguindo a forma do Evangelho de Mateus: “Se alguém vier a mim e não ama menos seu pai…”. Parece traduzir melhor o que Jesus pretendia dizer, pois sabemos que Nosso Senhor não era contra a família. Ele viveu com os seus até iniciar sua vida pública; Maria, sua mãe, conviveu com Jesus e até o acompanhou como discípula. Quando perguntado sobre os Mandamentos, lembrou o quarto Mandamento (honrar os pais) como condição básica para a se salvar.

Em seguida, Jesus propõe a segunda condição, desta vez, para todos que aceitarem a primeira condição. Jesus afirma que é preciso: “Tomar a cruz e segui-Lo”. Cruz do compromisso vivido ao extremo até ao ponto de “desprezar a própria vida” para que todos tenham vida. A cruz nas palavras do Jesus é aquela que Ele abraçou e conduziu até o final de sua caminhada neste mundo. Sinal do amor extremo e total para salvação do mundo. Neste sentido, a cruz não tem nada a ver com sofrimento e dores (isto a vida se encarrega de nos dar). Não foram o sofrimento e a dor que salvaram o mundo, mas o amor vivido em sua máxima expressão.

            Duas condições fundamentais para seguir Jesus: amor maior e total a Cristo ao ponto de doar sua vida! Mas, para isto Jesus alerta que nada deve ser feito como algo somente para um momento da vida e sem convicção. É preciso medir suas consequências e meditar suas exigências. Por isto, Jesus conta duas parábolas que retratam a prudência e a seriedade para com as coisas da vida (construir uma torre e partir para uma guerra). Seguir Jesus vivendo as condições que Ele mesmo vivia, requer a mesma consciência e seriedade, mas de modo radical e total.

Jesus acrescenta a terceira exigência para “ser seu discípulo” (frase que repete três vezes ao final de cada condição): “Renunciar a tudo que lhe pertence”. O discípulo que Jesus deseja “atrás de si” (isto é, seguindo seus passos) é aquele que ama com toda intensidade o seu Mestre ao ponto de deixar todos e tudo em segundo plano; ser discípulo de Cristo é assumir seus passos e fazer a mesma caminhada vivendo o amor para com todos (e não somente para os familiares mais próximos), uma existência plenamente aberta para a promoção da vida de todos e não somente seus anseios pessoas; Uma vida de total doação e serviço que tem como sinal maior a própria cruz deixada por Cristo.

As exigências são duras e profundas, mas para amar o próximo  precisamos primeiro fazer a experiência do verdadeiro amor que é Jesus. Para receber o melhor, precisamos ser capazes que doar tudo primeiro. Para viver intensamente nossa vida, precisamos ser capazes que doá-la ao serviço do bem e da vida de todos. As exigências de Jesus nada mais são que o próprio estilo de vida que Ele mesmo viveu.

            São grandes mistérios que somente quem consegue fazer a experiência do amor de Deus consegue entender. O amor de Deus não é egoísta e discriminatório. Jesus é a fonte do amor e quem descobre esta água vida não se fecha em si ou somente com algumas pessoas, mas semeia amor na vida de todos com quem convive. Fazer a experiência de abraçar Jesus com todo seu amor, ao final, torna-se também fonte de amor para as outras pessoas. A pessoa que faz a experiência de amar Jesus em primeiro lugar e com toda sua vida, passa necessariamente para todos os outros o mesmo amor: familiares, amigos e todas as pessoas com quem tiver contato.

A lógica de Deus e do seu amor não segue os mesmos passos e caminhos que conhecemos (primeira leitura). Somos capazes que medir e afirmar sobre muitas coisas até mesmo muito distante de nós (universo), mas a experiência do amor conforme Jesus viveu e nos ensinou, somente ela completa nossa existência, pois mais do que satisfazer o nosso conhecimento, dá sentido a nossa vida. É preciso romper com a lógica do mundo como Paulo na segunda leitura convida seu amigo Filêmon a fazer com o seu “filho na fé” (Onésimo). Não tratá-lo com um escravo fugitivo, mas como um irmão na fé. Se o universo pode ser desbravado com o nosso conhecimento, somente o verdadeiro amor que tem sua origem em Deus pode dar sentido a tudo e a todas as coisas. Vivemos para amar intensamente Deus e nossos irmãos!

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