#Reflexão: 23º domingo do Tempo Comum (10 de setembro)
A Igreja celebra o 23º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (10). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Ez 33,7-9
Salmo: 94(95),1-2.6-7.8-9 (R. 8)
2ª Leitura: Rm 13,8-10
Evangelho: Mt 18,15-20
CORREÇÃO FRATERNA E A NOSSA IDENTIDADE CRISTÃ
Sabemos que todos nós estamos sujeitos a erros e falhas em nossa caminhada, mas como ajudar alguém quando a pessoa está no mau caminho ou quando faz algo que nos atinge? A Palavra de Deus nos oferece a solução para ajudar um irmão ou irmã retomar o caminho da comunhão com Deus e com a comunidade.
Ir ao encontro e anunciar a Palavra de Deus são quase sempre ajudar uma pessoa a encontrar o caminho da salvação ou alertar sobre a estrada que leva para a condenação, como lemos na 1ª leitura com o profeta Ezequiel. Assim, quando alguém se desvia da estrada dos Mandamentos e da comunhão com Deus, cabe ao profeta anunciar e denunciar o erro, mesmo que isto traga dificuldades e até perseguições. O profeta cumpre sua missão de anunciar o caminho para Deus, mas cada um deverá fazer sua escolha. Não cabe ao profeta ficar com a Palavra de Deus para si, mas anunciá-la a todos.
São Paulo, na 2ª leitura, lembra que a nossa atitude deve ser ainda maior e mais profunda: devemos nos sentir sempre em dívida em relação ao exercício do amor. Não somente para com o pecador, mas para qualquer pessoa. A melhor forma de ajudar alguém a retomar o caminho para Deus é sermos um sinal vivendo o amor e a caridade.
Para Paulo, o cristão é um profeta não somente da Palavra de Deus, mas da prática concreta do amor.
Jesus não foi alguém que deixou belas palavras, mas ensinamentos que devem condicionar o nosso cotidiano e o nosso comportamento.
Paulo lembra os Mandamentos de Deus relacionados ao nosso modo de agir com os nossos irmãos e afirma (como Jesus) que tudo se resume no amor ao próximo e conclui: “a caridade é o pleno cumprimento da lei”.
Mateus, no Evangelho, também apresenta um ensinamento de Jesus para nossa vida cristã. Diferentemente de Ezequiel (na 1ª leitura) que recebe a missão de ajudar todas as pessoas que erram, Jesus no Evangelho deixou orientações para a nossa vida em comunidade, nós que somos irmãos da fé. O caso agora é para aqueles que possuem a mesma fé e estão no mesmo caminho tentando cumprir a vontade de Deus.
O versículo anterior ao Evangelho deste domingo conclui afirmando que “vosso Pai não quer que se perca sequer um destes pequeninos” (parábola da ovelha perdida). Dessa forma, como se pode recuperar uma “ovelha perdida” na comunidade? O próprio Jesus, no Evangelho deste domingo, responde. O amor de Deus é amplo e abraça todas as pessoas, independentemente se fazem parte ou não da sua Igreja. Se isto vale para qualquer pessoa, tem um significado maior e mais profundo quando se trata de pessoas que professam a mesma fé em Cristo.
Jesus inicia lembrando que são ensinamentos para pessoas que possuem a mesma fé: “Se teu irmão pecar contra ti…”. Trata-se de pessoas que estão procurando viver na comunidade (igreja) os princípios deixados por Deus, principalmente, o Mandamento da caridade. A orientação de Jesus é para quem se sente cristão e foi ofendido: aquele que foi machucado deve tomar a iniciativa para a reconciliação. Jesus dá por descontado que aqueles que têm fé também pecam (não tem jeito), por isso, apresenta a solução do problema.
Errar contra um irmão na comunidade, Jesus afirma, ser sempre um “pecado” (não um delito ou crime), e por isso, há sempre uma graça de Deus que pode atuar e apagá-lo, algo que passa pelo irmão atingido. O pecado, mesmo que seja somente entre dois irmãos, pode atingir a Deus (pecado) e a toda comunidade.
No nosso cotidiano, quase sempre, quem é ofendido se sente vítima e injustiçado, por isto, se pensa que a iniciativa de reconciliação é uma obrigação da parte de quem ofendeu. Para Jesus, é diferente. A pessoa ofendida deve dar o primeiro passo, ir ao encontro do irmão que fez algo contrário aos ensinamentos de Jesus. Esta atitude diferencia o cristão das demais pessoas: não espera o outro e não se sente como vítima, mas procura refazer a comunhão.
Relembrando que para Ezequiel, a orientação é diante de pecados que outros cometem, assim, o profeta deve sempre anunciar a verdade. Jesus fala “se teu irmão pecar contra ti”, neste caso, vai e “repreendê-lo”. Mas, tudo deve ser resolvido somente entre as duas pessoas. Como se trata de pessoas de fé que vivem os mesmos princípios, Jesus prevê que o irmão que pecou irá ouvir, possivelmente, se arrepender e mudar de vida. Neste primeiro passo em vista da reconciliação, se o irmão que errou se arrepender, Jesus afirma que “terás ganho teu irmão”. A reconciliação, segundo Jesus, entre irmãos é como um tesouro que alguém descobre (ou redescobre). O termo usado por Jesus, além desta passagem, ocorre somente na parábola dos talentos (lucrar colocando as moedas no banco). A reconciliação é um tesouro que todos saem lucrando quando é colocada em prática.
Mas, Jesus também previu a situação que é comum entre irmãos de mesma fé: quem ofendeu, não querer a reconciliação. A pessoa ofendida não deve desanimar, deve passar para o segundo passo tendo sempre em vista o bem comum entre os dois. Jesus aconselha a contar com a ajuda de duas pessoas (uma ou duas) da comunidade. Tais pessoas são chamadas por Jesus de “testemunhas”, não devem “tomar partido” ou julgar a questão, mas acompanhar e testemunhar a intenção da pessoa que foi ofendida. No fundo, a questão ainda deve ser resolvida entre as duas pessoas.
E se mesmo depois da presença de alguém como testemunha, a pessoa que ofendeu não quiser ouvir e aceitar a reconciliação, Nosso Senhor propõe o terceiro passo que é levar a questão para a Igreja decidir. A palavra “igreja” aparece somente em duas passagens em Mateus: no momento em que Pedro professa sua fé e, em seguida, Jesus promete construir sobre ele a sua Igreja; e a outra passagem é aqui sobre a correção fraterna (“Igreja” não aparece nos outros Evangelhos). Certamente, na época em que Mateus escreveu o Evangelho já existia uma organização da Igreja de Cristo bem definida, tendo alguém com uma autoridade para decidir sobre questões principais da comunidade cristã, inclusive sobre a necessidade da vivência da correção fraterna.
Mas, mesmo levando a questão para toda comunidade e sua autoridade, Jesus propõe um último recurso para a pessoa que foi ofendida se o irmão que errou não quiser a reconciliação. O irmão de coração duro deve ser considerado como “pagão” ou “publicano”. Aqui não há nenhum sentido negativo ou de desprezo. Os pagãos e publicanos eram considerados como aqueles que “ainda não conheciam a Palavra de Deus” e por isto, cabe ao cristão anunciar a Boa Nova de Jesus para ele. O cristão nunca deve nutrir nenhum sentimento negativo para com aqueles que não abraçaram ainda a fé, pelo contrário, como Jesus, os pagãos e publicanos são vistos como futuros irmãos da fé.
Bem! Aplicando este princípio da Evangelização dos primeiros cristãos, o irmão que continuar fechado até o último passo à reconciliação deve ser ajudado a refazer sua caminhada de fé (como um pagão), redescobrir o valor do Mandamento principal de Jesus (Sacramento do Amor) e principalmente praticar isto no meio da comunidade. Como a última etapa do itinerário da correção fraterna termina na Igreja, essa deve ser mãe para auxiliar esses irmãos, o valor do testemunho do amor a começar entre nós que temos a mesma fé.
Sobressai no Evangelho de hoje a necessidade de sempre buscar a reconciliação e a união. É preciso estar unido realmente na fé e de coração e não simplesmente reunido em nome de Jesus. A nossa união de coração e fé é que vai dar força a nossa oração, pois mais do que rezar a Deus é necessário rezar como Igreja e como família de irmãos e de irmãs. Jesus insiste algumas vezes que é necessário estar unido, buscar sempre a união na terra para estar unido realmente junto de Deus. Ser cristão é celebrar sempre a comunhão, movidos todos pela causa maior que é o Amor que Jesus ensinou. O texto diz “estar em sintonia” com teu irmão, usa-se um termo que lembra “sinfonia”: estar afinado, em harmonia. Não é algo como todos falando o mesmo e pensando do mesmo modo, mas cada um dar sua contribuição, do seu modo, mas em harmonia e no mesmo tom.
O Evangelho deste domingo inicia falando de alguém chamado de irmão na fé, mas porque se recusa a praticar a reconciliação com outro irmão na fé, esse é chamado por Jesus de pagão: alguém que não conhece nosso Deus de Amor. De fato, a caridade exercitada através da correção fraterna entre irmãos é o mínimo que se espera de pessoas que professam a fé e conhecem o amor de Jesus Cristo.
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