#Reflexão: 24º domingo do Tempo Comum (17 de setembro)

12 de setembro de 2023

A Igreja celebra o 24º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (17). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Eclo 27,33-28,9
Salmo: 102(103),1-2.3-4.9-10.11-12 (R. 8)
2ª Leitura: Rm 14,7-9
Evangelho: Mt 18,21-35

 

Acesse aqui as leituras.

 

PERDOAR PARA SER PERDOADO

Domingo passado meditamos uma passagem de São Mateus em um capítulo (Mt 18) que é considerado um grande ensinamento para a comunidade cristã. Jesus fala para aqueles que estavam procurando – como nós – viver o Evangelho. O capítulo inicia com uma pergunta: “Quem era o maior entre eles” (Mt 18,1). Uma pergunta muito estranha, mas Jesus, ao contrário, apresenta vários ensinamentos sobre o acolhimento dos pequeninos na comunidade, começando pelas crianças. Diz Jesus: “ai daquele que escandalizar um só desses pequeninos” (cf. 18,6). Conclui que “Deus Pai não quer que se perca nenhum deles” (18,14). E assim, ouvimos domingo passado sobre o ensinamento de Jesus em relação ao pecado entre dois irmãos e como tudo deve ser resolvido. Neste domingo é Pedro que propõe, praticamente, a mesma questão: “Quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim?” (18,23). Jesus ensinou sobre como proceder quando um irmão erra, mas Pedro queria saber até quantas vezes devo perdoar se meu irmão errar.

A primeira leitura e o Evangelho de Mateus tratam deste mesmo tema: o perdão. O autor do livro do Eclesiástico lembra que o ódio é algo que até mesmo quem não possui religião procura se desfazer, pois não traz nenhum benefício e somente mais coisas negativas. Reter no coração algo de ruim (ódio, rancor…) é visto até como algo incoerente, pois a pessoa pede a Deus, mas seu coração está longe Dele. O autor ainda lembra da nossa realidade humana e de nossa igualdade: todos nós erramos e por isto todos devemos perdoar uns aos outros.

No Evangelho vemos que Pedro, certamente, tinha intuído que Jesus dava muito valor ao perdão. Nosso Senhor deve ter falado muito, ensinado e demonstrado como colocar em prática o perdão, isto tudo com situações bem concretas. Dessa forma, o apóstolo propõe uma pergunta e já antecipa a resposta. Sabemos que o número “sete” significa a totalidade e a perfeição (pois é a soma de tudo: 3 realidade divina + 4 realidade terrena), por isto Pedro já antecipa sua resposta: “sete vezes?”.

No tempo de Jesus, a orientação geral era de perdoar qualquer coisa até a terceira vez, depois disto, se a pessoa continuasse no erro, poderia ser até processada por quem saiu prejudicado. Pedro tinha percebido que Jesus ia muito além das “três vezes”, por isto, propõe a perfeição e a totalidade (sete) como resposta. Mas, Jesus surpreende e vai muito além do que concluiu Pedro. Responde afirmando que seria algo sem limite e condições: sete vezes setenta vezes. Este jogo com os números 7 x 70, conhecemos em uma passagem do AT quando Lamec diz que vai se vingar “setenta vezes sete” (cf. Gn 4,24), assim, Jesus inverte a lógica: da vingança para o perdão.

Mas, Jesus não deu por terminada a questão e propõe uma parábola para revelar o motivo que todos devem sempre perdoar. A parábola inicia mostrando a imensa distância entre os personagens. Trata-se de um rei que possuía uma riqueza que não se tinha condições de medir. Este rei – segundo Jesus – teria emprestado dinheiro a vários servos e um dia, quis que todos acertassem suas contas. Um servo foi conduzido e o rei simplesmente aplicou o princípio geral garantida perante a lei: pedir contas a quem tinha emprestado dinheiro.

Sobre a dívida, Jesus apresenta um valor imenso. Algo em torno de 589 toneladas de ouro (praticamente o PIB do Brasil). O detalhe é que o rei imensamente rico tinha confiado a um servo uma soma que ele não teria jamais condições de pagar com juros. O empréstimo não foi para um banqueiro ou comerciante, mas a um servo.

Diante de uma conta praticamente impossível de ser paga, o servo apela de todas as formas, inclusive se jogando ao chão diante de seu patrão para pedir mais tempo. Todos sabiam que não era falta de tempo que ele precisava, mas de condições financeiras para pagar tamanha soma que era impossível de ser quitada. Endividado, se tornaria escravo (ele e sua família) até o final da vida.

Diante dos apelos do servo, Jesus diz que o patrão riquíssimo fez muito mais do que o servo tinha suplicado: perdoou toda a dívida e o deixou ir embora sem pedir ao servo qualquer coisa. O perdão produziu muito mais que um cancelamento de dívida, concedeu ao servo o estado de pessoa livre. Ele sai da presença do patrão com a riqueza que deveria devolver; sai alegre e riquíssimo. Mas, ele não descobriu a verdadeira riqueza que tinha experimentado. Ao perdoar a dívida e dar ao servo a liberdade, esse pode deixar a casa do seu senhor com todo o passado cancelado e tendo a chance de viver e aproveitar sua vida usando do dinheiro que ele tinha emprestado.

Mas, Jesus continua a parábola informando que o mesmo servo cuja dívida lhe fora perdoada, encontrou um “companheiro de trabalho” que também tinha uma dívida, mas não com o senhor, mas com ele, o servo perdoado. Mas, o tal servo perdoado se mostrou ainda preso a princípios e leis e não na misericórdia.

O servo cuja dívida tinha sido perdoada se jogou no pescoço do colega e o sufoca. O patrão que tinha todo o direito de cobrar tudo, não tinha feito nada. O colega do servo repete o mesmo gesto diante de uma pessoa que era igual a ele: de joelho lhe suplica mais tempo para pagar a dívida. Segundo Jesus, a dívida era somente algo que correspondia a 100 dias de trabalho. Mas, o servo, buscando cumprir seu direito como cidadão (cobrar uma dívida), não quis saber das palavras do colega e esse foi jogado na prisão juntamente com sua família.

Tudo acaba chegando aos ouvidos do rei que tinha perdoado a imensa dívida e ele redefine a história do servo. Este tinha pedido e invocado um gesto de misericórdia (“um pouco de tempo”) e seu senhor tinha lhe dado tudo: o perdão incondicional e a liberdade. O senhor, inicialmente, podia simplesmente aplicar a lei, mas quis fazer algo que foge a todos os princípios e está acima de qualquer lei: Ele agiu com misericórdia. Diante do servo que não agiu do mesmo modo que seu Patrão, esse muda até seu nome (chamando-o de “servo mau”) e aplica simplesmente a lei comum: jogá-lo na prisão até pagar tudo.

Aprendemos com Jesus em diversos momentos e ensinamentos que “o limite do perdão é não ter limite”: todos devem sempre perdoar! Colocar limite ao perdão é reter ódio, represar raiva e cultivar rancor que irão dar somente frutos negativos. O perdão não liberta o nosso passado, mas liberta o nosso futuro. O desafiante é sempre dobrar o nosso coração, assim, a conversão não é daquele que errou, mas daquele que precisa perdoar. O senhor da parábola age por misericórdia e seu gesto é algo incompreensível e visto até mesmo como absurdo. O perdão praticado por Jesus, de fato, rompe e vai além da nossa compreensão e de nossas leis.

Segundo Jesus, o senhor da parábola tinha tudo para poder exercer e fazer valer o seu direito de receber a dívida do servo (confiscando tudo que ele tinha e colocando todos na prisão), mas ele agiu acima da lei (com misericórdia). O perdão é um tesouro que Deus concede a cada pessoa, mas somente se transforma em riqueza quando este também é doado aos outros.

Antes de condenar o servo que já tinha feito a experiência do perdão, o patrão questiona porque ele não fez o mesmo que o seu patrão. Ele tinha agido não pelo caminho da lei, mas por compaixão.

Jesus nesta parábola lembra que nós tínhamos uma dívida impossível de ser saudada, mas que foi simplesmente cancelada por Deus através de Jesus. Assim, a mesma experiência de perdão, todos nós devemos praticar em relação aos nossos irmãos, pois, certamente, as nossas dívidas serão menores que aquela que foi perdoada por Deus.

Deus não se comporta nem como banqueiro e nem como juiz, Ele perdoa movido por sua misericórdia que está acima de qualquer lei ou norma. Do mesmo modo devemos agir em relação aos erros de nossos irmãos. Somos chamados a perdoar porque Deus é que nos perdoou em primeiro lugar e perdoou uma dívida impagável. Como Jesus nos ensina: o perdão faz bem muito mais a quem perdoa do que a quem foi perdoado.

 

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