#Reflexão: 26º domingo do Tempo Comum (01 de outubro)
A Igreja celebra o 26º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (01). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Ez 18,25-28
Salmo: 24,4bc-5.6-7.8-9 (R. 6a)
2ª Leitura: Fl 2,1-11
Evangelho: Mt 21,28-32
RESPONDER SEMPRE COM DECISÃO AO CHAMADO DE DEUS
A parábola que ouvimos de Jesus neste domingo, novamente, retrata um ambiente familiar com realidades e necessidades bem concretas. Há uma profunda relação entre um pai e seus dois filhos, em jogo está a necessidade do trabalho familiar e da ajuda mútua entre todos. Como no domingo anterior, o local é uma vinha e tudo indica que pertencia à família e todos, de alguma forma, deveriam se sentir responsáveis por ela. No próximo domingo, ouviremos mais uma parábola tendo como ambiente a vinha.
Segundo Mateus, Jesus encontrava na Cidade Santa e no lugar mais sagrado para os judeus: Templo de Jerusalém. Foi quando Ele ensinava naquele local santo que as autoridades se aproximaram e perguntaram com qual autoridade Jesus ensinava. Como é próprio, Ele amplia a questão e propõe um questionamento sobre João Batista e depois, esta parábola sobre os dois filhos e um pai.
A parábola é proposta por Jesus com uma pergunta fundamental: “que vos parece?” Nosso Senhor tem a intenção de provocar seus ouvintes a se posicionarem sobre o fato. Jesus quer um envolvimento de todos e não somente simples e meros ouvintes. Mateus lembra que a parábola foi contada para os sacerdotes e anciãos do povo, isto é, os principais representantes da religião judaica da época: eles conheciam muito bem a religião, mas não estavam vivendo do jeito que Jesus queria.
Na parábola de Jesus, o pedido do pai aos filhos revela o desejo do bem comum, pois o sustento da família deveria vir da participação de cada um no trabalho na vinha. O pai pede algo que os dois filhos já deveriam saber algum tempo: a vinha pertence a todos, pois todos dependem dela. Era um pai pedindo um favor a seus filhos, não um patrão a seus empregados.
Jesus narra com mais detalhes o que aconteceu com o primeiro filho: É o pai que vai ao encontro dele. É o pai quem se aproxima para pedir, não comanda ou ordena do alto e todos obedecem; pede-lhe introduzindo com a principal relação que existe entre eles: o chama de “filho”; por fim, a solicitação do pai que possui um detalhe: ele pede para ir “hoje” trabalhar na vinha. Havia uma urgência que todos se empenhassem naquele dia de serviço (talvez fosse tempo da colheita), assim, o pai recorre e pede apoio aos filhos. Para o segundo, o pai procede do mesmo modo: se dirige a ele e pede do mesmo modo que tinha feito ao primeiro. No entanto, sobre este segundo filho, Jesus apresenta a cena de forma simples e sem detalhes, talvez, porque o pai já conhecia o segundo filho ou confiava já em sua resposta positiva.
O pedido de ir trabalhar “hoje”, demonstra que os dois não eram frequentes no serviço e isto dá a entender que ou o pai trabalhava sozinho ou tinha outros ajudantes, de qualquer forma, havia uma necessidade do pai especial e urgente sobre a vinha que sustentava a vida de todos da família.
O primeiro filho não pensa duas vezes e responde de forma enfática: “Não quero!” A resposta dá entender que ele vê e avalia tudo somente a nível da vontade (querer) e não com a razão. Não se sabe o motivo, mas podemos imaginar que se tratasse de uma pessoa que não queria abandonar sua situação de comodidade ou simples preguiça. A vontade sempre está ligada ao prazer e ao bem estar. Para este primeiro filho, ele avalia que teria que deixar de fazer algo que estava lhe agradando para fazer algo que ele não queria.
Diante da negação do primeiro filho, o pai nada lhe diz: nem reprova sua atitude baseada na vontade e nem o ameaça lembrando-lhe que ele mesmo deveria estar usufruindo dos frutos da vinha.
Mas, Jesus prossegue a história dizendo que o primeiro filho, depois, se arrepende e foi para a vinha, sem falar com o pai e nem pedir-lhe perdão. Certamente, passado um tempo, ele começou a raciocinar e percebeu que ele deveria ajudar, mesmo que tivesse que deixar de lado algo que lhe dava mais prazer. Trabalhar na vinha exigia renuncia de seu tempo e de coisas que lhe davam mais satisfação, mas ele “mudou de ideia” e foi.
Sabemos que diante de uma exigência ou necessidades, muitas vezes, fazemos o que “precisa” ser feito até mesmo sem ter vontade, mas porque é necessário, realizamos. Quando não se visualiza a importância e se vê como algo simples, nem sempre temos “vontade” de realizar. O querer e a vontade não podem ser o principal filtro que usamos para agirmos. Decisões baseadas somente na vontade, nem sempre são as mais sensatas. Aquilo que é melhor, nem sempre é aquilo que queremos fazer e temos prazer. O primeiro filho começou escolhendo pela vontade, depois mudou de atitude quando “mudou de ideia”. O primeiro filho é sincero em suas palavras, por isto, é verdadeiro em seus atos.
O pai repete o mesmo gesto para o segundo filho (ir ao encontro) e faz o mesmo pedido (ir “hoje” para vinha). Para o pai, os filhos são iguais e os trata do mesmo modo, como também acredita que ambos podem ajudar. Lembrando que aquilo que o pai solicitou aos dois era uma necessidade para todos, pois o sustento da família era tirado da vinha.
O segundo filho, diante do pedido do pai, responde positivamente com uma expressão forte em grego: “Eu” e acrescenta em seguida, ao invés de usar “pai”, o chama de “senhor” (as nossas traduções trazem: “Sim eu vou”), o segundo considera o pai como um patrão. Suas palavras devem ter enchido o pai de orgulho, pois esse filho se mostrou pronto em acatar o seu perdido como um servo obedece a seu senhor.
Os dois filhos encaram o pedido do pai como algo negativo: o primeiro não consegue percebe imediatamente que aquilo que lhe foi pedido não é um capricho do pai, mas um bem para todos inclusive para ele mesmo; o segundo já possui uma ideia errada de tudo: tanto do pai (que não respeita mais) quanto da necessidade de dar sua contribuição para o bem da vinha da família.
Mas, há um particular que é positivo em relação ao primeiro filho: o arrependimento. Em tempo, o primeiro filho refaz suas opções e descobre a importância do pedido do pai. A conversão (arrependimento) fez com que ele visse de modo diferente: o seu pai, a obediência e a vinha. Ele não se retrata com o pai pela falta de consideração quando recebeu o pedido, mas demonstra com atos que está arrependido do que disse. Já o segundo filho desilude o pai duas vezes: ao prometer diante dele que iria (a sua palavra de filho não tem valor) e nem se arrepende posteriormente, e não aparece para trabalhar. O segundo filho é falso com suas palavras e seus atos.
O primeiro filho se sente livre diante do pai e por isto, chega ao ponto de negar o convite. Somente a liberdade existente entre um Pai que ama e seus filhos produz o efeito desejado – mesmo que tarde – do arrependimento do filho. O segundo filho perdeu todo respeito com o pai, por isto, não teme em mentir diante do convite feito pelo pai e permanece distante dele e da vinha da família.
Diante da pergunta de Jesus (“quem cumpriu a vontade do Pai?”), todos respondem que foi o primeiro filho. A conclusão de Jesus deve ter chocado a todos que se sentiam os únicos herdeiros das promessas de Deus (os sacerdotes e anciãos do povo). Segundo Jesus, as prostitutas e os pecadores souberam reconhecer a vontade de Deus nas palavras de João Batista. Eles se arrependeram e procuraram mudar de vida, por isto, precedem os justos e santos religiosos judeus no Reino de Deus. Esses tratavam Deus não mais como um pai amado ao qual deveriam obedecer sempre, mas como alguém que tinha já perdido a autoridade. Os fariseus e muitos outros, de fato, pensavam que o modo que viviam e praticavam a religião já era suficiente para se salvarem e a vontade de Deus, para eles não tinha mais importância.
Segundo Jesus, não são os títulos e rótulos que Deus enxerga. Nosso Pai vê todos como filhos, pessoas que Ele deseja estabelecer uma profunda relação materna e paterna. O preconceito entre nós não afeta somente a pessoa atingida, mas também a Deus. Excluir alguém é sempre excluir o próprio Deus. O religioso judeu e fariseu não sente que tem que mudar nada e nem melhorar alguma coisa, por isso, a graça de Deus não toca o seu coração; os pecadores podem ainda se converter e mudar de vida, e pelo simples ato de viver o amor, já estão no caminho de Deus, de fato, Jesus diz “cobradores de impostos [tidos como traidores e pecadores] e prostitutas vos precedem”, Ele não diz “arrependidos” e nem que “vão preceder” após algum tempo (depois de se converterem), o verbo está no presente com sentido de “agora e sempre”. Não há diferença no Pai (Deus) quando se aproxima e pede o mesmo pra ambos. Cada filho reage de modo diferente diante da vontade do Pai.
As autoridades religiosas se sentiam um grupo a parte e diferente, se sentiam superiores. Na parábola de Jesus os dois personagens convidados são colocados como iguais e não diferentes. O pedido é o mesmo, pois os filhos são iguais, mas reagem de forma diferente. Para Jesus, os chefes do povo e os pecadores são iguais, mas no agir, são diferentes.
Deus se revela sempre o mesmo e aquilo que Ele nos pede é sempre algo para o nosso bem, pois Ele mesmo não necessita de nada enquanto nós necessitamos de tudo. Não é Deus que deve se ajustar aos nossos caprichos (como desabafa Deus na 1a leitura), mas somos nós que devemos acolher o que Ele nos pede, pois é um Pai que quer sempre o melhor para os seus filhos. Por isto, Jesus é o modelo de vida para todos nós (conforme nos lembra a 2a leitura), pois procurou sempre fazer o bem, renunciando sua condição divina para nos ensinar como nós devemos viver e cumprir a vontade de Deus.