#Reflexão: 26º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 26 de setembro)
A Igreja celebra neste domingo (26) o 26º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a liturgia deste dia.
1ª Leitura – Nm 11,25-29
Salmo – Sl 18,8.10.12-13.14 (R. 8a 9b)
2ª Leitura – Tg 5,1-6
Evangelho – Mc 9,38-43.45.47-48
RADICALIDADE EM FAZER O BEM SEMPRE
Pe. Dirlei Abercio da Rosa
Presbítero da arquidiocese de Pouso Alegre,
mestre em Ciências Bíblicas (Instituto Bíblico, Roma)
e professor da Faculdade Católica de Pouso Alegre
O Evangelho deste domingo retrata os apóstolos como um grupo fechado e ciumento. João conta a Jesus que tinha encontrado alguém que não era do grupo, mas que fazia o bem expulsando demônios e que eles tentaram impedi-lo que continuasse a fazer isso. O fato demonstra que eles tinham esquematizado tudo e se sentiam detentores seja de Jesus como até de seu nome, que não poderia ser invocado por ninguém que não fosse do grupo dos apóstolos. Estavam profundamente enganados!
Tudo indica que eles queriam preservar o nome do grupo, da instituição que faziam parte (“os escolhidos de Jesus”). Nem deram valor àquilo que aquela pessoa tinha feito: alguém tinha sido curado de um mal. O doente podia ter esperado a instituição chegar e ela teria resolvido a situação. É quase como se dissessem: os doentes não são um problema nosso, primeiro as regras e as normas. Os doentes podem esperar quando as instituições puderem atender. Mas, se esqueceram que Jesus é um homem sem fronteiras e o importante são as pessoas!
Esqueceram-se de que o grande poder que Jesus estava ensinando não se encontrava na instituição que eles tinham criado, nem na posse do poder de invocar o nome de Jesus, mas no serviço à vida, fazer o bem, promover a pessoa humana. Quem ajuda o mundo a florir fazendo o bem, quem é amigo e promove a vida, esse também é dos nossos. Não podemos ser donos da salvação que nos foi doada por Cristo. A verdadeira característica do cristão deve ser o serviço ao próximo e a construção de um mundo melhor. Ademais, o Reino de Deus é muito maior do que imaginamos. Encontra-se no bem que fazemos e não nas regras que criamos.
Devem existir, certamente, pessoas que seguem Jesus e que estão muito próximas Dele, mesmo sem saber, porque fazem o bem, são caridosas e justas em tudo que fazem. Por isso, nós, que nos definimos como seguidores e discípulos de Jesus, devemos fazer o mesmo ou mais ainda que essas pessoas.
Na 1ª leitura, temos o exemplo de Moisés. Para ajudá-lo a conduzir o povo, Deus decidiu “repartir” com 70 anciãos o espírito que animava Moisés em sua liderança. Dois deles não estavam no “lugar combinado”, mas receberam do mesmo jeito a força do alto. Para alguns, o “local do encontro” era fundamental. Para Moisés, o que vale é a vontade de Deus. Bom seria que todo o povo tivesse o mesmo espírito, concluiu Moisés.
Jesus, no Evangelho, acrescenta às suas palavras uma exortação sobre o escândalo a começar dos pequenos (crianças) e os mais fracos da comunidade. Jamais devem ser induzidos ao pecado por parte daqueles que são discípulos de Jesus. A expressão usada por Jesus é forte: melhor seria desaparecer. O escândalo que corrompe inocentes é um pecado que fere profundamente a Deus, principalmente, quando feito usando o nome de Jesus.
Por isso, diante dessa possibilidade de escandalizar, Jesus exorta a uma ação radical e profunda: desenraizar e cortar tudo que produz pecado em nossa vida. Romper radicalmente com o mal. Para tanto, Jesus usa expressões radicais: “cortar a mão” (representa nossas ações); “cortar os pés” (mudar nossos caminhos) e “arrancar o olho” (desviar radicalmente nossos olhares).
Sabemos que não é a mutilação de partes do corpo que o Senhor nos pede, mas o corte decisivo e radical do mal e do pecado. Não dar a culpa pelo erro e pecado aos outros, à sociedade, à infância, às situações externas. O mal está dentro de nós: naquilo que vemos, no uso de nossas mãos, em nossos caminhos, enfim, em nossos corações. Por isso, é preciso uma mudança radical de vida e de comportamento diante daquilo (ou de pessoas) que nos arrastam para o pecado. Não é o mundo ou os outros que têm que mudar: somos nós!
Em seguida, Jesus nos dá um exemplo. A mesma mão que produz pecado deve ser usada para fazer o bem, como dar um copo d’água a alguém; usar os pés para ir ao encontro do próximo, enfim, fazer sempre o bem. As coisas grandes de Deus começam com simples ações feitas de coração e sempre procurando semear o bem. O Reino de Deus inaugurado por Jesus é muito maior que as instituições, pois começa com gestos simples e com aquilo que temos em nossas casas (como um copo d’água), no nosso dia a dia, na prática do bem.
Por isso, São Tiago chama a atenção dos cristãos de sua comunidade, dizendo que o pecado não é somente algo que atinge a Deus, mas também as injustiças sociais, os roubos, a corrupção, salários injustos, exploração… produzem riquezas malditas que não trazem nem o bem e nem a felicidade. Se o mundo pensa e vive assim, nós, que cremos em Deus e em Jesus, devemos dar o exemplo do contrário e viver do jeito que Jesus nos ensinou.
Assim, ao invés de sermos ciumentos porque existem pessoas que estão fazendo o bem em nome de Jesus, nós, que acreditamos no Senhor, devemos fazer mais e melhor ainda. Devemos ter um “espírito de competição” em fazer o bem e servir sempre o próximo. As pessoas devem nos identificar como seguidores de Jesus através do amor que vivemos, da paz que semeamos, da justiça que construímos. Ademais, sabemos muito bem, que pouco adianta sustentar e impor a nossa fé e religião aos outros se damos péssimo exemplo em relação à vivência do amor, do respeito, da caridade, da justiça e da paz. Devemos passar do hostil “quem não é conosco é contra nós” para as palavras de Jesus: “quem não é contra nós está conosco”. O mundo precisa mais de pessoas que vivam os ensinamentos de Jesus do que pessoas que briguem por causa de um grupo, de uma sigla ou de uma religião.
O grupo dos apóstolos precisava de uma profunda conversão a Jesus, pois confundiam o seguimento a Jesus com o “fazer parte do grupo”. Estar mais próximo do Mestre Jesus não deveria ser visto como um privilégio de poucos, mas como uma grande missão de conduzir muitos outros à fonte do Amor Perfeito que é Deus. Não fechar os caminhos à comunhão com Deus, mas abrir portas e construir pontes até Jesus.