#Reflexão: 28º Domingo do Tempo Comum (Ano B – 10 de outubro)

5 de outubro de 2021

A Igreja celebra neste domingo (10) o 28º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a liturgia deste dia.

1ª Leitura – Sb 7,7-11

Salmo – Sl 89,12-13.14-15.16-17 (R.Cf. 14)

2ª Leitura – Hb 4,12-13

Evangelho – Mc 10,17-30 [Forma breve: Mc 10,17-27]

Acesse aqui as leituras.

 

JESUS É O NOSSO MAIOR TESOURO E SABEDORIA

Pe. Dirlei Abercio da Rosa
Presbítero da arquidiocese de Pouso Alegre,
mestre em Ciências Bíblicas (Instituto Bíblico, Roma)
e professor da Faculdade Católica de Pouso Alegre

Jesus continua o seu caminho ensinando e oferecendo possibilidades de encontro para todas as pessoas. Todos têm acesso livre e fácil a Jesus. Neste domingo, Marcos nos conta mais sobre um encontro especial.

Não sabemos o nome da pessoa que se encontra com Jesus, a qual representa um tipo de fiel que deseja construir com Jesus um projeto de vida. Essa pessoa é exuberante de desejos, de sonhos, eufórico: corre (quer chegar primeiro), se ajoelha (gesto público de profunda veneração), não espera, já propõe o seu pedido, introduz com elogio que soou exagerado a Jesus e expõe sem rodeios seu pedido pessoal. Ele tem todos os indícios de ser um jovem.

Jesus corrige o seu elogio, orientando que não quer nada de títulos e glórias pessoais, mas somente Deus merece tudo. Ele não conhecia tudo de Jesus. Era cedo para chamá-Lo de “bom”. Um pouco daquilo que acontece quando se abraça uma fé com muita euforia. Jesus, respondendo ao seu pedido, lhe propõe um projeto simples e comum a todos: os Mandamentos de Deus. Neles, já temos todas as condições para alcançar a vida eterna. Interessante é que Nosso Senhor recorda aqueles Mandamentos voltados ao convívio com o próximo. Jesus reforça esses Preceitos, pois percebe que se trata de alguém de fé. Jesus inverte a ordem dos Mandamentos deixando “honrar os pais” por último e com uma mudança significativa, resumindo o último em “não fraudar”.

Ao retomar o diálogo, o rapaz (corrigindo-se) diz somente “mestre” e esclarece que tudo isso já realizava desde a mais tenra idade. Mas, ele sente que os Mandamentos não lhe satisfaziam completamente: havia uma ânsia profunda que os Preceitos Divinos não conseguiam preencher. Era uma pessoa com um projeto de vida “aparentemente” ideal: uma vida garantida no plano material (rico) e fiel cumpridor das leis de Deus.

Marcos nos narra a bonita atitude de Jesus: “fixou o olhar, o amou e disse-lhe”. Jesus quis expressar já com o seu olhar, o seu amor por aquela pessoa. Foi um olhar especial de alguém que quer oferecer tudo de bom. Jesus o amou dentro de si e através do olhar! Depois lhe propôs algo que nasce do mais profundo desejo de amor. O Mestre Jesus lhe apresenta um plano de vida e de liberdade. Um projeto de felicidade concentrando-se naquilo que é principal e fundamental, única coisa capaz de preencher o vazio existencial daquele rapaz.

Espanta-nos as exigências de Jesus como se isso fosse o principal. Jesus já lembrou a todos que Ele deve ser o centro de tudo. Segui-Lo como discípulo é tornar Nosso Senhor o único tesouro da vida, pois nada neste mundo pode ser maior. Ele não promete e nunca se ocupa de nos ajudar em acumular riquezas humanas, pois Ele é o nosso maior tesouro. Aquela pessoa estava encantada com a pessoa de Jesus, mas se espantou quando Ele apresentou suas prioridades. Jesus não exigiu nada para ele além daquilo que Ele mesmo já vivia (não tinha nada deste mundo), como para os discípulos. O “bom Mestre” que o rapaz mencionou no início, foi finalmente revelado.

Jesus conhecendo profundamente (através do seu olhar e o amando) lhe esclarece que uma coisa lhe falta: seguir Jesus. Mas para isso era preciso se desligar daquilo que lhe provocava o vazio existencial profundo: sua riqueza. Nosso Senhor lhe propôs: “vai” (retorna a sua realidade onde está), “vende tudo” (assim, não terá tentação de retomar o que pertence), “doa aos pobres” (assim, completa os Mandamentos citados com a caridade, doando pelo menos o mínimo àqueles que nada têm), “terás um tesouro no céu” (caridade é uma riqueza neste mundo e tesouro no céu, aquilo que nos ajuda ter sentido já nesta vida), por fim, “vem e segue-Me”. Jesus lhe propõe algo que seria a solução de sua angústia interior, a verdadeira sabedoria (1a leitura) que lhe concede o tesouro mais precioso que já garante o caminho para a eternidade, desejo expresso na primeira pergunta. A caridade era uma “riqueza” que ele não tinha, pois o que tinha era somente pra ele. O rapaz tinha tudo de que precisava neste mundo, mas sua riqueza não lhe preenchia o coração, pois lhe faltavam os pobres e Jesus.

O apego à riqueza tinha se tornado uma doença na vida daquela pessoa e nem o fiel cumprimento dos Mandamentos (como ele mesmo afirmou) lhe trazia paz interior. No final da proposta de Jesus, o rapaz descobriu que o “Bom Mestre” se revelou exigente demais para ele. Jesus não lhe propôs a pobreza, mas a verdadeira riqueza; não lhe pediu para ficar sem nada, mas para abandonar aquilo que “aparentemente” lhe dava tudo, mas que na realidade somente aumentava o seu vazio interior. Jesus lhe ofereceu um “remédio” para sua doença interior e o verdadeiro tesouro que ele deveria acumular: a caridade e se tornar seu discípulo. Tudo foi realizado com um olhar penetrante de amor e carinho, mas a resposta do rapaz foi decepcionante.

Marcos usa um verbo que significa “escurecer o tempo”: ele se foi (como Jesus no início tinha sugerido), mas se retirou triste. Tudo tinha se apagado na vida dele, pois a sua doença foi revelada. Ele preferiu permanecer no mundo em que estava sendo corroído por suas posses. Ele foi embora triste. Ao final, o “Mestre” não se mostrou tão “bom” como ele queria. Marcos acrescenta o detalhe que “ele, de fato, possuía muitos bens”.

A proposta de Jesus não espantou somente o rapaz, mas também os discípulos. Duas vezes, nos vem comunicado que eles ficaram assombrados e admirados, mas Jesus insistiu sobre o tema e para mostrar sua gravidade. Usou o exemplo do camelo passar pelo fundo de uma agulha. Somente Deus deve ser a nossa riqueza! Por Ele, devemos deixar tudo de material em segundo plano e nos concentrarmos naquilo que nos dá o verdadeiro sentido para nossa existência: o próximo por meio da caridade e do seguimento de Jesus. Pedro se lançou com sua pergunta, angustiado pelas palavras exigentes de Jesus. Quando se tem Jesus no centro da vida como opção principal, a nossa relação familiar vai além de nossos parentes, todos se tornam uma só família.

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