#Reflexão: 4º domingo da Quaresma (19 de março)

13 de março de 2023

A Igreja celebra o 4º domingo do Tempo Quaresmal neste domingo (19). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: 1Sm 16,1b.6-7.10-13a

Salmo: 22(23),1-3a.3b-4.5.6 (R. 1)
2ª Leitura: Ef 5,8-14
Evangelho: Jo 9,1-41 ou mais breve 9,1.6-9.13-17.34-38

Acesse aqui as leituras.

CURA DO CEGO DE NASCENÇA

O Evangelho deste 4º domingo da Quaresma, nos apresenta mais um encontro de Jesus, desta vez, se trata de um cego de nascença. Toda uma vida sem poder fazer nada e vivendo somente da esmola de outras pessoas; alguém desprezado por todos, pois se acreditava que tal doença era um castigo: alguém tinha pecado (ele ou seus pais), por isso ele era cego desde o nascimento. Tudo isso, revelou uma visão deturpada de Deus, que Jesus não concordou de nenhum modo. Afirmar que Deus pune por toda a vida alguém que errou, isso depunha contra o Deus da misericórdia que Jesus procurava revelar.

Tudo inicia com a observação do escritor sagrado que Jesus viu aquele que não podia enxergar. Todas as pessoas já nem notavam mais aquele homem que mendigava a beira do caminho. A cegueira era dos dois lados. Para as pessoas, o cego era somente um pecador que pedia esmolas. O homem não via nada (desde que veio ao mundo), não era visto por ninguém, mas foi enxergado por Jesus. Todos, inclusive os discípulos, tinham uma desculpa para manter o cego em seu estado de desprezo e afirmavam: “está assim, porque ele ou seus pais tinham pecado”! Dessa forma, todos estavam bem com suas consciências. Ao miserável, bastavam nossos resto e esmola, pois estava fechado na escuridão do pecado e era visto como um amaldiçoado por Deus.

Mas, Jesus é luz e quer iluminar a vida de todas as pessoas. Ele se aproximou e iniciou a cura sem ser solicitado por ninguém. A cegueira foi eliminada, mas mediante um ritual que consta de uma ação de Jesus através de sua saliva (recorda a criação de Adão, por Deus Criador) e de um gesto pessoal de fé do cego. A cura se processou quando o cego deixou tudo e foi se lavar nas águas da piscina de Siloé. Esse local era conhecido e usado por todos, mas para aquele homem desprovido da visão desde o nascimento foi um lugar transformador.

A sua fé fez com que ele acreditasse em tudo que lhe foi feito (saliva nos olhos) e lhe foi pedido (ir até a piscina). Podemos visualizar nesses gestos e palavras, a celebração do Batismo, que nos é concedido através também da Igreja e através de um ritual com gestos e palavras, mas tudo tem efeito, se efetivamente a pessoa crer realmente naquilo que recebeu.

A cura do cego não lhe trouxe alegria e nem felicidade, nem para ele e nem para as pessoas que ele conhecia. Mais uma vez, tudo aconteceu em dia de Sábado, momento especial do fiel judeu para com Deus durante a semana. Mas, os fariseus e o povo judeu não pensavam dessa forma. Para eles, a lei e as normas eram mais importantes que as pessoas, até mesmo aquelas que mais precisavam da ajuda de todos (isto é, os doentes, os pobres, os marginalizados…). O legalismo dos principais religiosos tinha tornado todos “cegos” para a realidade das pessoas. A cura do cego foi realizado por Jesus, mas aqueles homens da religião é que precisavam realmente de uma profunda cura.

Aqueles que conheciam aquele que foi curado, não acreditavam em suas palavras. Para eles, o cego já tinha uma história e um fim estabelecidos por Deus e nada poderia mudar. Ao ser perguntado pelos parentes incrédulos, o cego que tinha sido curado, fala de Jesus, como sendo “um homem” que lhe tinha pedido para fazer algo após lhe ter tocado os olhos. O cego tinha acreditado sem ver e fez tudo sem pedir provas, sendo esse o primeiro passo fundamental da fé.

O cego não conhecia Jesus, mas os fariseus sabiam bem quem Ele era. Eles tinham determinado que quem O seguisse sofreria punições. Os religiosos judeus tinham disseminado medo e terror nas pessoas por causa de Jesus. Mas, o cego era o sinal de que Cristo era capaz de fazer um grande milagre.

Para os fariseus, Jesus era pecador e eles tentaram desmentir aquele que tinha sido curado da cegueira. Fizeram pressão contra o cego na tentativa de “desmascarar” o milagre: tentaram provar que ele nunca tinha sido cego. Mas, ao perguntar àquele que tinha sido curado por Nosso Senhor, ele respondeu que “Jesus era um profeta”. Incrédulos e obcecados por seus princípios, tentaram forçar os pais daquele que fora cego a desmentir o filho. Mas, a verdade prevaleceu, não obstante ao medo que causavam os fariseus. É a luz de Deus que vence a escuridão dos corações fechados para a graça de Deus!

Bonita a coragem que o ex-cego demonstrou diante da insistência dos fariseus, de convencê-lo do seu pecado e também que Jesus era pecador. Ele enfrentou e assumiu sua experiência de encontro com Jesus. Todas as leis e princípios dos fariseus não conseguiram superar a experiência de fé que ele tinha tido.

O evangelista João, esclarece que os fariseus tinham decretado que aquele que reconhecesse Jesus como o Messias, deveria ser expulso da sinagoga. Assumir publicamente a fé, implicaria na excomunhão da religião judaica. O medo era grande, mas a verdade tinha que prevalecer.

No segundo momento de debate entre os fariseus com aquele que tinha sido curado por Cristo, sendo pressionado a negar que Jesus tinha realizado a cura, aquele que fora cego mostrou-se mais decisivo em relação a Jesus. Os fariseus apegados às leis e preceitos não conseguiam aceitar o óbvio que estava diante de seus olhos. O sujeito que tinha sido agraciado com a cura da cegueira mostrou-se muito mais decisivo em suas convicções, pois para ele a experiência pessoal com Jesus Cristo era algo muito mais forte: Jesus tinha mudado completamente sua vida. Mas para os fariseus, o cego e Jesus eram somente pecadores. Ao se posicionar clara e decisivamente a favor de Jesus, aquele que fora cego foi expulso do ambiente judaico (da sinagoga).

Após ser expulso, aconteceu um novo encontro entre Jesus e ele. Longe do ambiente da Sinagoga, aquele sujeito pode confirmar sua fé diante de Jesus (nos recorda o Sacramento da Crisma). Aquele que fora curado por Jesus tinha sido firme e decisivo, colocando em risco sua vida e assumindo até as últimas consequências, a sua fé em Jesus. Na realidade os verdadeiros cegos não são aqueles que estão desprovidos da visão, mas aqueles que estão cegos pelo legalismo e não percebem a luz de Deus na vida das pessoas.

Esse drama pessoal retrata muito bem a realidade dos cristãos algumas décadas depois do início da caminhada da Igreja, quando os judeus tinham decidido que quem professasse a fé em Jesus Cristo não poderia mais frequentar a sinagoga e seria expulso da religião judaica. Algo que acontece hoje em dia em muitos ambientes extremistas, mas também em nosso meio quando procuramos defender os valores cristãos e os ensinamentos deixados por Jesus e somos perseguidos por causa de nossa fé e de nossos princípios.

Mas, a cura do cego por parte de Jesus, revela que Deus tem seus caminhos próprios que nem sempre corresponde a nossa lógica e até a nossa visão da realidade. É fundamental estar em sintonia com Deus e descobrir o que realmente devemos fazer, pois Ele procura fazer sempre o melhor para todos nós. Na primeira leitura, observamos Deus escolhendo aquele que Ele achava o melhor, não seguindo os critérios humanos, mas segundo seus princípios e isto foi surpresa até mesmo para o profeta. Davi, mesmo tendo uma aparência frágil e ainda uma criança, Deus sabia que ele seria capaz de cumprir sua missão até o fim. Deus não tem que se moldar aos nossos critérios e preceitos, mas nós é que temos que perceber o que Ele pretende para cada um de nós. A 2ª leitura nos diz que não basta reconhecer e aceitar Jesus como Luz do Mundo, mas é fundamental que cada um se torne também Luz na vida de outras pessoas.

No mundo de hoje existem muitas cegueiras que impedem realmente de ver a riqueza que Deus tem para nós, mas é fundamental se deixar tocar por suas palavras e cumprir o que nos pede, mesmo que isto signifique romper com muitos preconceitos e ideologias pessoais. O amor de Deus é a verdadeira luz que precisamos em nossas vidas!

Faça o download da reflexão em pdf.