#Reflexão: 4º Domingo do Tempo Comum (30 de janeiro)

24 de janeiro de 2022

A Igreja, neste domingo (30), celebra o 4º Domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

1ª Leitura – Jr 1,4-5.17-19

Salmo – Sl 70,1-2.3-4a.5-6ab.15ab.17 (R.15ab)

2ª Leitura – 1Cor 12,31-13,13

Evangelho – Lc 4,21-30

Acesse aqui as leituras.

O PROFETA NÃO É BEM-VINDO EM SUA PÁTRIA

Domingo passado, ouvimos, no Evangelho de Lucas, o momento em que Jesus decide proclamar na sinagoga de sua cidade que as promessas contidas no livro de Isaías estavam se cumprindo com Ele. Jesus é a realização de tudo que foi anunciado. Porém, Ele o faz ao seu modo e segundo a vontade de Deus. O início do Evangelho de hoje retoma o final do Evangelho. Naquele tempo, como era do costume, quem lia a Escritura também dizia algumas palavras conforme os ensinamentos dos rabinos. Entretanto, Jesus não fez isso.

Ele inicia afirmando que “Hoje se cumpriu esta Escritura”. É muito expressivo e significativo o termo “hoje”, que trata do “momento do encontro” com Deus que se revela e se deixa tocar por todos. Jesus leu uma sequência de sinais no texto de Isaías que, segundo Ele, estavam já acontecendo (hoje) no meio do povo. Lucas relata o sentimento inicial de “espanto pelas maravilhas” que todos na sinagoga já tinham conhecimento, mas principalmente por suas “palavras de graça”.

A fama de Jesus já chegara a Nazaré, pois, antes, Nosso Senhor fizera alguns milagres em Cafarnaum e os seus ouvintes esperavam que tudo se repetisse também naquela cidade (Nazaré) e naquele lugar (sinagoga). A admiração em relação a Jesus se tornou maior quando identificam que aquele pregador era “Filho de José”. Tudo parecia estar caminhando bem na sinagoga de Nazaré. Jesus já era conhecido como alguém que realizava milagres e pertencente a uma família da cidade, cujo pai era praticante das leis e dos bons costumes.

Jesus se antecipa àquilo que, certamente, iriam Lhe pedir: fazer os mesmos milagres que Ele realizara em Cafarnaum. Porém, Jesus critica e condena o modo de todos avaliarem quem Ele era.

Para mostrar o risco de prender fé a sinais, Jesus cita dois exemplos do passado do povo de Deus. De um lado, dois profetas, Elias e Eliseu; do outro, dois personagens que não eram entre os melhores representantes de pessoas justas e observantes da lei. A mulher que acolhe Elias era viúva (havia grandes preconceitos e inúmeras dificuldades para uma mulher nessas condições), não obstante, a pobreza em que se encontrava, a fome, pois vivia sozinha com seu filho. A viúva acreditou nas palavras do profeta. O sírio Naamã era pagão e, ainda por cima, estava com lepra, mas acreditou, após refutar no início, nas palavras do profeta. Jesus sentia que todos queriam ver sinais e sabia que a familiaridade que todos nutriam por Ele poderia ser um obstáculo.

Após Jesus se recusar a fazer tudo conforme os conterrâneos da sinagoga de Nazaré esperavam, são Lucas nos informa que todos se encheram de cólera, após as palavras de Cristo. Jesus não estava interessado em se promover ou se tornar conhecido como alguém com poderes e um grande milagreiro, mas em anunciar a realização das promessas de Deus, as quais vão muito além da realização de curas e milagres. Não faltava “poder” em Jesus, mas “fé” nos seus ouvintes. Eles não queriam “ouvir”, mas “ver” sinais.

Era ainda um grande problema para muitos que afirmavam acreditar em Jesus. São ansiosos por sinais e milagres e não querem ouvir suas palavras e colocar em prática seus ensinamentos. É fundamental lembrar que naquela sinagoga estavam de pessoas religiosas, familiarizadas com muitos sinais de Deus em suas vidas (Palavra de Deus, oração, sinagoga…), mas que, no fundo, estavam fechadas à graça de Deus.

Jesus quer, hoje e sempre, renovar seu amor por nós e nos ensinar e nos orientar o que devemos fazer. Como na sinagoga de Nazaré, muitos não concordam com aquilo que Deus quer nos falar, pois estão somente interessados em dizer o que Deus precisa fazer e realizar em suas vidas.

A rejeição de todos que se diziam religiosos é clara: se levantaram, arrastaram Jesus para fora da cidade com intenção de matá-lo, jogando-O em um precipício (forçando-O a se manifestar). Mais do que dar propriamente um fim em Jesus, queriam intimidá-Lo e ameaçá-Lo a se manifestar ou se arrepender de tudo que dissera.

Na primeira leitura, ouvimos um trecho do profeta Jeremias que recorda a sua vocação. Esse profeta era alguém especial, escolhido por Deus para ser proclamador de sua palavra. Deus prometeu torná-lo uma “coluna de ferro e um muro de bronze”. O profeta não era enviado sozinho jamais! Ele tinha Deus sempre consigo, principalmente nas palavras que procura anunciar. Todos os profetas tiveram momentos difíceis, pois quase sempre tudo que anunciam não estava conforme a vontade das pessoas.

Lucas, no Evangelho, diz que, após terem levado Jesus até a beira do penhasco, Ele simplesmente passou no meio deles e continuou seu caminho. Ele estava confiante e seguro, ancorado em Deus. Mesmo diante de tantas ameaças e intimidações, Jesus não mudou de ideia e nem de comportamento.

Não podemos nos esquecer que, muito mais importante do que nossos esquemas pessoais de fé e até a nossa ideia sobre Jesus, devemos estar atentos em ouvi-Lo, pois sua Palavra é de vida eterna. A comunidade de Corinto estava se perdendo em meio a tantos dons e carismas, conforme ouvimos na segunda leitura. Ela estava se tornando um pouco como a sinagoga de Nazaré: cheia de pessoas religiosas, mas cada um com sua ideia pessoal sobre dons e manifestações. Paulo, com um hino lindíssimo sobre o amor, exorta sua comunidade a jamais se esquecer de que tudo deve ser realizado tendo como base a verdadeira Caridade, que tem sua origem em Deus. O modo como é descrita a caridade nada mais é que o próprio modo de Deus nos amar. O mais importante não são os dons mesmos. Porém, por meio deles, cada um é chamado a manifestar o amor de Deus.

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