#Reflexão: 6º domingo da Páscoa (14 de maio)
A Igreja celebra o 6º Domingo do Tempo Pascal, neste domingo (14). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: At 8,5-8.14-17
Salmo: 65(66),1-3a.4-5.6-7a.16.20 (R. 1-2a)
2ª Leitura: 1Pd 3,15-18
Evangelho: Jo 14,15-21
AMAR É PRATICAR O PRÓPRIO AMOR
O Evangelho de João deste domingo – como de domingo passado – nos coloca junto de Jesus e aos discípulos durante a Última Ceia. Ele já tinha se colocado aos pés dos discípulos no gesto que surpreendeu a todos, então, quis deixar no coração de todos, palavras profundas que pudessem aliviar a profunda experiência da morte em Cruz. É um discurso de adeus, mas ao mesmo tempo de consolação, pois se separaria dos seus discípulos para que todos pudessem receber a força de Deus no Espírito Santo. Jesus quis preparar seus discípulos antes de demonstrar o que é o amor de Deus.
As primeiras palavras de Jesus foram apresentadas não como uma imposição ou obrigação, mas como um convite: “Se me amais…”. Mesmo falando aos seus discípulos, Jesus não ordena e nem ameaça seus seguidores, mas expressa tudo com humildade e simplicidade. O amor depende como cada um faz vibrar em si aquilo que é doado sem ameaças. Quando se ama Jesus profundamente, o discípulo se transforma em outra pessoa: se torna o próprio Mestre nas ações; braços de Jesus que continuam amando, acolhendo e perdoando. O discípulo se torna olhar do próprio Mestre que continua semeando amor neste mundo.
É a primeira vez que em João, Jesus convida os seus a amá-Lo. Em outras ocasiões, o convite sempre foi para que o amor fosse vivido em relação ao próximo, como condição de serem discípulos Dele. O amor é algo que deve ser expressão plena da liberdade: se escolhe amar e não se obriga!
O Bom Mestre Jesus dá a dica de como devemos expressar o nosso amor para com Ele: observando os seus mandamentos, não por obrigação, mas por força interior; pois assim, cada um terá a energia para agir como o próprio Jesus. Devemos lembrar que em nenhum momento, Jesus ditou uma “nova legislação”, cancelando as Leis de Moisés, mas insiste (duas vezes) que o “modo” de viver é algo novo, por isso, Ele afirma ser “meus Mandamentos”: é o Mandamento do Amor de sempre vivido de diversos modos.
Jesus procurou aprofundar aqueles princípios que para Ele são fundamentais e conhecidos pelos discípulos, mas sufocados pela religião da época. Era uma religião que insistia somente nas práticas das leis e costumes, sem se importar nem com o amor a Deus e muito menos pelo amor ao próximo. Por outro lado, os mandamentos de Jesus não são também princípios que cada um vive do seu jeito e modo. O mandamento principal, nós conhecemos: “Amar o próximo!” Mas o modo de viver e praticar esta norma fundamental do discipulado de Jesus, que nós encontramos somente no próprio modo de vida de Jesus.
Assim, o amor para com Jesus é condição para poder cumprir os seus mandamentos, da mesma forma que cumpri-los será prova do amor para com Ele. Quem não ama a Jesus não consegue amar aos outros. E quem não ama os outros não ama Jesus. No amor, o cristão assume um rosto divino e Deus assume um rosto humano. O amor não tem obrigação, mas gratuidade; nem intimidação, mas oferta generosa; não convence com constrangimento, mas na doação contagiante que encanta quem escuta e vê, como Felipe na primeira leitura.
Todo ensinamento de Jesus aos discípulos possui uma intensidade de comunhão. Ele permanece sempre conosco, quando vivemos intensamente o amor. Diz Jesus que jamais nos deixará órfãos.
É impossível amar a Deus sem pagar o preço da transformação do próprio coração. Amar a Deus é se moldar ao amor perfeito e generoso daquele que pode tudo, mas prefere esperar a nossa resposta e a nossa aceitação. Quando se ama ao modo divino ensinado por Jesus, cada pessoa torna-se face de Deus para o próximo. O amor é luz que nos ilumina, e assim, nós nos transformamos em luz para os outros.
O Amor Perfeito de Jesus com o Pai produz outro grande dom para aquele que faz a mesma estrada da vivência do amor: Dom do Espírito Santo. Ele é fruto da prece e da intercessão de Jesus. É dom que expressa a maior profundidade do amor do Pai e do Filho.
Jesus chama o Espírito Santo de “outro paráclito”. A palavra paráclito significa “aquele que está do lado”, “defensor”, “auxiliar” e era usado para descrever alguém que hoje chamamos de advogado em uma situação difícil. É “outro”, pois todos já conhecem Jesus como o primeiro defensor que temos diante do Pai.
Como Jesus, o “novo Paráclito” não se identifica com nada neste mundo, pois é revelação e dom do alto. É gratuito e dado como expressão do amor para quem ama; como dom para quem se doa. São atitudes e modos de amar que o mundo não conhece. E Jesus confirma e nos garante que o Espírito Santo permanecerá sempre conosco. O amor não deixa ninguém sozinho, mas une profundamente as pessoas. A prática do amor de Deus (“meus mandamentos”) nos une a Deus de tal forma que não poderá nos separar e jamais estaremos sozinhos (“órfãos”). Jesus não deixará os seus indefesos, pois Ele virá até eles.
Amar a Jesus é possuir uma visão das coisas com os olhos do céu. O amor transforma nosso modo de ver de tal forma que enxergamos não as coisas ocultas, mas a verdadeira profundidade e o sentido de tudo ao nosso redor. O amor nos faz descobrir o próximo como presente de Deus!
Jesus anuncia a sua partida da visão dos discípulos, mas permanecerá sempre com os seus, em todos os tempos e lugares. Os olhos não mais o verão como uma pessoa, mas Jesus poderá ser visto no rosto daquele que ama e é amado. Cada irmão e irmã se torna presença de Deus neste mundo: é a força do amor!
Mas, Cristo alerta que a condição para continuar “vendo” a Ele é viver e praticar os seus mandamentos. Porém, é fundamental que cada um viva o amor como Ele mesmo viveu. Assim, o Amor verdadeiro é muito mais que um sentimento ou algo misturado com desejos e até mesmo pecados e vícios. Amor é total doação, ao extremo e sem querer nada em troca; é algo que se esvazia completamente para que o outro tenha vida e dignidade. Por isso, o Amor Verdadeiro de Jesus é tão exigente e desafiante para um mundo que procura ensinar que o principal para cada um é o que satisfaz seus desejos pessoais.
Em todo o discurso de Jesus, destaca-se sempre o anúncio a uma comunidade (“vós”). O amor não é algo voltado para si, para alimentar sentimentos e interesses pessoais, mas é voltado para o próximo como lugar para se experimentar o próprio amor de Deus. Amar como Jesus amou é ser a comunidade que Ele desejou para este mundo: pessoas como sinais e presença de Deus no mundo. A experiência religiosa deixa de ser em um lugar, para existir nas pessoas; não algo reduzido a um tempo ou um momento, mas em todas as pessoas que encontrarmos.
O amor, dessa forma, consiste em viver os mesmos valores e comportar-se como Jesus procurou ensinar aos discípulos em cada encontro com as diversas pessoas que Ele perdoou, curou e amou. O amor verdadeiro não é somente interior, mas visível em gestos e palavras. Amar – segundo Jesus – não é só um “sentimento”, mas uma prática de vida na caridade e na misericórdia.
Na 2ª leitura, São Pedro em sua primeira carta nos alerta que devemos dar razão de nossa esperança. Que ela seja clara e vibrante em nossa vida. No entanto, não devemos impor, mas propor a nossa fé. Pedro nos diz que devemos fazer com mansidão, respeito e com boa consciência. São Pedro ainda conclui que é melhor sofrer devido ao bem realizado (como Jesus) do que sofrer pelo mal ou o pecado cometido. O bem e o amor nos dão razão quando somos injustiçados. O mal nos torna iguais àqueles que somente merecem a condenação e o castigo por parte dos homens.