#Reflexão: 6º domingo do Tempo Comum (11 de fevereiro)

7 de fevereiro de 2024

A Igreja celebra o 6º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (11). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Lv 13,1-2.44-46
Salmo: 131(32),1-2.5.11 (R. 7)
2ª Leitura: 1Cor 10,31-11,1
Evangelho: Mc 1,40-45

Acesse aqui as leituras.

JESUS CURA PARA A MISSÃO

            A primeira leitura (livro do Levítico) e o Evangelho retratam o drama e o sofrimento de uma triste doença: a lepra. Quem possuía esta doença era considerado um “morto vivo”, o mau cheiro afastava as pessoas e a aparência com suas deformações tornava a pessoa irreconhecível. Um doente leproso era considerado um impuro e além da distância de todos os familiares e da comunidade, ele não podia também participar de nenhum ato religioso. A maioria das doenças era vista como um sinal de que a pessoa tinha pecado (ou ela ou seus pais), por isso, Deus estava castigando com a doença. A lepra era a pior de todas as doenças. No texto lido do Levítico, o leproso tinha que gritar a todos que era leproso para advertir e ninguém se aproximar dele e assim, não se contaminar (com a doença e com a sua impureza). Vivendo longe de todos (familiares e comunidade), normalmente, se reuniam em lugares distantes, simplesmente, esperando a morte ou um milagre.

Domingo passado, o Evangelho terminou com uma determinação de Jesus: ir para outros lugares, pois veio para pregar a Boa Nova. Ficar naquele lugar (casa de Pedro) e realizar mais curas e milagres iria engrandecer Jesus com um grande milagreiro, mas Jesus veio para todos e, principalmente, para ensinar e mostrar o rosto bonito de Deus da misericórdia. Assim, Ele se põe a caminho dando oportunidade para outros se encontrarem com Ele. E assim, aconteceu: um leproso o encontrou, em uma estrada e longe de todos.

Foi a oportunidade encontrada pelo doente que, por causa da lepra, deveria ficar distante de todos. Ele é quem toma a iniciativa de se aproximar de Jesus e se joga aos seus pés (gesto comum em Marcos). Reconhecendo-O como alguém especial Lhe faz uma súplica que traduz a profundidade de sua fé em Cristo. O enfermo, certamente, nunca tinha visto Jesus antes e nem qualquer coisa feita por Ele, mas certamente as notícias sobre Jesus tinham chegado até ele (Mc 1,28). Tudo o que o leproso tinha ouvido foi suficiente para que ele acreditasse em Cristo Jesus. Isto já era um ensaio daquilo que a Igreja de Cristo deveria oferecer a todos: anunciar Jesus e a sua mensagem, sem Ele estar visível e presente.

O leproso não questiona quem é Jesus e nem seu poder, mas Lhe faz uma súplica voltada para sua vontade: “Se queres…” Marcos nos diz que Jesus encheu-se de compaixão por aquele homem abandonado por todos. O leproso, que era obrigado a ter uma veste que lhe cobria até os lábios superiores (Lv 13,46), clama solicitando a vontade de Jesus. Seu pedido foi profundo e sincero. Primeiro, Jesus é tocado com as palavras daquele homem que clama e pede compaixão; depois, Ele mesmo tocará o leproso.

A lepra tinha imposto sérias limitações àquele homem, mas não lhe bloqueou a sua fé. Todas as pessoas, seguindo os preceitos da religião da época, tinham abandonado aquele homem, mas não Deus. A religião da época tinha colocado mais obstáculos entre Deus e os homens do que caminhos de comunhão e salvação. Jesus, no entanto, está acima de tudo e de todos.

O leproso não pede a cura para sua doença, mas que ele fosse purificado. Este pedido estava carregado da mentalidade religiosa da época pregada pelos sacerdotes. Ele pede uma purificação de seus pecados, pois lhe tinham sido dito que as doenças (principalmente a lepra) eram uma forma de castigo de Deus. Pior ainda! Sendo pecador, Deus também lhe tinha abandonado. Assim, ele se aproxima de Jesus carregado com um sentimento de culpa, abandonado por todos e se sentindo um grande pecador.

Marcos aprecia contar os dramas humanos e também os profundos gestos de seus personagens. Assim, nos diz que Jesus encheu-se de compaixão. O sentimento é de alguém profundamente comovido pelos problemas do próximo. Mas, a compaixão não se limita ao simples sentimento de dó. Jesus se aproxima e “estende a mão”, tal gesto no Antigo Testamento era sempre de punição de Deus, em Jesus o gesto é de reerguimento e afeto; “toca o leproso” isto antes de curá-lo. Os mesmos gestos, Jesus operou na casa de Pedro antes de curar a sogra doente. É um grande sinal de que Deus está próximo, estende a sua mão para nos reerguer quando ainda estamos com as nossas doenças e feridas.

Na época de Jesus, a religião dizia que se aproximar e tocar um doente com lepra, a pessoa se tornava impura também. Por isto, Jesus – rompendo todos os preconceitos religiosos – toca o leproso. Nosso Senhor poderia realizar uma cura à distância, com uma palavra de comando, mas quis fazer mais do que isto. Ao tocar o enfermo, não foi ele que O “contaminou” com a sua doença, mas foi o leproso que recebeu as graças de Jesus. Em Marcos, toda vez que Jesus se comove com alguém, Ele toca a pessoa. A pergunta feita a Jesus pelo leproso era: “Se queres…”. Cristo cura não com decretos, mas com toques e com sua compaixão.

É o exemplo concreto do que significa compaixão e misericórdia: ir além do comum, superar aquilo que as leis proclamam, romper com tudo que discrimina e mata as pessoas. Jesus ao tocar aquele homem condenado em vida quis não somente curá-lo, mas demonstrar que a Misericórdia de Deus está acima de todos os preconceitos. Não obstante o rompimento com as leis de purificação da época (se aproximar e tocar um leproso), Jesus pede que o processo todo termine com o testemunho diante dos sacerdotes, isto é, o leproso deveria passar pela confirmação daqueles que tinham o poder de oficialmente admiti-lo na sociedade. Essas pessoas é que deveriam dar o testemunho de que o doente tinha sido curado.

Quase sempre quando Jesus realiza uma cura, a pessoa curada realiza algo (uma missão). A sogra de Pedro, pôs-se a servir a todos da casa. Ao leproso curado, Jesus lhe deu uma missão que era de se apresentar aos sacerdotes e eles é que deveriam não somente confirmar a cura, mas também testemunhar que tudo tinha sido feito por Jesus. Marcos nos diz que Jesus “mandou-o embora e lhe disse severamente”. A atitude de Jesus, certamente, estava ligada a mentalidade religiosa de impureza e pecado ligada a doença, era necessário que o curado da lepra “saísse desta ideia”, abandonasse este pensamento e anunciasse como testemunho àqueles religiosos sacerdotes que não é assim que Deus vê as pessoas doentes.

Mas, o leproso curado desobedeceu ao que Jesus lhe tinha ordenado e fez o contrário: comenta com todos o que tinha acontecido. É interessante este fato: Jesus não aproveita da cura para fazer publicidade de sua missão (como aconselha Paulo na segunda leitura), pede exatamente o contrário, que o leproso curado ficasse quieto. Por que isto? Havia uma preocupação por parte de Jesus de passar a ser conhecido somente como um grande curandeiro ou milagreiro. Nosso Senhor curou alguns, mas salvou a todos. Ele sabia que se a sua missão fosse tomada somente como alguém que é capaz de trazer benefícios físicos e materiais, tudo estaria comprometido e com sérios riscos de terminar no fracasso.

Sua principal missão ia além das curas e dos milagres: Ele veio para pregar e anunciar o Evangelho a todos (cf. Mc 1,38). Uma religião que gira em torno de curas e milagres corre o risco de permanecer vazia. Jesus enfatiza sempre que sua Palavra deve curar o coração e mudar a vida da pessoa. As curas devem levar as pessoas a se colocarem ao serviço de Deus e dos irmãos e irmãs (como a sogra de Pedro no domingo passado).

A ação do leproso curado trouxe um transtorno na missão de Jesus, pois “Ele não podia entrar publicamente numa cidade”, a fama de Jesus como alguém capaz de curar tudo, tinha se espalhado. Jesus não podia ir ao encontro, mas as pessoas podiam buscá-Lo nos lugares desérticos. O leproso viveu todo o seu tempo de doença escondidos de todos, agora está reinserido na sociedade, enquanto Jesus passou a “ficar fora em lugares desérticos”.

Ainda hoje se cultiva muito um Deus da cura, dos milagres, do poder, da vitória, da batalha… A fé pedida por Jesus para que tudo aconteça é chamada a ser pública, testemunhada na comunidade e no mundo, que leva a pessoa ao serviço e à partilha dos dons e não somente algo pessoal, exclusivo e quase egoísta.

Faça o download da reflexão em pdf.