#Reflexão: 7º Domingo do Tempo Comum (20 de fevereiro)

16 de fevereiro de 2022

A Igreja, neste domingo (20), celebra o 7º Domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

1ª Leitura – 1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23

Salmo – Sl 102,1-2.3-4.8.10.12-13 (R.8a)

2ª Leitura – 1Cor 15,45-49

Evangelho – Lc 6,27-38

SEDE MISERICORDIOSOS COMO DEUS PAI É MISERICORDIOSO

A passagem do Evangelho de Lucas traz o ensinamento mais genuíno e que mais identifica a vida de Jesus. Ele não ensinou somente isso aos seus discípulos. Ele viveu essas palavras. Domingo passado, Jesus propôs o exigente ensinamento das bem-aventuranças. Hoje, Jesus continua instruindo seus discípulos. 

No domingo passado, Lucas nos informou que Jesus reuniu os discípulos e lhes comunicou as bem-aventuranças. Não eram palavras dirigidas à multidão, mas àqueles que decidiram seguir os passos de Jesus. Por isso, eram bem-aventurados. No Evangelho de hoje, Jesus explicou o que os discípulos deveriam colocar em prática quando passassem por perseguições e ódio de pessoas que não aceitavam o Deus da Misericórdia pregado e ensinado por Ele. 

Jesus, já no início com os discípulos, definiu sua estrada, que todos deveriam seguir não para combater opositores e destruir concorrentes, mas para semear o verdadeiro rosto de Deus que é da misericórdia. Encabeçou seu ensinamento com o desafio mais difícil que era enfrentar não as pessoas, mas o que destruía o ser humano: o ódio. Apresentou imediatamente o principal, não porque as coisas eram assim, mas para mudá-las. 

A “sabedoria” humana contestava Jesus: amar os inimigos é impossível. Jesus contestou o pensamento comum: amai-vos, senão vocês vão se destruir. A noite não se derrotaria com as trevas. O ódio não se combateria com outro ódio. No fundo, Jesus queria eliminar o próprio conceito de “inimigo”. 

Jesus iniciou com quatro verbos que ilustravam as principais ações que o discípulo deveria colocar em prática. A primeira e a principal era reagir sempre com amor. Nosso Senhor não pediu para “suportar”, “tolerar”, “respeitar”, mas sim “amar os inimigos”. Diante daquele que se colocava como inimigo, o discípulo de Jesus teria que diferir e reagir de forma contrária: com o amor.  

Na mesma linha, Jesus insistiu que, diante do ódio, seria necessário continuar fazendo o bem sempre. Se houvesse alguém que maldissesse e amaldiçoasse, ao invés de também agir do mesmo modo, o discípulo de Jesus deveria “bendizer” (= dizer boas coisas). Jesus tinha razão e insistiu que a melhor forma de combater a escuridão presente no coração daqueles que se colocavam como inimigos seria responder com a luz do amor. 

Se alguém o(a) agredisse (dar uma bofetada), ofereceria algo diferente do que se esperava: a outra face. Essa é a forma de romper com o ódio que vem do outro e que não faz eco em nós. Oferecer o outro lado ao invés do ódio desarma aquele que se aproxima como inimigo. É um sinal de que o discípulo não está armado e não precisa se defender de nada. Jesus ensinou que seria necessário oferecer a “outra face”, senão venceria sempre o mais forte, quem poderia agredir mais, o mais violento e cruel.  

O discípulo que Jesus desejava era aquele que iria além, que não seria apegado. Tudo que ele possuísse estaria a serviço. Se alguém quisesse arrancar aquilo que possuísse (“o manto”, que ficava sobre a túnica), deveria ir além: dar mais do que isso, dar também a túnica (roupa). O mesmo se deveria fazer para aquele que pedisse gentilmente o que se possuísse: dar mais, ir além do normal, caminhar além do pedido.

O princípio fundamental na vida do discípulo não era o que os outros faziam, mas aquilo que Jesus fazia. Não se deveria reagir na mesma medida que o próximo, mas conforme o Mestre Jesus. O bem que desejamos para nós mesmos é o que deve reger a nossa vida em relação ao próximo, mesmo que esse se coloque como inimigo. Ademais, alguém se torna inimigo somente quando é considerado como um rival. O desafio é romper com a regra da reciprocidade negativa: o que o outro me faz, eu faço na mesma medida para ele (a lei antiga: “olho por olho, dente por dente”). Jesus propôs o contrário: independentemente do que o outro fizer, responder sempre com amor, um amor que fosse além, que surpreendesse e desarmasse até o mais profundo sentimento de ódio. 

O modelo de vida do discípulo desapegado das coisas do mundo é seguir sempre Jesus, principalmente no trato com as pessoas que se apresentam com ódio. Jesus alertou que fazer o bem e amar o próximo somente àqueles que estão ao nosso lado não tem nenhuma novidade. Os maus também amam aqueles que são iguais a eles; os violentos têm bons sentimentos para com os outros que são iguais a ele.  

Jesus insistiu uma segunda vez com “amai os vossos inimigos”: fazer sempre o bem, inclusive compartilhando o que se possui, e não sendo apegado às coisas deste mundo. Por fim, o Mestre Jesus lembrou ser assim que o discípulo receberia uma grande recompensa, não das pessoas ou deste mundo, mas de Deus, pois eram “filhos do Altíssimo”. Isso era como Deus Pai que é bom também para os ingratos e os maus. 

A generosidade sempre marcou a vida de Jesus: dar o que se tem com alegria e sempre querendo o bem do próximo, até mesmo daquele que escolher ser seu inimigo. Esse é o rosto do Deus da misericórdia. Devemos ser como Ele. No mundo, quase sempre, impera o ódio entre as pessoas. Diante disso, os discípulos de Jesus devem resplandecer o rosto misericordioso de Deus Pai. Quem faz a experiência do amor e da misericórdia de Deus Pai não deve se sentir no direito de julgar, condenar e fazer mal ao próximo, pois Deus é muito mais justo que todos, como também é sempre misericordioso. Essa será a medida que Deus usará para nos medir: será conforme a misericórdia que cada um vive em relação ao próximo. 

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