#Reflexão: Festa da Sagrada Família (26 de dezembro)

20 de dezembro de 2021

A Igreja, neste domingo (26), celebra a Festa da Sagrada Família. Reflita e reze com a sua liturgia.

1ª Leitura – Eclo 3,3-7.14-17a (Leitura opcional: 1Sm 1,20-22.24-28)

Salmo – Sl 127,1-2.3.4-5 (R. Cf 1)

2ª Leitura – Cl 3,12-21 (Leitura opcional: 1Jo 3,1-2.21-24)

Evangelho – Lc 2,41-52

Acesse aqui as leituras.

 

GUARDAR AS COISAS DE DEUS

Com o nascimento do filho, o casal torna-se uma família. A Igreja celebra, após o Natal do Senhor, a festa da Sagrada Família: José, Maria e Jesus. Essa instituição mais que humana é divina, desejada e abençoada por Deus para todos os seus filhos e filhas. É o tesouro especial de Deus, que, na família e por meio dos pais e filhos, distribui suas graças e o seu amor. Ao decidir iniciar seu projeto de salvação da humanidade, Deus o iniciou, de fato, a partir de uma família. No Natal, não vemos nada de grande, poderoso, material, riqueza e esplendor. Quando Jesus nasceu, vemos o que há de mais especial para a humanidade: uma família.

A família de Nazaré reflete toda a grandiosidade do amor de Deus e traz consigo toda realidade humana: a grandeza dos pais e os sofrimentos e desafios pelos quais uma família passa para cumprir sua missão. A encarnação do Verbo não isentou os pais do Menino Jesus das dificuldades e até das tragédias que, desde o início, eles passaram. Deus não nos preserva dos desafios ao longo de nossa vida, mas se faz mais presente ainda quando nos encontramos mergulhados nos sofrimentos e nas dificuldades, como foi com a família de José, Maria e Jesus.

O texto de Eclesiástico (ou Sirácida) retrata bem a grande importância que a família possuía para o povo de Deus. Ela não era vista como uma instituição social ou meramente convencional, ou ainda como resultado somente da vontade ou modalidade humana. Era vista como uma instituição preciosa. Por meio da família e nela mesma, são cultivados os valores mais sublimes e fundamentais: valores humanos, mas principalmente os divinos. A Igreja chama corretamente a família de “Instituição Divina”, muito mais do que algo conforme a conveniência e os desejos humanos.

Segundo o escritor sagrado, a relação interna entre pais e filhos é a melhor experiência que alguém pode fazer do amor, da misericórdia, da caridade, da compreensão, enfim, de tudo que é fundamental para a felicidade de uma pessoa. A primeira experiência de Deus que alguém faz é por meio de seus pais com o dom da vida, expressão do dom maior da criação de Deus. Deus criou tudo e o mantém. Cada casal, ao conceber um filho, participa e dá prosseguimento à obra da criação. Dando à luz um ser, o casal manifesta o seu amor e reflete, ao mesmo tempo, os sinais exclusivos da imagem e semelhança de Deus. Os filhos e filhas de seus pais são, ao mesmo tempo e proporção, filhos e filhas de Deus Pai criador.

O povo de Deus sabia e cultivava essa importância como fundamental e sacra: Deus Pai abençoa os filhos por meio de seus pais e vice-versa. Honrar os pais já é cumular tesouros na vida. O(a) filho(a) tem, com isso, uma bênção que se prolonga e prospera por toda vida. Ela se manifesta como riqueza, que não se confunde com dinheiro, ouro ou qualquer coisa material que expressa valor. É um tesouro que enriquece a existência humana.

Dentro de um lar, os pais exercitam o máximo daquilo que significa amor, perdão, caridade, ternura: valores que os filhos recebem e, progressivamente, são convidados a partilhar, começando internamente em suas famílias e, depois, no mundo. A família é a primeira e a principal escola que forma o ser humano. E, na mesma proporção que os pais doam tudo que possuem para seus filhos, eles são convidados a fazer o mesmo com os seus pais. Os papéis se invertem. Antes, os pais faziam tudo e os filhos somente recebiam. No final da vida dos pais, há um momento de inversão: os filhos devem oferecer tudo para eles.

É incompreensível na relação humana que o processo seja realizado somente de um lado: somente por parte dos pais. Por isso, temos os conselhos do autor sagrado que lembra aos filhos a missão que, um dia, os pais tiveram em relação a eles: os filhos devem retribuir aos seus pais o que receberam, na mesma proporção, para que continuem recebendo as graças do Criador. Filhos que desprezam ou simplesmente esquecem de seus pais interrompem o canal de bênçãos instituído por Deus. O abandono dos pais pelos filhos constitui um abandono das graças de Deus. Por mais difícil que tenha sido a relação entre os pais e os filhos, algo mínimo, pelo menos, deve haver entre eles na velhice, pois somente o amor é capaz de cancelar todo sofrimento e apagar qualquer amargura que traz dor para as pessoas.

No Evangelho, temos não um retrato de uma família isenta de dificuldades e problemas, mas quase a mesma realidade de tantas famílias. O nascimento de Jesus, promessa de salvação para a humanidade, não aconteceu em uma realidade de fantasia, mas no concreto da vida humana. Igual a tantas outras, a Sagrada Família também enfrentou desafios desde sua constituição, que prosseguiram com o nascimento do Menino Deus e não se encerraram, senão com a cruz de Jesus. Naquele casal, agraciado com o nascimento de um filho, há uma vida que externamente reflete o normal da existência humana e algo mais profundo e significativo.

Nada foi fácil para a Sagrada Família: seja para entender como para cumprir a vontade divina. Deus Pai poderia isentar seu Filho Jesus (como a seus pais) de toda amargura e sofrimento. Porém, se assim o fizesse, Deus deixaria de ser Encarnado na realidade humana. O Natal reflete a realidade de muitas famílias que passam por privações, perseguições e perigo de morte. Com o nascimento de Seu Filho, Deus Pai quis também nos ensinar um caminho de amor, doação e esperança, um caminho para todas as famílias do mundo.

Na Sagrada Família, tudo sempre foi conturbado no aspecto humano, porém, em meio a tudo isso, Deus foi se revelando e o casal Maria e José, aprendendo a responder à vontade divina. O casamento deles quase não se concretizou por parte de José. O matrimônio entre eles aconteceu fora da normalidade costumeira, tendo um filho que não era do marido; o nascimento do filho, na realidade, foi em um ambiente mais simples que se poderia imaginar; depois do nascimento da criança, o casal teve que fugir e se esconder… Eles correram diversos riscos… Quantas dificuldades e desafios cercaram a vida daquele casal e, depois, com o nascimento do filho, daquela Família. Entretanto, em tudo isso, percebemos a receita para todas as famílias: estar atento ao auxílio de Deus Pai.

Cada família, na terra, é também família de Deus. Pais, mães, filhas e filhos fazem parte da família de Deus. Todos passam por desafios ao longo da vida. Entretanto, a vida de todos se torna mais difícil quando se esquece de ouvir e obedecer a Deus Pai. Honrar os pais deve ser expressão concreta de “Honrar a Deus Pai”. Amar os pais deve ser a prática maior do amor a Deus Pai.

Mateus, no Evangelho, retrata a difícil missão de José, que assumiu um menino que não era seu, casou-se com Maria já grávida e conseguiu perceber que, em meio a tantos desafios e questões nada normais para sua vida, em meio a tudo e acima de tudo isso, Deus estava com ele e sua Família. José abandonou seus projetos, assumiu o plano de Deus, que seria entrar na existência humana, e descobriu um caminho para enfrentar as dificuldades com a sua família. Ele era uma pessoa especial, que conseguiu perceber em sonho o que deveria fazer em meio a riscos. Maria, para descobrir o que tinha que cumprir, recebeu o anúncio de um anjo, como uma ação especial de Deus. Por sua vez, José foi descobrindo, diante de cada desafio e em sonho, o que tinha que realizar. A intimidade que José possuía com Deus auxiliava a perceber a vontade divina. Para José, o sonho foi o canal para descobrir o que tinha que ser feito.

Como São José, todos nós podemos sonhar com Deus! Em todas as famílias, Deus, certamente, procura também se comunicar e indicar o que cada uma deve fazer, principalmente, diante dos desafios da vida. Mais do que pedir clareza nos auxílios, precisamos melhorar nossa intimidade com Deus Pai. A relação de uma família com Deus condiciona a vida de todos. Sem Deus, os obstáculos se tornam imensos, os desafios aparentam ser intransponíveis e os sofrimentos, como algo sem fim. Se pais, mães e filhos estão sempre com Deus, ninguém e nada pode ser maior do que Aquele que nos dá o dom da vida e nos mantém neste mundo. Sonhemos com Deus! Estejamos com Ele! Façamos a sua vontade, que é amar a todos, principalmente os que mais sofrem!

No Evangelho da missa de hoje, de São Lucas, vemos a Sagrada Família que foi a Jerusalém para a Festa da Páscoa. Essa viagem foi sinal da religiosidade de Maria, José e Jesus. Como bons judeus, eles viveram os costumes religiosos. Além disso, essa viagem teve um desdobramento inesperado. O Menino Deus se perdeu de sua família… Ele foi procurado e não foi encontrado. Ele estava ainda em Jerusalém, no Templo. Muitos o ouviam e ficam maravilhados com suas palavras. Maria, preocupada, foi até Jesus e apresentou a angústia dos pais nessa procura. Jesus, por sua vez, revelou que estava na casa de Seu Pai. Sem compreenderem ainda esse acontecimento, o Menino se apresentou como Filho de Deus. Esse desencontro foi mais um sinal do Amor de Deus, manifestado em seu Filho, Jesus de Nazaré.

Ao final, o Evangelho nos mostra que o Menino continuou o caminho com seus pais em Nazaré. Com eles, cresceu em sabedoria, estatura e graça, sendo sempre obediente. Maria, por sua vez, conservava os sinais de Deus em seu coração. Aprendemos com essas palavras do Evangelho a sermos filhos obedientes em nossa família, humana e divina. Ser obediente é saber ouvir a Deus e aos outros. Num tempo em que é tão difícil parar, ouvir e prestar atenção, estejamos dispostos a estar com Deus, com nossa família, com os irmãos e irmãs, sendo capazes de ouvir, ser obediente. Além disso, cresçamos em sabedoria, fisicamente e espiritualmente, acolhendo Deus em nosso coração e em nossa vida! Guardemos as coisas de Deus no coração, na consciência, na interioridade, como Maria. Guardar algo é acolher, conhecer, entender e viver. Maria guardou e viveu a Palavra de Deus em sua vida. A Sagrada Família de Nazaré guardou as coisas de Deus em sua vida! Viveu com Deus e para Ele! Que nossas famílias sigam esse oportuno exemplo da Sagrada Família: guardar e viver as coisas de Deus!

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