#Reflexão: Festa da Transfiguração do Senhor (06 de agosto)
A Igreja celebra a festa da Transfiguração do Senhor, neste domingo (06). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Dn 7,9-10,13-14
Salmo: 96(97),1-2.5-6.9 (R. 1a.9a)
2ª Leitura: 2Pd 1,16-19
Evangelho: Mt 17,1-9
FESTA DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
A festa da “Transfiguração de Jesus” no monte é recordada pelo nosso povo com a festa do “Bom Jesus”. As imagens do Bom Jesus nos colocam nas cenas dolorosas de Cristo. O Evangelho desta solenidade, no entanto, nos coloca junto de Jesus no momento bem antes da paixão, em um “alto de um monte” que a tradição cristã chama de “Tabor”. A transformação de Jesus (transfiguração) neste lugar alto está profundamente ligada com os momentos finais da vida de Jesus Cristo.
Os textos que lembram este momento, iniciam com uma informação: tudo aconteceu “6 dias depois”. O fato significativo anterior foi sobre a pergunta crucial de Jesus: “Quem sou eu para as pessoas?” Pedro responde chamando Jesus de Messias. Mas, o Mestre Jesus sabia que tal ideia (Jesus como messias) precisava ser esclarecida, pois estava ligada a esperança de um messias guerreiro ou um novo rei. Na explicação, Jesus afirma que será um “salvador” (messias enviado por Deus), mas de uma forma bem diferente. Ele será entregue nas mãos dos poderosos (religiosos e romanos), passará por sofrimentos, humilhação e, por fim, vai ser morto, mas que depois, ressuscitará.
Tais palavras, certamente, foram uma “balde de água fria” no grupo dos discípulos e nas esperanças de todos sobre o Mestre que estavam seguindo. Pedro até que tentou desviar o Mestre destas ideias, mas foi chamado de “Satanás” pelo próprio Senhor. Sofrimento e morte é o destino conhecido de todos; é a realidade que todos passam. Mas, então tudo estava caminhando para mais um fracasso? Não! Assim, “seis dias depois…” temos a passagem do Evangelho deste domingo.
Os evangelistas iniciam esta cena lembrando que Jesus convida alguns dos discípulos para subir com Ele ao monte. Nosso Senhor planejou este momento para alguns, talvez aqueles mais preparados para experimentar e transmitir aos demais. Os “lugares altos” (montes, montanhas) em todas as culturas antigas são lugares da experiência com a divindade. Destaca-se um pouco do vale e da planície os estão as pessoas (representando os lugares das cidades, das plantações etc.) para se aproximar de Deus é fundamental para se experimentar algo que somente Deus pode nos dar. Os pés permanecem na terra, mas os olhos podem ver o infinito do céu de Deus.
A cena nos coloca de imediato em relação ao que acontece com Jesus. Sabemos pelos Evangelhos que o Mestre Jesus, constantemente, se retirava para rezar (Lucas nos lembra sempre disso). Mas, nessas passagens em que Jesus rezava, não temos o que acontecia no momento da oração. O último momento da oração de Jesus, os evangelistas nos dizem o que aconteceu no Horto das Oliveiras, naquele momento, imperou o sofrimento do peso daquilo que Jesus iria enfrentar. Nesta passagem deste domingo, tudo acontece de imediato: Jesus se mostra em sua realidade divina.
Mateus nos diz que o “rosto de Jesus brilhou com o sol e suas roupas ficaram brancas como a luz”. “Roupas” na simbologia bíblica representa “identidade”. Rosto e roupas são realidade humanas de Jesus que são inundadas com a maior força da natureza: o brilho do sol. Cristo insiste sempre nos Evangelhos que a “luz” é o lugar por excelência de Deus e daqueles que estão com Ele. Assim, é a nossa realidade terrena – naquele momento do Tabor – com suas limitações que são plenamente revestidas de Deus. Há um encontro entre o humano com o divino neste momento. Os discípulos não viram outro rosto e nem uma outra identidade diferente, mas sim, o mesmo Mestre de sempre, mas com todo o seu brilho eterno e divino. Assim, Jesus torna divino o que Ele é como humano: seu rosto se modifica e suas roupas se tornam brancas… Mas, é o Jesus de sempre em sua plena realidade divina e humana.
Na primeira leitura, Daniel descreve como é o céu. A figura principal é o “ancião de cabelos brancos” que representa Deus e a sua sabedoria em governar e julgar (sentado em um trono). Na terra, os juízes e os reis se revezam e sucedem na história; no céu, Deus julga e governa eternamente. A figura do “Filho do Homem” é descrita com o mesmo poder e igualdade em relação aquele que está sentado no trono. Jesus é este que possui o poder da eternidade de Deus. Por isto, na transfiguração, os sinais de poder e esplendor revelam Jesus como divino e com um brilho que está associado a Deus.
Os discípulos escolhidos por Jesus percebem que estão diante de uma experiência do céu, mas sobre a terra. Não foram transportados para uma realidade longe e distante deles, mas sim, que o “céu desceu na terra”. Com Jesus no alto do monte, uma “porta” se abre para a eternidade.
Amedrontados e espantados, os discípulos veem duas pessoas conversando com Jesus, eram Moisés e Elias. O Mestre que seguiam os coloca com dois pilares da religião dos judeus. Moisés representam toda a Lei e os fundamentos que todos seguiam enquanto judeus; Elias era considerado o maior dos profetas. Mas, estes dois grandes personagens do AT conversavam com Jesus, dando a entender que há uma profunda ligação do passado com Jesus. Em Cristo Jesus tem-se o ponto de chegada de toda esperança presente na Lei e nos Profetas.
Pedro que já tinha proposto a Jesus para abandonar o discurso do sofrimento e da morte, pois iria espantar os discípulos, agora no alto do monte como testemunha fundamental do evento de revelação do Mestre Jesus, propõe algo que expressa a sua surpresa e até buscando certo privilégio: construir três tendas para os três personagens. Dessa forma, Pedro procura eternizar como um privilégio somente para os três discípulos. Tenda seria ainda, um sinal de controle, limitação do mistério. A proposta de Pedro também coloca Jesus na mesma realidade que Moisés e Elias, pois são três habitações iguais para os três. O que o primeiro apóstolo propõe, no fundo, é quase uma tentação para Jesus: ficar ali e não proceder com tudo até o final em Jerusalém.
A voz que aparece no céu, claramente sinal da manifestação de Deus, esclarece qualquer dúvida. Os termos mostram a grande e a profunda intimidade entre Jesus e Deus: “Este” não se trata de nenhum outro; “meu filho” mostra a profunda relação como entre um pai e um filho; “amado” nenhuma outra pessoa tem de Deus tal privilégio. Esta frase até aqui já tinha sido pronunciada no dia do batismo de Jesus. O final da frase é o ponto fundamental nesta revelação. A forma de fazer experiência da divindade de Jesus é escutá-lo. Nas religiões antigas, a forma de se colocar em comunhão com a divindade acontecia de outras formas, em relação a Jesus é escutando-O.
A experiência no monte da Transfiguração não deve ser vista como mais um momento na vida de Jesus, mas está profundamente ligada com outro monte: o Calvário. No alto do Monte onde está a cruz de Cristo, cercado por dois ladrões, o que se mostra como sofrimento e com sinais de morte, na realidade, é a transfiguração da realidade humana que é salva. No monte da Cruz, Deus se revela no mais profundo da realidade humana, para transformar tudo em Luz de Deus que ilumina toda realidade e toda humanidade.
Jesus é quem convida os discípulos para experimentar e serem testemunhas de mais esta revelação. É fundamental para nós, como os discípulos no Evangelho, se distanciar em alguns momentos para experimentar a presença e o poder de Jesus, e o caminho fundamental é escutando-O. Mas, tal experiência não deve ser um privilégio, mas é preciso “descer da montanha”, se colocar em contato com outras pessoas e testemunhar a fé em Cristo é muito mais que um profeta (como Elias) ou como um legislador (como Moisés).
Testemunhar é muito mais do que falar sobre o que aprendeu. É anunciar com a vida, Aquele que é o centro e a nossa vida. Pedro na segunda leitura lembra que aquilo que eles testemunham no mundo não é uma fábula e nem uma fantasia, mas tudo que viram e experimentaram estando com Jesus. A pessoa de Cristo é o fundamental na evangelização proposta pelos apóstolos.