Santa Dulce dos Pobres
Quando o Papa Francisco, em 2019, anunciava que Irmã Dulce era reconhecida santa pela Igreja, o povo brasileiro já a havia canonizado em seu coração.
“O que fazer para mudar o mundo? Amar. O amor pode, sim, mudar o mundo”, dizia Santa Dulce. E como amou, essa pequenina e grande mulher, Maria Rita de Souza Brito Lopes: a Santa Dulce dos Pobres! Amou com o amor de Deus, um amor de mãe! Sua fama de santidade já era cultivada ainda em vida, pela dedicação aos pobres. Seu coração não cabia em si, pois, desde tenra idade, aprendeu a acolher a todos. Mas os pobres eram seus preferidos: aqueles que faziam ecoar em sua boa alma tanto sofrimento pela falta de alimento, de roupa, de casa, de instrução, de trabalho e remédios.
A história de vida vivida e contada por Irmã Dulce é de profunda compaixão. Ela nasceu em 26 de maio de 1914, numa família que tinha o essencial para viver bem e era composta por pessoas zelosas e caridosas. Seu pai, doutor Augusto, grande humanista, era professor universitário e dentista. Ele percorria ladeiras e periferias de Salvador, com seu carro adaptado para atender aqueles que não podiam pagar o tratamento dentário, exemplo que Maria Rita ia aprendendo e desejando realizar. Sua mãe, Dulce, certamente se divertia com a menina brincalhona que gostava de jogar futebol, soltar pipa e tocar acordeon.
Maria Rita foi criada por seu pai com ajuda de três tias solteiras, pois tinha sete anos quando sua mãe faleceu. Muito cedo, aprendeu a ter um olhar para a vida, a “conhecer a realidade das pessoas que nada têm e que vivem em extrema pobreza”, como dizia sua tia Madaleninha. Tudo isso despertou Maria Rita à vida consagrada, para melhor servir a Deus e aos irmãos. Aos treze anos de idade, quis entrar para o convento, mas, pela pouca idade, não foi aceita. O tempo passou e, em 1933, ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão, Sergipe. Quando fez os votos, recebeu o nome de Irmã Dulce, em homenagem a sua mãe.
Regressando a Salvador, Bahia, um ano depois, atuou como professora em um colégio da congregação, mas seu desejo era mesmo trabalhar pelos pobres. Vivendo um amor perturbador, Irmã Dulce acreditava que “a miséria é falta de amor entre os homens”. Na Comunidade dos Alagados, um conjunto de casas de palafita, Irmã Dulce viveu a profundidade da compaixão: Deus estava ali, no rosto de cada irmão abandonado. Era uma realidade de um povo que sobrevivia sobre entulhos, e ela estendeu sua mão generosa aos sem rosto e sem esperança.
O caminho vivido por Irmã Dulce foi amoroso e muito exigente, regado de paciência, trabalho, críticas, muita luta para conseguir recursos com os mais abastados da sociedade e os políticos. Mas era fortalecido pela oração constante e frutuosa. Santo Antônio era o amigo com quem conversava. Ela o admirava por sua vida e pelos milagres alcançados de Deus, por sua intercessão. Irmã Dulce dormia rezando, sentada numa cadeira ao lado de sua cama. Era alimentada em silêncio, pela madrugada, em seus encontros com Deus, e assim pôde conduzir bravamente seu projeto de amor aos irmãos e irmãs carentes.
O encontro de Jesus com as irmãs Marta e Maria, na casa de Bethânia, ilumina nossa conversa! Irmã Dulce é Maria, que se senta aos pés de Jesus para dele ouvir a Palavra, a Boa Notícia do Evangelho do Amor misericordioso. É Marta, que oferece as mãos para acolher e acariciar as crianças, idosos e seus ‘doentinhos’. São os pés que caminham pela cidade de Salvador e saem dos muros do Convento, para encontrar sua gente e dar a ela o significado da “vida em abundância” desejada por Jesus, seu Amado.
O amor de Irmã Dulce foi disseminado, desde sempre, e hoje pulsa e continua presente. De um ‘galinheiro’ de dentro do convento nasce esse legado vivo, esse patrimônio de amor pelo menos favorecidos. As Obras Sociais de Irmã Dulce (OSID) são exemplo de ideal de fraternidade a nos inspirar. Elas nos fortalecem na certeza de que só um coração semeado com a semente da compaixão faz brotar a solidariedade!
O poema do Hino a Santa Dulce dos Pobres é o retrato de sua espiritualidade e das obras realizadas pelo amor a Deus e aos pobres:
Salve, Salve, Salve Santa Dulce do Amor / Veja, veja, veja os grandes feitos do Senhor
Santa Dulce tão querida e tão amada / Ontem e hoje tão venerada / Acolheu crianças, jovens, idosos e doentes / Entregues à divina caridade e à bondade.
Salve, Salve! Salve Santa Dulce do Amor / Veja, veja, veja os grandes feitos do Senhor
Santa Dulce andou tão feliz com o que fazia / Foi muito além daquilo que podia / Dulce, Dulce, Dulce tão querida do Senhor! Crestes no amor ao pobre – viveu o Evangelho com ardor.
Salve, Salve! Salve Irmã Dulce do Amor / Veja, veja, veja os grandes feitos do Senhor
O que é de Deus ficará no coração e na mente /Proclama esta canção para o mundo – em ação
Eternamente, / Dulce do Grande amor Viveu com os pequeninos, a mensagem do Senhor.
Referências bibliográficas:
DULCE NOTÍCIAS – Informativo interno das Obras Sociais Irmã Dulce, 2014.
REVISTA ECOANDO, São Paulo: Paulus, 2021, ano 19, n. 74, p. 30-31.
ROCHA, Graciliano. Irmã Dulce, a Santa dos Pobres. São Paulo: Planeta, 2019.
Imagem destacada da notícia: Vatican Media.