“Nossas paróquias devem ser o lugar da misericórdia”, diz dom Majella

24 de maio de 2021

O arcebispo metropolitano, dom José Luiz Majella Delgado-C.Ss.R., presidiu nesta segunda-feira (24), a festa da padroeira do seminário arquidiocesano: Nossa Senhora Auxiliadora. Por causa de todas as medidas preventivas contra o avanço da Covid-19, estavam presentes apenas os seminaristas, padres formadores e os padres coordenadores dos setores pastorais.

Durante a celebração, os seminaristas Dioni Acássio da Silva, Tainan Francisco de Paula e Valter Virgínio Pereira foram admitidos às Ordens Sacras. O seminarista Cristian Diego da Rosa foi instituído ao ministério do leitorado.

Em sua homilia, dom Majella destacou a imagem da “acolhida”, presente tanto no Evangelho proclamado na memória litúrgica do dia, o discípulo amado que acolhe Maria, como na figura de São José, que acolhe a mensagem do anjo.

“O gesto de acolhida do discípulo amado aos pés da Cruz, e o acolhimento de São José, convidam-nos também a abrirmos o coração. Somos convidados a colaborar na edificação de uma Igreja mais acolhedora, não uma Igreja cheia de medo que faz um muro à volta para selecionar seus membros, ‘os bons’, ‘os puros’. As nossas comunidades paroquiais devem ser ‘o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho’ (EG, 114). O Papa Francisco afirma na Evangelli Gaudium que a ‘Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. E um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas’ (EG 47) para que ninguém seja impedido de entrar na casa de Deus pela ‘frieza de uma porta fechada’ (EG 47). A casa aberta não só simboliza a abertura para receber os outros, mas é também o logotipo de uma ‘Igreja missionária em saída’” (EG 24), disse.

As nossas comunidades paroquiais devem ser ‘o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho’

Leia a homilia do arcebispo na íntegra:

Caros irmãos e irmãs, sacerdotes, seminaristas, colaboradores deste Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora Auxiliadora e, em especial, o Reitor desta casa, Pe. Heraldo José e equipe de formadores, estou grato a cada um de vocês, por desejar participar nesta Liturgia que, se distingue por um especial clima de ação de graças pelo nosso Seminário.

Acolho também com firme esperança os seminaristas Dioni Acássio da Silva, Tainan Francisco de Paula e Valter Virgínio Pereira pela admissão as Ordens Sacras, candidatos comprovados em preparação à ordenação e exercício do presbiterado; o seminarista Cristian Diego da Rosa pela instituição do ministério de Leitor, onde se vivencia a missão de anunciar e viver de forma mais comprometida, a Palavra de Deus, revelada nas Sagradas Escrituras.

Ainda vivendo o impacto da pandemia, com as devidas restrições, celebramos a festa deste Seminário sob a proteção da Virgem Maria com o título de Nossa Senhora Auxiliadora, com a liturgia da memória da Bem-aventurada Virgem, Mae da Igreja, neste Ano Especial de São José, convocado pelo Papa Francisco.

A memória mariana foi instituída no calendário universal da Igreja recentemente pelo Papa Francisco, para ser celebrada todos os anos na Segunda-feira depois de Pentecostes. Conforme as palavras do Papa, “esta celebração ajudará a lembrar que a vida cristã, para crescer, deve ser ancorada no mistério de Cruz, na oblação de Cristo no convite eucarístico e na Virgem oferente, Mãe do Redentor e dos redimidos” (Decreto “Ecclesia Mater”).

As leituras bíblicas que acabamos de ouvir nos oferecem cenas nas quais aparece Maria. Na primeira leitura Maria ora com perseverança, em união com os apóstolos, quando se torna difícil aceitar a ressurreição e ascensão de seu Filho. No evangelho, Maria Mãe, ajuda-nos a orientar nosso olhar, que busca salvação, para a cruz de Jesus. Aos pés da cruz de Jesus o discípulo amado acolheu Maria em sua casa. Do mesmo modo que aquele que acolhe a Palavra recebe o poder de ser filho de Deus (Jo 1,12) e os que aceitam as Palavras do Mestre creem em quem o enviou (Jo 17,8), assim o discípulo acolhe Maria como expressão de aceitação de Jesus e de sua Palavra. Maria passa a ser a mãe do discípulo, de todo discípulo, da comunidade de fé.

Precedido de um tríduo celebrativo para esta festa, destacando o ano Josefino, a comunidade do Seminário refletiu a figura de São José como “alguém que nos entende”. José acolheu a mensagem do anjo e “recebeu Maria com o Filho que havia de vir ao mundo, por obra do Espírito Santo: demonstrou deste modo uma disponibilidade de vontade, semelhante à disponibilidade de Maria, em ordem àquilo que Deus lhe pedia por meio do seu mensageiro” (Redemptoris Custos, 3).

O gesto de acolhida do discípulo amado aos pés da Cruz, e o acolhimento de São José, convidam-nos também a abrirmos o coração. Somos convidados a colaborar na edificação de uma Igreja mais acolhedora, não uma Igreja cheia de medo que faz um muro à volta para selecionar seus membros, “os bons”, “os puros”.

As nossas comunidades paroquiais devem ser “o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho” (EG, 114). O Papa Francisco afirma na Evangelli Gaudium que a “Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. E um dos “sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas” (EG 47) para que ninguém seja impedido de entrar na casa de Deus pela “frieza de uma porta fechada” (EG 47). A casa aberta não só simboliza a abertura para receber os outros, mas é também o logotipo de uma “Igreja missionária em saída” (EG 24).

A formação do nosso Seminário é um tempo de dar o primeiro passo, que é o de se aproximar e de se deixar impressionar pelo que se vê e agir concretamente Para que os seminaristas possam alcançar a própria configuração a Cristo é lhes oferecidos uma formação integral acerca da identidade do presbítero. É para operacionalizar esta “saída missionária”. Sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias da nossa Arquidiocese. Todo o processo formativo do nosso Seminário tem como eixo norteador, a pastoral. A pastoral que os nossos seminaristas realizam nas comunidades paroquiais é um tempo de provação, um tempo para distinguir os caminhos do bem – que nos conduzem ao futuro – de outros caminhos que não levam a lugar algum ou os fazem retroceder. A pastoral é um passo essencial para discernir e escolher.

A pastoral é uma escola, onde todos, sacerdotes, seminaristas e leigos, empenhados no anúncio do Reino, aprendem a arte de conviver, a arte de acompanhar, a arte de escutar, a arte de acolher, “para que todos aprendam a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro (cf. Ex 3,5) (EG, 169). Uma pastoral assim vivida impede de cultivar um cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestigio da Igreja (cf. EG 95).

O acolhimento de José convida a receber os outros, sem exclusões. É preciso confiar e ter capacidade de acolhimento. Na história da nossa Igreja temos uma dimensão profética no que diz respeito ao acolhimento e à fraternidade da sociedade. Essa é a nossa experiência há dois mil anos. Já nos basta o medo da pandemia, os medos sociais, os muros sociais.

Nestes tempos de pandemia é notório que as pessoas se sentem abandonadas E aí é que nós temos de aparecer, não apenas para estarmos próximos das pessoas e para lhes dizer algumas palavras, que são as habituais, mas para acolher e dizer-lhes que há solução para essas lágrimas e para essa dor.

Deixemo-nos guiar pelo Espírito do Senhor ressuscitado, inspirados pela atitude de Nossa Senhora, Mãe da Igreja. Que ela nos ensine a fazer a caminhada sinodal – caminhar juntos – como irmãos e irmãs, membros da família do Pai do Céu, solidários e próximos de quem sofre, como ela, junto à cruz de Jesus e levantando-nos para levar a todos a alegria do Evangelho que nos dá vida. Amém.