#Reflexão: 2º Domingo da Quaresma (13 de março)

10 de março de 2022

A Igreja, neste domingo (13), celebra o 2º Domingo da Quaresma. Reflita e reze com a sua liturgia.

1ª Leitura – Gn 15,5-12 17-18

Salmo – Sl 26,1.7-8.9abc.13.14 (R. 1a)

2ª Leitura – Fl 3,17-4,1 [Forma breve: Fl 3,20-4,1]

Evangelho – Lc 9,28b-36

Acesse aqui as leituras.

 

TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS CRISTO

 

Domingo passado, recordamo-nos de Jesus, que, no deserto, venceu o mal que tentou desviá-Lo do projeto de Deus. O diabo esperou o “momento certo” para tentar Jesus com mais força e artimanhas: quando sentiu fraqueza e fome. As fraquezas humanas podem ser a oportunidade que o mal espera para nos conduzir para longe de Deus.

Neste domingo, o Evangelho nos conduz a outro lugar, onde observamos a manifestação da glória de Deus e de nosso destino último: o monte da transfiguração. No deserto, o diabo tentou semear trevas no projeto de comunhão entre Jesus e Deus Pai. No monte, a luz de Deus resplandece com toda sua beleza (conforme Pedro exclama). No deserto, aprendemos com Jesus que, mesmo sobre forte tentação, o caminho para também nós vencermos o mal encontra-se na Palavra de Deus. No monte da transfiguração, Jesus antecipa não somente sua glória – pois é Deus -, mas também aquilo que é esperança para cada um de nós.

A transfiguração no monte Tabor é um fato marcante e narrado nos três primeiros Evangelhos (cf. ainda 2Pd 1,16-18). Lucas nos informa que tudo aconteceu em mais um momento de oração de Jesus. Porém, diferentemente de outras ocasiões, Jesus quis rezar tendo três discípulos como testemunhas. Certamente, Pedro, Tiago e João ainda estavam tentando entender o que Jesus acabara de anunciar: sua paixão, morte e ressurreição, que iriam acontecer na cidade de Jerusalém. O Mestre Jesus quis antecipar seu trágico fim a todos para que ninguém se iludisse com nenhuma ideia errada em relação a Ele.

A oração tem um poder especial de transformar as pessoas. Coloca em seus corações um pouco do céu. Semeia, dentro de cada um, um desejo por aquilo que é eterno. A oração transforma a pessoa naquilo em que ela crê e espera. Lucas nos diz que, “enquanto Jesus rezava”, aconteceu uma grande transformação. Descobrimos ser possível nossa realidade humana, em sua realidade mais pura e sincera, ser transformada com a luz de Deus. Não vemos o rosto de Deus, mas o nosso rosto, em Jesus, pode ser transformado. Não vemos como é o céu, mas descobrimos que nossa realidade humana, nas vestes de Jesus, pode ser iluminada com a luz de Deus.

Os evangelistas nos dizem que duas pessoas foram vistas conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. São dois personagens com histórias e experiências especiais, inclusive em montanhas e até o fim de vida de cada um foi singular. Lucas é o único evangelista que nos diz que Moisés e Elias conversavam sobre o “êxodo” (morte) de Jesus em Jerusalém. Mesmo na aparência da dor e do sofrimento que foram os últimos dias de Jesus, tudo estava encerrado dentro de um projeto que vai muito além da compreensão de todos.

Os apóstolos se encontravam dormindo quando tudo estava acontecendo próximo deles. Ao perceberem o que acontecera com Jesus e a presença de duas pessoas (Moisés e Elias), então, Pedro propôs algo muito simples e plenamente humano: eternizar, neste mundo, aquele “pedacinho” da eternidade.

Pedro propôs construir três tendas com a expressão de admiração: “É bom estarmos aqui”. Porém, isso para Jesus seria uma experiência passageira e exclusiva daquele pequeno grupo de discípulos, sem dar prosseguimento em sua missão que o conduziria a Jerusalém. Ele veio abrir o acesso à eternidade para toda a humanidade.

Muitas vezes, buscamos e queremos somente as glórias e as luzes que nos consolam em nossa fé. Queremos somente subir o monte Tabor e não o monte Calvário. Era necessário descer do “pedacinho” do céu para que o céu fosse de todos e a luz de Deus iluminasse toda a história humana.

Entretanto, é possível saborear, já, as alegrias do céu enquanto ainda estamos neste mundo, em meio a nossa caminhada de libertação, seguindo aquilo que foi dito da parte de Deus aos apóstolos. Não é o local que torna possível o acesso às luzes e ao próprio céu, mas a fé em Jesus. O céu se conquista em nosso coração com a nossa fé. Para tanto, é necessário acreditar que Jesus é o Filho Predileto de Deus Pai, o único e escolhido para nossa libertação. Para isso, principalmente, é necessário escutá-Lo. Mais do que “ver” e contemplar Jesus, é fundamental escutá-Lo.

O diabo, no deserto, quis contaminar a vontade de Jesus, sugerindo que Ele pensasse em si, em suas necessidades pessoais e materiais. No monte Tabor, Jesus confirma sua entrega: nada para si, tudo para salvar a humanidade. O tentador quis oferecer glórias e poder deste mundo. No Tabor, Jesus se mostra pleno de poder e glória, que vêm de Deus. O mal quis jogar Jesus contra Deus (se tu és filho…). No monte da transfiguração, o próprio Deus Pai se revela, confirmando seu amor predileto por Jesus.

Na primeira leitura, recordamo-nos da promessa e a aliança de Deus com Abrão. Homem de fé, que enfrentou inúmeros obstáculos e, mesmo antes de selar aliança com Deus, perseverou diante dos obstáculos, confiando plenamente no seu Deus. Jesus, no Evangelho, nos mostra não uma nova terra neste mundo, mas a promessa maior, que é a eternidade. Para selar a aliança com Abrão, foi necessário sacrificar animais. Na cruz, Deus consuma uma nova aliança com toda humanidade, não mais com sangue de animais, mas do próprio Filho Jesus.

Paulo, na segunda leitura, proclama, com certa tristeza, sobre algumas pessoas que não queriam saber da morte na Cruz de Cristo (ele as chama “inimigos da Cruz”). Hoje, como naquele tempo, muitos preferem anunciar e crer no Jesus do poder e da glória e não no Jesus da partilha, da simplicidade, que se mostra solidário a todos nós, até na morte. Com sua paixão, Jesus não percorreu um caminho novo, mas o caminho que todos os seres humanos sempre percorreram. Ele sofreu e morreu por nós, para abrir o caminho que nos conduz ao céu.

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