#Reflexão: 5º domingo da Quaresma (17 de março)

13 de março de 2024
A Igreja celebra o 5º Domingo da Quaresma, neste domingo (17). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Jr 31,31-34
Salmo:50(51),3-4.12-13.14-15 (R. 12a)
2ª Leitura: Hb 5,7-9
Evangelho: Jo 12,20-33

Acesse aqui as leituras.

JESUS, O GRÃO DE TRIGO E A CRUZ

            Nossa caminhada quaresmal está chegando ao seu ponto máximo que culmina nos últimos dias de Jesus em Jerusalém. Tempo de escuta e de se deixar questionar pelos ensinamentos de Jesus como no domingo passado no diálogo do mestre Jesus com o mestre Nicodemos.

O texto de São João para este domingo é considerando o ponto de chegada de uma primeira parte do Evangelho e o início da segunda parte decisiva sobre Jesus. Um pouco antes, Jesus entra em Jerusalém pela última vez (12,12) para celebrar a Páscoa com seus discípulos. Em alguns momentos no quarto Evangelho, João diz que “não chegou ainda a sua hora” (cf. Jo 2,4; 7,6.8; 8,20 etc.). Nesta passagem de hoje, Jesus afirma: “chegou a hora”. A passagem depois deste texto é o Lava-pés que João inicia dizendo: “tendo chegado a sua hora”. Assim, a partir do Evangelho de hoje, Jesus sente que os seus últimos momentos neste mundo estavam chegando ao fim e a sua morte estava próxima.

A língua grega que foi escrita o Novo Testamento não possui um termo para “experimentar” algo. Assim, “ver” é experimentar, muito mais que somente enxergar algo. Quando Jesus no início do Evangelho de São João propõe para os discípulos do Batista “vinde e vede” (Jo 1,39) foi um convite para “experimentar”, “fazer a experiência” de permanecer na sua presença.

João no seu Evangelho deste domingo nos informa que “gregos” (isto é, estrangeiros) tinham subido para Jerusalém para rezar, mas estavam interessados, na realidade, em ver Jesus. O pedido chegou aos discípulos que conduziram todos a Jesus, símbolo da missão da Igreja de Cristo na história. O Mestre Jesus vê neste sinal que a sua proposta irrompeu fronteiras e estava sendo abraçada por aqueles que não pertenciam ao mundo judaico. Estava se tornando universal e isso foi o sinal que a sua missão tinha atingido seu fim desejado… O mestre sente que está tudo conforme a vontade divina e que sua missão estava por terminar.

“Queremos ver Jesus”: uma pergunta da alma eterna do homem que procura um sentido profundo da sua existência. A resposta de Jesus exige um olhar profundo: se quiseres compreender, tem que olhar para o grão de trigo, olhar para a cruz, síntese última do Evangelho. Se o grão de trigo não morrer fica só, se morrer produz muitos frutos. Uma das frases mais famosas e difíceis do Evangelho. Esse “se ele morrer” pesa no coração e ofusca todo o resto. Mas se ouvir bem a lição do grão, o significado muda. Se observarmos, veremos que o coração da semente, o núcleo íntimo e vivo do qual brotará a espiga é o germe, e tudo que está ao seu redor, é o seu alimento do núcleo. A semente é na verdade uma vida que se abre lentamente, um pequeno vulcão vivo do qual irrompe um pequeno milagre verde que é o broto.

O que acontece na terra não é a morte da semente, mas um trabalho incansável e maravilhoso, uma doação contínua e ininterrupta, um verdadeiro dom de si mesma: a terra dá ao grão os seus elementos minerais, o grão se oferece ao germe, seu núcleo, e eles se transformam em alimento, como uma mãe oferece o leite ao seu filho. E quando a semente é doada à terra, o seu núcleo lança suas raízes famintas de vida, se projeta para cima buscando luz para produzir vida. Se o grão de trigo, caído na terra, não morre, fica só; mas se morre, produz muito fruto.

Então a semente morre, sim, mas no sentido de que a vida não lhe é tirada, mas transformada numa forma de vida mais evoluída e poderosa. “O que a lagarta chama de fim do mundo (casulo), todo mundo chama de borboleta” (Lao Tzu) e ela voa; morre uma vida anterior para continuar vivendo em uma forma superior.

O verbo principal que rege a parábola da semente é “produz fruto”. A glória de Deus não é a morte, mas a fecundidade, é o dom de si mesmo. A pedra angular que sustenta o mundo, desde a semente até Cristo, não é a vitória do mais forte, mas a doação total e ilimitada de si próprio.

O segundo símbolo oferecido por Jesus é a “cruz”, a imagem mais pura e elevada que Deus deu de si mesmo. “Para saber quem é Deus basta se ajoelhar aos pés da Cruz” (Karl Rahner). Deus entra na morte porque cada um de seus filhos vai para lá. Mas da morte ela surge como um germe da terra, uma forma de vida indestrutível, e nos arrasta consigo para cima. Jesus é o grão de trigo que se consome e brota; uma cruz nua onde já respira a ressurreição.

“A Cruz não nos foi dada para compreendermos, mas para nos agarrarmos a ela” (Bonhoeffer): atraído por algo que não entendo todo o seu significado, mas que me seduz e me tranquiliza, agarro-me à Cruz de Cristo, caminho com Ele, morrendo com Ele e ressuscitando eternamente com Ele (Ermes Ronchi).

Assim, a vitória que aprendemos de Jesus sobre tudo, não foi com a força humana das armas ou das guerras, ou ainda usando mais violência, mas com o mais profundo gesto de doação que é entregar gratuitamente sua vida. Deus entra na morte para vencê-la não usando as mesmas armas da morte, mas entra desarmado; não faz batalha, mas se entrega. Jesus desce a essa realidade tão inferior da nossa realidade humana, pois lá encontra-se a expressão última de nossa existência que Jesus quis iluminar com a sua morte. Assim, nenhuma realidade humana estará mais sem a presença e a sua luz eterna.

“Nunca nos habituamos a um Deus humilde” (Papa Francisco), a este Deus invertido que bagunça as nossas imagens ancestrais. Jesus nos propõe sempre o contrário que estamos acostumados como força e poder: com um grão e uma cruz, a semente humilde e a humilhação extrema. Deus gosta de encerrar o grande no pequeno; o universo no átomo; a árvore na semente; a eternidade no momento de amor em um coração; Ele mesmo em nós.

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