#Reflexão: Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (24 de março)

19 de março de 2024

A Igreja celebra o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, neste domingo (24). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Is 50,4-7
Salmo: 21(22),8-9.17-18a.19-20.23-24 (R. 2a)
2ª Leitura: Fl 2,6-11 ou 15,1-39 (Paixão do Senhor)
Evangelho: Mc 14,1-15,47

Acesse aqui as leituras.

JESUS EXALTADO E CONDENADO EM JERUSALÉM

A Semana Santa ocupa um lugar especial em nossa fé cristã, pois nela nos encontramos com Deus, mas de um modo quase que exclusivamente humano. Jesus que por toda sua vida procurou indicar caminhos de Salvação, palavras de vida plena e deixar um ensinamento novo, nestes dias, a partir deste domingo, se torna plenamente um de nós também na humilhação, no desprezo, no sofrimento e, por fim, na morte. Não servem mais palavras e preceitos, mas a solidariedade. Uma semana única, pois foi a última de Jesus que portou seu projeto de salvação na mais profunda realidade humana e em seu último recôndito que é a morte.

São dias para serem experimentados, pois foram vivenciados plenamente por Jesus. Nos gestos e nas palavras de Cristo, nós encontramos a profunda comunhão de Nosso Salvador com toda a humanidade. E nestes dias de Jesus em Jerusalém, o amor de Deus se tornou pleno, pois Jesus escolheu ser solidário conosco, percorrendo um caminho que até então, era exclusivo de todos os homens e mulheres, pois este sempre foi o preço do pecado: o sofrimento e a morte. Não há outro modo de mergulhar na grandeza destes dias santos senão participando e vivenciando cada momento do final da vida de Nosso Senhor.

O Domingo de Ramos carrega consigo estas duas grandes realidades da vida de Jesus: acolhida e a condenação de Jesus como salvador. Como em todos os momentos da existência de Cristo Senhor, este domingo resume os sentimentos de todos que O acompanharam pelos caminhos daquelas terras: alegria e júbilo, mas também ódio e vingança. Entrando em Jerusalém tudo isto foi vivenciado ao máximo por todos, prevalecendo, como sabemos, o ódio dos opositores de Cristo, uma aparente vitória que se tornou o maior instrumento de vitória e redenção de Jesus.

Deus como sempre fez, mais uma vez, transforma até o maior erro de todos os homens, em um bem maior ainda para a própria humanidade.

Os Evangelhos narram a entrada de Jesus na Cidade Santa cada um com detalhes próprios. Deus corteja a sua cidade: Ele vem como um “rei mendigo”, tão pobre que não possui nem mesmo o mais pobre animal de carga. Um “humilde Poderoso”, que não se impõe, se propõe e se oferece (Ermes Ronchi). Em nenhum outro momento da vida de Nosso Senhor, Ele procurou e incentivou qualquer sinal de glória e exaltação Dele próprio, mas naquele dia foi diferente. Antecipadamente, o que dá a entender, Ele próprio combinou os detalhes para a sua entrada em Jerusalém: pessoa que deveria emprestar o jumentinho.

No entanto, tudo é emprestado e provisório (“logo, devolverá”), mas o fundamental que Jesus vai realizar permanecerá não sobre um animalzinho de serviço, mas sobre a Cruz.

Aqueles dias, a cidade estava lotada de pessoas, pois eram dias que antecediam a grande celebração da Páscoa dos judeus. A quantidade de pessoas que entravam e saíam da cidade era imensa, mas o pequeno grupo de Jesus teve seu espaço de atenção. O evangelista Marcos nos informa que, enquanto Jesus entrava na cidade, muitas pessoas aclamavam Nosso Senhor como Messias e portador do Reino de Deus (gesto em sintonia com as palavras do profeta Zacarias – cf. 9,9), mas Jesus não entra na cidade como um dominador, mas entra trazendo paz a todos. Os discípulos celebram a entrada de Jesus com gestos significativos de acolhida (estendem seus mantos, aclamam com ramos) e certa coragem (os que estavam a frente como os que estavam atrás). Mas, Jerusalém era um lugar imprevisível dos poderes da religião e do estado romano.

Aclamam Jesus como Salvador: “Hosana” (“Salva-nos”) e como enviado de Deus, mas ainda com uma esperança de um messianismo aos moldes de conquistador como o rei Davi. Nos próximos dias, Jesus revelará o seu modo como vencerá o principal inimigo da humanidade.

Desde o início, a última semana de Jesus já se tornou um grande problema político e religioso. Jesus, certamente, tinha estado na Cidade Santa em outros momentos, mas não como aquele dia onde foi exaltado e acolhido por muitos como Salvador. A festa e a grande multidão na cidade foram o momento propício para a maldade daqueles homens que deveriam ser propagadores de vida e de Deus, mas que se colocam a serviço da mais profunda maldade humana (ódio e vingança) e do próprio mal.

No Evangelho da paixão, assistimos, de pouco em pouco, a aparente derrota do projeto de Jesus. Olhando com a nossa lógica humana foram momento de frustração e vitória dos opositores de Nosso Senhor. Tudo inicia com um gesto de sensibilidade por parte de uma mulher que se compadece de Nosso Senhor e lhe oferece perfume. Aos poucos percebemos que os caminhos traçados por Jesus e todas as pessoas que estavam ao seu redor são completamente diferente.

Os discípulos (amigos pessoais de Jesus) alimentaram um momento triunfal para Jesus em Jerusalém. Talvez o momento esperado por todos para iniciar uma revolta contra tudo e contra todos. Eles conheciam Jesus e sabiam do grande potencial que o Mestre deles possuía, mas não foi assim. Prometem com palavras (Pedro) uma fidelidade a Jesus, mas ao “Jesus dos milagres”, do poder, da vitória contra o mal, dos grandes sinais, mas Nosso Senhor escolhe outro caminho. Jesus conhecia Pedro, mais do que ele próprio. Não se entusiasma com suas palavras de “morrer pelo Mestre”, na realidade seria o contrário. Judas construiu projetos pessoais onde Jesus foi somente um instrumento, algo tão fechado nele próprio que morreu com ele.

As autoridades religiosas ao prenderem Jesus achavam que conseguiriam conduzi-Lo a autoridade romana com uma acusação capital e assim, eliminar aquele rapaz com ideias contrárias à religião oficial. Achavam que estavam prendendo Jesus, mas na realidade Ele é que se oferece a eles; imaginavam que estavam pondo um fim a um problema, mas estavam na realidade sendo instrumento de uma salvação maior que a maldade de seus corações. O poder romano encontrou o momento favorável para encerrar definitivamente a história de um que se apresentava como rei dos judeus (diálogo com Pilatos). Aquele projeto romano que não teve um bom resultado quando Jesus nasceu, teve sua segunda chance naqueles dias em Jerusalém.

Todos se colocaram distante de Jesus ou por medo (Pedro) ou por ódio (Sacerdotes e os romanos) e Nosso Senhor percorre uma estrada agarrado somente no amor de Deus Pai. Mas, era necessário que Ele caminhasse mais profundamente na extrema realidade humana que homens e mulheres ainda hoje se encontram: na estrada do sofrimento, da humilhação, do abandono e da morte. Jesus escolheu percorrer esse caminho por nós.

Nestes dias, nós não vemos mais o Jesus dos milagres, do poder e vitorioso, mas o Cristo do sofrimento, da solidão e da morte. Jesus Cristo não se tornou fraco ou perdeu seu poder, mas quis se tornar mais um de nós, percorrendo nossa mais profunda realidade humana. Na realidade ninguém se distanciou de Jesus, mas Ele se uniu a cada um de nós e cada um daqueles que o abandonaram, o maltrataram e o conduziram à morte. Não viram mais aquele Jesus do poder, pois Ele se misturou a nossa realidade humana. Era preciso percorrer a vida mais obscura que todos temos que percorrer quer era a morte. Não foi mais uma morte na cruz, mas uma morte que foi capaz de vencer tudo que se tinha colocado como obstáculo entre Deus e a humanidade.

O peso dos pecados, mas também do sofrimento de toda humanidade tornaram cada momento do final da vida de Jesus, algo insuportável e imenso até mesmo para Ele. Nosso Senhor tinha escolhido percorrer tudo não como 100% Deus, mas como 100% homem e isto foi demais também pra Ele. Os pecados e o ódio de toda a humanidade tinham ofuscado até mesmo a relação com o Pai, mas Ele mesmo clamando por Deus (“Meu Deus por que me abandonastes?”) obscurecido pelos pecados do mundo, foi fiel até o fim. Era o caminho da profunda ausência de Deus que todos percorriam e Jesus escolheu também percorrer.

Espantam-nos suas palavras, mas até onde Deus foi esquecido e obscurecido pelo ódio, até mesmo a realidade mais distante de Deus, Jesus quis percorrer sempre por todos nós, por cada pessoa humana. É o amor de Deus que não tem limite e nem exclui ninguém!

O extremo da realidade de sofrimento e humilhação acontece com as palavras de desafio dos presentes: “desce da cruz!” Para muitos, teria sido o maior sinal do pregador de Nazaré, mas teria sido um sinal que servira somente para salvar Jesus, mas não a humanidade; Descer da cruz teria sido uma solução que somente Deus poderia tomar diante da morte, mas não cada um de nós. Jesus teria saído vitorioso em relação à morte, mas não cada um de nós. Por isso, Jesus mergulha na morte se entregando completamente ao amor de Deus. Não foi mais uma morte e nem uma morte de Deus, mas uma MORTE EM DEUS. Jesus confia plenamente que caminhava para o Pai, Amor Pleno, e por isto, vence a morte.

Mais do que entender esses dias finais da vida de Cristo, a Semana Santa nos convida a experimentar e aprofundar esse amor extremo de Deus que não tira vida de ninguém, mas entregando-se a morte, e assim, propiciou Vida Plena a todos nós.

Uma Santa Semana a todos!

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