Vocação: Graça e Missão

17 de agosto de 2023

O mês de agosto é especial para toda Igreja Católica no Brasil. Nele, se celebra o mês vocacional ou mês das vocações. Este ano, em especial, celebramos o 3º ano Vocacional do Brasil, com o tema “Vocação: graça e missão” e, com o lema, “Corações ardentes, pés a caminho” (Lc 24,32-33). Desse modo, a Igreja convida a todos para este tempo dedicado à oração, reflexão e ação nas comunidades paroquiais, com foco no fomento da cultura vocacional.

Cada domingo é dedicado à celebração de uma vocação específica – ministros ordenados (bispos, padres e diáconos), família, consagração religiosa, vocação dos cristãos leigos e leigas – aqueles que se dedicam aos serviços pastorais e missionários.

Ao falar sobre a vocação, deparamos sobre a escolha vocacional ou o discernimento vocacional, que é sempre uma experiência de descortinar novas realidades na vida humana. Há quem pense que vocação é coisa apenas de padre ou freira. Há quem imagine que vocação está relacionada com aquele trabalho que menos me “suga” e mais dinheiro eu acumulo. Será que isso tudo é verdade? Como posso ser feliz em minha vocação?

Quando se fala em vocação, estamos tratando de um dom e mistério que Deus dá a cada pessoa humana. É uma dádiva para cada um de seus filhos e filhas. É preciso, no entanto, agradecer por este grande presente e, não deixar de viver cada instante como
um grande milagre. Portanto, a primeira vocação que recebemos de Deus é o dom da vida.

Com o desenvolvimento da vida, nós recebemos, pelo sacramento do Batismo, o dom da fé, com a qual somos chamados à santidade, convite universal. Essa segunda vocação não é coisa só de padre ou de freira. Todo batizado é chamado à santidade.
Pelo Batismo, somos missionários, porque participamos da mesma e única missão de Cristo (sacerdote, profeta e rei). Assim, nosso segundo chamado é à vida cristã.

Ao desenvolver a vida cristã na família e na comunidade eclesial, lugares privilegiados da experiência do seguimento a Cristo, chegamos ao momento de uma opção fundamental para a vida toda. Entra aí o discernimento vocacional. É o modo pelo qual
melhor encontrarei sentido a minha vida e farei a vontade de Deus. Posso ser feliz como cristão leigo ou leiga na família, na Igreja e no mundo do trabalho? É uma linda vocação! Desejo ser feliz como padre, servindo à comunidade, configurando-me a Cristo, o Bom Pastor? Também é um chamado especial. Posso, ainda, escolher pela vida religiosa, sendo freira ou irmão e, consagrar-me a Cristo, Servo e Casto, por meio dos conselhos evangélicos (pobreza, castidade e obediência) e a vida comunitária? É um belíssimo caminho também!

Você poderia se perguntar: qual é a minha vocação? Que escolha posso realizar em minha vida? Estou vivendo bem minha vocação? Quando o assunto é vocação não existe nenhuma “receita pronta” e nem “vocação sem cruz”. Assim, apresento alguns pilares que poderão ajudar na opção vocacional ou vivência da minha e sua vocação.

1 – Abertura à ação de Deus e ao Divino Espírito

A vocação é sempre um dom divino e, nós, seres limitados, necessitamos de sua colaboração sempre. Para tanto, precisamos dos instrumentos que nos conectam ao Senhor: a vida de oração, a busca pelos Sacramentos, a leitura e meditação da Palavra de Deus, a presença na comunidade paroquial. São elementos fundamentais para a descoberta e desenvolvimento de qual é o projeto que o Senhor tem para mim. Sem interioridade não se consegue fazer uma escolha assertiva na vida.

2 – Percepção de dons e aptidões

É preciso que se perceba quais os talentos e dons que tenho. O autoconhecimento me fará perceber qual inclinação marca minha vida. Um exemplo é o jovem que gosta de ajudar nos serviços eclesiais, gosta de conviver com as pessoas e sente-se bem ao ajudar às pessoas. Ele tem aptidões para ser padre. São germes de uma vocação presbiteral. Esses germes de vocação serão aprimorados nos encontros vocacionais e na vida de seminário. O autoconhecimento é indispensável para a vida toda.

3 – Cultivo da liberdade interior

Um terceiro pilar é se me sinto em paz e sereno neste ou naquele estado de vida. Outro exemplo é o daquela jovem que já namora há 6 anos e percebe que o relacionamento confirma o seu desejo pelo casamento. Ela sente-se feliz ao seu lado e não se vê “refém” do namorado. É fundamental fazer escolhas com liberdade interior. É a liberdade interior que sustenta a pessoa nas crises e desafios que acompanham toda vocação. Não existe opção e amadurecimento de uma escolha sem liberdade interior.

4 – Percepção da felicidade no caminho da vida

No mundo atual, existe uma vasta literatura que anuncia a felicidade: em 10 passos, em 5 dias, em alguns segundos. Tudo isso não passa de imediatismo e ilusão. A felicidade não “cai do céu” e nem “vem de paraquedas”. Isso significa dizer que, a felicidade é construída ao longo da vida e a cada amanhecer, a cada conquista. Em outras palavras, “(…) é no meio do caminho e não apenas na meta que se encontra a felicidade (…)”, como diz o pensador francês Gilles Lipovetsky. Imagine, por exemplo, o jubileu de prata sacerdotal daquele padre que foi construído desde a sua família, comunidade paroquial, passando pelo tempo de seminário até chegar a sua ordenação e anos de ministério. Pense ainda, na religiosa que é feliz não somente pelo jubileu de ouro de vida consagrada, mas pelos pequenos “sim” que ela foi dando desde a sua infância, acompanhamento vocacional e passando pela vida no convento e chegando a este momento importante de seu caminho. A felicidade, portanto, está em todo o percurso e não apenas em momentos isolados.

Portanto, vamos viver bem este mês vocacional e buscar fortalecer a opção fundamental na oração, na percepção das aptidões, na busca da liberdade interior e na construção da felicidade, visando sempre a certeza de que Cristo nos chama e nos envia! Viva com alegria a sua vocação!

 

Imagem: Brigitte Werner por Pixabay