#Reflexão: 5º Domingo da Páscoa (28 de abril)

A Igreja celebra o 5º Domingo da Páscoa, neste domingo (28). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: At 9,26-31
Salmo: 121(22),26b-27.28.30.31-32 (R. 26a)
2ª Leitura: 1Jo 3,18-24
Evangelho: Jo 15,1-8

Acesse aqui as leituras.

PERMANECER EM JESUS PARA PRODUZIR FRUTOS

            Jesus no Evangelho de São João se apresenta sete vezes com “Eu sou”: o Pão da vida; a luz do mundo; a porta das ovelhas; o Bom Pastor; a Ressurreição e a Vida; o caminho, a verdade e a vida; e “eu sou a verdadeira videira”. Esta última expressão sobre a videira, Jesus diz no discurso da última refeição com os discípulos. Domingo passado, refletimos sobre Jesus o Bom Pastor.

No Evangelho deste domingo, Jesus se compara a uma planta muito apreciada e muito bem cuidada em sua época: a videira que produz a uva. No Antigo Testamento, a videira, muitas vezes, é aplica a Israel, povo de Deus; Em São João é o próprio Cristo a videira. A planta da videira serve somente para produzir uva, pois seu tronco é inútil para ser usado para outra coisa, nem suas cinzas eram usadas para lavar roupa, pois manchavam o tecido. Sem a uva, a planta era corta e queimada. Jesus lembra que Deus Pai é o agricultor e tudo pertence a Ele, todos nós somos Dele, mas Deus não é um patrão que espera tudo pronto: Ele próprio cuida de sua videira. Ele trabalha em sua Videira, mas com especial atenção para com os ramos.

Jesus Cristo é o tronco principal por onde passa a vida (a seiva) que alimenta todos os ramos. Ligados ao tronco que é Cristo, temos a certeza que nós estamos ligados em Deus e temos a vida eterna. E Deus cuida da videira inclusive quando poda os ramos. Como na imagem do pastor, onde Jesus convida todos a serem suas ovelhas e se deixarem guiar por Ele, do mesmo modo hoje: precisamos estar ligados à Verdadeira Videira que é Jesus.

Mas, não basta o tronco ser perfeito e o agricultor zeloso com a planta, é preciso que cada ramo (nós) seja também podado (corrigido, purificado) para que possa produz mais e mais frutos. A poda tem a função de eliminar tudo que é inútil no ramo, tudo que atrapalha produzir frutos. Feito no momento certo, a podadura fortalece a planta e faz com que os frutos venham com mais vigor e abundância. Na terra de Jesus, a podadura é feita no tempo do inverno quando a planta está sem folhas e, aparentemente, morta. Para a planta é uma perda ou “sofrimento” em um momento de “recolhimento” da planta no inverno. Podemos perguntar a nós mesmos: Quanta coisa em nossa vida precisa ser cortada e podada por Deus? Quantas purificações (cortes) nós precisamos passar para produzir frutos segundo Deus Pai? Sem a poda (corta das coisas inúteis), a planta desperdiça seiva (vida), fica fraca e não produz fruto.

Nesta vinha do Senhor, o Pai é o agricultor e cuida da sua planta (Igreja). Jesus é o tronco principal e seus filhos e filhas são os ramos. O tronco produz a seiva, necessário para a vida de cada ramo. Jesus afirma que cabe somente ao Pai cortar os galhos inúteis que roubam a seiva e não produzem nada. Há uma grande tentação em todos nós de fazermos isso que cabe ao agricultor da vinha, Deus Pai. Como na parábola do Joio e do Trigo (cf. Mt 13,24-30), a iniciativa não deve ser nossa, mas de Deus que realiza sempre no momento certo. Cabe a cada um se preocupar em produzir bons frutos.

            Nesta imagem de Jesus, todos produzem algo: Deus Pai providencia tudo para todos; Jesus dá sua seiva (vida eterna) para cada ramo e estes também precisam produzir algo: os frutos. Não basta estar ligado ao troco e somente receber; é fundamental doar e produzir frutos. Tudo é dado gratuitamente da parte de Deus e de Jesus, assim cada fiel precisa também gratuitamente “dar frutos”.

Depois de apresentar a imagem da Videira Verdadeira, Jesus faz uma alerta e ao mesmo tempo um convite: permanecer sempre ligado a Ele, pois somente assim, seremos capazes de ter vida e produzir frutos sempre. O ramo ligado ao tronco é chamado a ser instrumento e canal de graças. Os frutos que os ramos produzem não são pra eles próprios, mas para os outros. Estar ligado a Jesus não é desejar que tudo “venha a nós” e que permaneça em nós, mas ser canal por onde a graça passe e produza frutos para alimentar o mundo. Esta é a nossa vocação estando ligados a Cristo: produzir frutos neste mundo segundo a vontade do Pai. O “ramo” na videira que pensa somente em receber a seiva e não produz frutos, esse será cortado pelo Deus Pai agricultor.

Na videira, os frutos são o processo final da profunda comunhão dos ramos com o tronco (Jesus) que por sua vez está enraizado no chão de Deus. Uma profunda ligação onde a seiva percorre tudo para, na extremidade dos ramos, se transformar em frutos. Jesus como tronco é o canal da “Seiva de vida” de Deus Pai e nós (como ramos) devemos fazer a mesma coisa: produzir frutos de Deus neste mundo.

Quais frutos devemos produzir? Certamente não são aqueles que muitos esperam (riqueza, bens, poder etc.). Os frutos que Deus deseja que produzamos são aqueles que o próprio Jesus produziu: bondade, mansidão, caridade, justiça, paz etc. Jesus insiste, afirmando algumas vezes, que é necessário “permanecer” estar ligado a Ele. Não basta, de vez em quando se lembrar Dele; ou algumas vezes, dar um pouco do tempo a Ele; ou ainda, se lembrar Dele quando há algum problema. Permanecer em Jesus é algo constante que vai além de alguns momentos ou situações. Os ramos precisam estar ligados ao tronco constantemente para permanecerem vivos e receber a seiva da vida. Da mesma forma, nós devemos estar ligados em Cristo: como se a nossa vida estivesse em jogo.

Perseverar na comunhão com Jesus mesmo diante das dificuldades é algo que aprendemos com os apóstolos e discípulos no início da Igreja. Na primeira leitura, temos o testemunho de Saulo (Paulo) que teve que reaprender a cumprir a vontade de Deus. Antes, ele achava que era perseguindo quem anunciasse a fé em Cristo; depois, Paulo descobrir que era exatamente anunciando esta fé que estava a vontade de Deus. Paulo mudou completamente sua vida quando conheceu Jesus, exemplo para todos nós.

Na segunda leitura temos uma ajuda para entendermos como podemos permanecer ligados a Cristo e assim, termos a seiva da vida. Segundo João é necessário organizar a nossa vida, não somente em palavras, mas com fatos. Quem permanece em Jesus, cumpre os Seus mandamentos e a Sua vontade a começar pelo Mandamento Maior que é amar uns aos outros. Para Jesus, Amar o próximo é viver na Verdade! Para Paulo, na primeira leitura, foi fundamental a sua acolhida dentro da Igreja de Cristo, ela que é o corpo de Cristo neste mundo. Estar em comunhão com sua Igreja é estar ligado a Jesus Cristo.

Sabemos que uma das formas privilegiadas para permanecermos ligados a Jesus, Videira Verdadeira de Deus, é através da oração que não deve ser em alguns momentos somente, mas uma vida transformada em oração. Por isso, a prática dos mandamentos de Deus e os ensinamentos de Jesus devem ser a seiva que alimenta e dá vida a todos nós. Na oração, nós recebemos tanto de Deus. E todas as graças que recebemos, sem nenhum mérito nosso, são dons que nós devemos passar aos outros através de nossos gestos e atitudes. Esses são os frutos que Jesus espera que nós produzamos estando ligados a Ele.

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A Comissão Especial para a Causa dos Santos apresenta propostas ao episcopado brasileiro

A 20ª sessão da 61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se realiza em Aparecida (SP), foi dedicada à “Comissão Especial para a Causa dos Santos”, que visa ao fortalecimento da missão da Igreja Católica no Brasil no reconhecimento e promoção dos santos e mártires.

A comissão é constituída pelo presidente, o arcebispo metropolitano de Pouso Alegre (MG), dom José Luiz Majella Delgado, pelo bispo da diocese de Crato (CE), dom Magnus Henrique Lopes, e pelo bispo-auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte (MG), dom Júlio César Gomes Moreira. Exerce a função de secretário o subsecretário adjunto geral da CNBB, padre Patriky Samuel Batista.

Histórico e objetivo

Dom José Luiz Majella Delgado preside a Comissão. | Fotos: Victória Holzbach – Comunicação 61ª AG CNBB.

De cordo com dom Majella, a Comissão teve sua criação em 2016 sob a liderança do arcebispo emérito de Mariana (MG), dom Geraldo Lyrio Rocha, que afirmou: “É muito justo que a CNBB, entre suas diversas comissões, tenha uma dedicada à causa dos santos”. A comissão já desenvolveu e aprimorou diversos processos relacionados à causa dos santos.

O objetivo principal da Comissão é acompanhar os inquéritos diocesanos referentes à causa dos santos da Igreja no Brasil. Formada por especialistas e membros da CNBB, a comissão colabora com o Dicastério para a Causa dos Santos, por meio de orientações, informações e serviços para a formação de interessados na área.

Com estreita cooperação com o Dicastério para a Causa dos Santos, os objetivos estratégicos da comissão incluem a assistência aos bispos na etapa fase diocesana, além da promoção de encontros com postuladores das causas dos santos no Brasil. Em parceria com uma universidade católica no Brasil, está também prevista a criação de uma escola de formação para postuladores,

Postulador no Brasil

O postulador de diversos processos de beatificação e canonização no Brasil, o italiano Paolo Vilotta, participou da assembleia. Ele foi o responsável pelo processo de canonização de Santa Dulce dos Pobres e o de beatificação de Isabel Cristina Mrad Campos. Atua também em outros processos de beatificação, entre os quais o do Mons. Alderigi Maria Torriani, de nossa arquidiocese.

Paolo Vilotta deu destaque à colaboração entre postuladores das causas dos santos, o que fortalece os processos nas dioceses do Brasil. Segundo ele, a contribuição dos postuladores inclui a atualização das práticas e orientações do Dicastério para a Causa dos Santos.

Os membros da comissão apresentaram o projeto “Comissão dos Novos Mártires – Testemunhas da Fé”, uma iniciativa do Papa Francisco para o Jubileu de 2025. O projeto visa à criação de um catálogo dos mártires do primeiro quarto do século XXI, com seus nomes, vidas e memórias das pessoas que perderam a vida por causa da fé. Dom Majella concluiu sua apresentação com uma frase do Papa João Paulo II: “O Brasil precisa de muitos santos e santas.”

Com colaboração do padre Tiago Síbula (Comissão de Comunicação) - Comunicação 61ª AG CNBB

Na Coletiva de Imprensa desta quinta-feira, dia 18 de abril, dom Majella falou sobre o tema e também respondeu a perguntas de jornalistas sobre o assunto. Assista à Coletiva.

Matéria adaptada do site da CNBB, com citação relacionada ao processo de beatificação do Mons. Alderigi e à participação de dom Majella na Coletiva de Imprensa.


#Reflexão: 4º Domingo da Páscoa (21 de abril)

A Igreja celebra o 4º Domingo da Páscoa, neste domingo (21). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: At 4,8-12
Salmo: 117(118),1.8-9.21-23.26.28cd.29 (R. 22)
2ª Leitura: 1Jo 3,1-2
Evangelho: Jo 10,11-18

Acesse aqui as leituras.

ESCUTAR E SEGUIR JESUS, BOM PASTOR   

A Igreja sempre no IV domingo da Páscoa celebra uma das mais belas imagens que o próprio Jesus aplicou a si mesmo: Bom Pastor. Pastor que cuida de suas ovelhas é uma imagem presente desde o Antigo Testamento. Nasce com Davi, rei pastor, passa pelos profetas e, por fim, o próprio Jesus também utiliza para si. Esta profissão era comum para o povo do tempo e da região de Jesus. Eles não eram bem vistos, pois precisavam deslocar suas ovelhas por pastos que não eram deles e levavam seu rebanho para beber água em rios que estavam em outras propriedades.

O pastor com seu pequeno rebanho, no entanto, era a imagem da profunda relação que existia entre os animais e o seu dono. As ovelhas são animais sem muita visão, medrosas e completamente indefesas, facilmente vítimas de qualquer animal feroz. Sobrava somente para elas a audição para confiar. Do rebanho, o pastor tira todo o seu sustento: lã para roupas, o leite, o queijo, a manteiga e a carne. Defender o seu rebanho era garantir sua própria subsistência.

Ao anoitecer, o rebanho era reunido em um local provisório, feitos de amontoados de pedras. Era comum, vários pastores reunirem os seus rebanhos em um mesmo local para se distanciar por um tempo. No dia seguinte, bastava cada pastor chamar pelo nome suas ovelhas que elas iam ao seu encontro. No Evangelho de São João, esta comparação de Jesus como Bom Pastor foi colocada logo depois da cura do cego (Jo 9). Ele escuta e crê na voz de Jesus que o cura.

Jesus afirma que o pastor comum cuida do seu rebanho e pode até defendê-lo, mas jamais daria sua vida pelas ovelhas. Jesus é um pastor diferente: Ele dá sua vida mesmo que o rebanho não esteja em perigo. Fascinante: um Deus que não pede, mas se oferece; não pretende nada de nós, mas oferece o melhor de si; não tira nenhuma vida, mas doa a sua própria. Doar-se completa e totalmente é o que diferencia Jesus dos demais pastores.

            Jesus não é só “um pastor” que possui ovelhas, mas no Evangelho de São João é um pastor que luta por suas ovelhas. Que possui um amor por cada uma a ponto de doar a sua vida de uma forma total. O Pastor Jesus assim o faz porque ama a todos. O seu amor não é um amor sentimento que vivemos em nossas relações pessoais. É um amor que chega ao ponto de doar-se completamente até a morte sem pedir nada em troca.

O mercenário

Por sete vezes no Evangelho de João, Jesus se apresenta com a expressão “Eu Sou...” (...o pão da vida; luz do mundo; ...porta das ovelhas etc.; cf. Jo 6,35; 8,12; 10,7ss; 10,11ss; 11,25; 14,6 e 15,1.5). É uma forma de apresentação do Cristo Jesus presente somente no quarto Evangelho que lembra o nome de Deus do AT. A última ocorrência desta importante expressão “Eu Sou”, Jesus profere quando os soldados do Templo chegam para prendê-Lo, após Jesus perguntar: “A quem buscais?”. Ele não recua e nem foge, mas afirma sua identidade própria: “Eu sou” (no lecionário encontramos: “sou Eu”).

A expressão “Bom Pastor”, o autor São João usa um adjetivo que não significa somente “bom”, mas também “belo”. O evangelista não quis falar da bondade de Jesus como pastor, mas de sua beleza em relação àquilo que ele faz. Ele não cuida somente das ovelhas, mas conhece a todas e doa-se completamente por elas. O mercenário (ou assalariado) somente trabalha com elas e recebe o seu salário, mas não faz mais nada muito menos doar-se completamente pelas ovelhas.

O alerta de Jesus vale sempre para os dias atuais: há muitos que se colocam como pastores de pessoas, dizem coisas de Deus, mas não querem saber de se doar completamente pelo seu rebanho. Recebem tudo, mas jamais serão capazes de doar a vida por cada ovelha do seu rebanho. Como Jesus afirma, são “mercenários” fazem tudo somente pelo dinheiro que o rebanho pode oferecer. Ao abandonar suas ovelhas, tornam-se iguais ao lobo (o mal) que devora e mata.

Em seguida, Jesus descreve quem é o verdadeiro pastor: “ele chama as ovelhas pelo nome”. A relação do pastor com as suas ovelhas, é algo pessoal: ele conhece cada uma. Tratar as pessoas como números não cria ligação e nem afeto. Chamar pelo nome representa uma profunda ligação entre eles. Após chamar pelo nome, “elas saem do local”. O pastor não quer que as ovelhas fiquem no local (numa segurança de pedras), mas convida a caminhar com Ele, por isso, chama cada uma para sair e se deixar guiar por Jesus.

O Pastor tira as ovelhas daquele local, reúne o seu rebanho e caminha a frente dele. As ovelhas que o conhecem e aceitam o seu chamado, fazem parte do seu rebanho e por isso, aceitam o seu comando. Com Jesus, elas caminham para abundância de água e para a vida. Mas, entre o Pastor e as ovelhas é necessário ter uma profunda confiança. Ele chama e convoca, e cada um deve decidir ir ao seu encontro.

“Ouvir sua voz”. Todos nós reconhecemos nossas limitações espirituais e muitos se deixam iludir por aquilo que veem e aquilo que encanta, mas o verdadeiro Pastor tem uma voz que deve ser diferenciada de outras vozes. Mais do que ver milagres, são os ensinamentos a “voz do pastor” que temos que aceitar.

“Ouvir sua voz e sair”. Muitas vezes, as pessoas criam locais fechados e realidades que as cercam, mas não as protegem; locais contaminados pelo pecado e às vezes até de morte (mentira, egoísmo, traições...). É preciso ouvir a voz do Bom Pastor e seguir o seu ensinamento. Além de ouvir, Jesus nos convida a nos deixarmos conduzir por Ele. É preciso caminhar, tendo Jesus Bom Pastor como guia, mas devemos segui-lo como um só rebanho. Assim, é necessário nos colocarmos como ovelhas imitando o Bom Pastor que quer o bem de todos; que unir a todos e transformar cada pessoa como um irmão e uma irmã. Um rebanho composto por diversas e variadas ovelhas que têm em comum o único Pastor Universal.

“Ser ovelha” não é algo que nos aguarda. Ovelha é um animal frágil que precisa sempre de um guia; quem indique o caminho. Todos somos um pouco “ovelhas”, seguimos alguém, algo ou ideias. Mas, só Jesus se oferece como Pastor que doa sua vida por nós. Muitas querem Jesus como Pastor, mas não aceitam que Ele realmente guie sua vida. Querem um pastor que faça mais a vontade deles, mas não aceitam que Ele os conduza realmente para aquilo que dá vida em abundância.

Na imagem proposta por Jesus no Evangelho de hoje, o Pastor guia um rebanho e não ovelhas isoladamente. Ele nos conhece, mas o seu caminho é sempre um só. Ele que vai à frente e temos que segui-lo, juntos, logo atrás dele. Mas, existem “ovelhas” que querem um “pastor pessoal”. Um pastor que siga os seus passos e que aceite o seu caminho. Não existe pastor de uma ovelha só, mas sim Pastor de um único rebanho. A estrada que o Pastor segue é uma só, nós é que temos que nos reunir como um só rebanho.

Assim, é fundamental aceitarmos ser guiados por Jesus Bom Pastor: ou seguimos Jesus ou seguimos outras pessoas ou o nosso próprio pastoreio (“eu sou o meu próprio pastor!”). Como Igreja, nós caminhamos como um único rebanho e pela igreja escutamos sua voz vivendo como irmãos e irmãs como sempre desejou Jesus e propõe em seus ensinamentos, o que ouvimos na 2ª leitura.

Muitos, ainda hoje, querem somente receber do pastor o “melhor pasto” e “água mais refrescante”, o melhor de coisas materiais, mas o que realmente promete oferecer a nós como Bom Pastor é Ele próprio, Sua vida por nós! É a experiência de fé que vemos de Pedro na 1ª leitura que redescobriu Jesus não somente como alguém com belos ensinamentos, mas um Pastora que doou sua vida por toda a humanidade, inclusive pelos seus próprios assassinos. Por isso, o único caminho de Salvação é aceitar e se deixar guiar por Jesus vivendo os seus ensinamentos.

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Dom Majella marca presença na 61ª Assembleia Geral da CNBB

Com início em 10 de abril, a 61ª Assembleia Geral da CNBB reúne bispos de todo o Brasil no Santuário Nacional de Aparecida.

Reunindo cardeais, arcebispos, bispos diocesanos, bispos eméritos, administradores diocesanos e representantes de organismos e pastorais da Igreja, a 61ª Assembleia Geral busca discutir assuntos pastorais e problemas emergentes na vida das pessoas, da sociedade e da Igreja Católica no Brasil.

Do dia 10 ao dia 19 de abril, a programação da Assembleia se desdobra em quatro sessões diárias, totalizando 27 ao longo das duas semanas. Com o tema central “A realidade da Igreja no Brasil e a atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora”, os líderes reunidos debatem quatro temas prioritários:

  • Sínodo dos Bispos 2021-2024
  • Jubileu 2025
  • Relatório da Presidência
  • Juventude

Nosso arcebispo metropolitano, Dom José Luiz Majella Delgado, marca presença na Assembleia, discutindo junto aos demais bispos temas referentes à evangelização no Brasil e à vida da CNBB, além do tema central.

A Assembleia também conta com a presença do cardeal Dom Pietro Parolin (secretário de Estado do Vaticano), Dom Giambattista Diquattro (núncio apostólico no Brasil), Dom Jaime Spengler (arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB) e Dom Orlando Brandes (arcebispo de Aparecida).

Texto: Italo Cavalcante

Fotos: Leste II, CNBB


Viva a Páscoa

Viver, no sentido literal da palavra! A Páscoa é para ser vivida, pois significa passagem para vida nova que renasce!

“Ele ressuscitou. Não está aqui” (Mc 16,6).

A Páscoa é a maior festa da vida do católico! Motivos inúmeros temos para comemorar a Páscoa do Senhor! O Senhor ressuscitou! A vida triunfou sobre a morte! O túmulo está vazio! Ele vive!

Somos bombardeados pelas propagandas, mídia e o comércio que fazem com que as pessoas esqueçam o verdadeiro sentido da Páscoa. Para alguns, é um feriado prolongado; para outros, época de comer ovos de chocolate; outros, viajar, gastar, ostentar, comprar... enfim, neste cenário perdemos a essência deste dia tão especial para nós.

No ano de 1959, em sua homilia, São João XXIII reforça nossas reflexões ao dizer que: "nossa Páscoa é, portanto, para todos uma morte ao pecado, às paixões, ao ódio, às inimizades, a tudo aquilo que é fonte de desequilíbrio, amargura e tormento na ordem espiritual e material. Esta morte é, na verdade, apenas o primeiro passo para um objetivo maior, pois nossa Páscoa é também um mistério de vida."

 A Igreja Católica reserva um tempo em seu calendário litúrgico para vivermos e festejarmos a Páscoa em nossas vidas! Chamado de tempo Pascal, ele se estende desde o Domingo de Páscoa até o dia de Pentecostes. Neste tempo, permanece aceso nas celebrações eucarísticas o círio pascal que representa Cristo ressuscitado, luz que venceu as trevas.

No período Pascal, revivemos e renovamos nossa fé. A vida, ao triunfar sobre a morte, nos faz deixar para trás, no túmulo, todo sofrimento, dor, angústias, tristezas, depressões e amarguras.

O que deve prevalecer e ser exaltado por todos e nos contagiar é a vida nova que ressurge, que nos reergue das trevas para luz, que alimenta nossa esperança e nos leva a crescer cada dia mais no amor, na justiça, na caridade, na paz e na unidade com os irmãos e irmãs.

A ressurreição é a maior prova de que Jesus é Deus!

Nossa fé se fundamenta em um Deus vivo e verdadeiro que venceu a morte e nos trouxe a vida. Aquele que tem fé e acredita na ressurreição sabe o quão importante é este dia. O próprio São Paulo disse que vã seria nossa fé se Cristo não tivesse ressuscitado. (1Cor 15, 14).

Não temos nada a perder, temos que acreditar e aproveitar deste tempo Pascal para mergulhar no mistério da morte e ressurreição de Jesus, renovar nossas forças, aumentar nossa fé, louvar e agradecer, cantar as maravilhas do Senhor! E sobretudo, levar nossos semelhantes a entenderem a maravilha de celebrar a Ressurreição de Jesus, a grande  festa da Páscoa!

Referências:

https://presbiteros.org.br/homilia-de-mons-jose-maria-pereira-domingo-de-pascoa-ano-c/

https://diocesedecampos.org.br/homilia-domingo-da-pascoa-do-senhor/

https://santuario.cancaonova.com/artigos-religiosos/o-que-os-santos-falam-sobre-o-periodo-pascal/

https://www.acidigital.com/noticia/51830/oito-reflexoes-dos-santos-sobre-a-pascoa-da-ressurreicao

https://www.cnbb.org.br/cirio-pascal-sinal-do-cristo-ressuscitado/

https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/pascoa-seu-real-sentido/    

Referências de imagem: https://www.a12.com/redacaoa12/espiritualidade/cristo-ressuscitou-a-morte-foi-vencida


Benção do novo túmulo dos restos mortais do Monsenhor Alderigi

Restos mortais do Servo de Deus Alderigi Torriani são transladados pra nova capela

No último dia 03 de abril, o Santuário Arquidiocesano de Santa Rita de Càssia, localizado na cidade de Santa Rita de Caldas, foi celebrada o Dia de Oração pela Beatificação do Servo de Deus Monsenhor Alderigi Maria Torriani, falecido em 03 de outubro de 1977. A Missa foi presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Pouso Alegre, dom José Luiz Majella Delgado, CSsR e concelebrada pelo padre Benedito Luciano da Rosa, pároco da Paróquia Santa Rita e Padre Lucas Crispim, membro da Comissão da Causa da Beatificação do monsenhor.

Pode ser uma imagem de 4 pessoasNo início da Celebração Eucarística, Bruno Souza testemunhou a comunidade paroquial a graça alcançada por intercessão do Servo de Deus: a recuperação da saúde de sua filha, Laura. Desacreditada pelos médicos, se apegaram a oração e receberam várias reliquias do padre Torriani, onde depositavam no travesseiro da filha e o milagre aconteceu. Assista ao testemunho da família Souza, clicando aqui.

Em sua homilia, Dom Majella recordou um pouco sobre a Missão do padre Alderigi e a importância deste momento celebrativo:

Hoje nós estamos sendo agraciados com este movimento de vida. Ou seja, o translado dos restos mortais de Padre Alderigi para serem depositados no túmulo. É um movimento que traz vida. Não estamos fazendo um movimento de morte, mas um movimento de vida. Este é o movimento de vida, uma Igreja viva que vem aqui de joelhos, se coloca diante dos restos mortais deste sacerdote que aqui buscou a santidade. [Alderigi] não queria ser santo sozinho. Que nós possamos levar isso à frente. Se queremos que o Padre Alderigi seja santo, nós também precisamos nos esforçar e nos dedicar no caminho da santidade. A santidade é uma conquista do amor de Deus”.

Ao final da Missa, a urna contendo os restos mortais do Servo de Deus foi levada para a capela mortuária que foi abençoada por Dom José Luiz Majella e aberta para oração dos fiéis.

Confira a transmissão completa da Missa aqui.

Sobre a Capela

Pode ser uma imagem de pia e texto

A obra projetada pelo arquiteto João Gabriel Junqueira, fica localizada no interior do Santuário de Santa Rita de Cássia, ao lado direito do presbitério. “Desde a concepção do projeto, foi pensado que o Padre Alderigi ficasse envolto pelas montanhas de Minas, onde Padre Alderigi peregrinou, evangelizou, deixou sua mensagem e pregou o Evangelho. A ideia, com certeza, foi que nós tivéssemos um espaço de oração, contemplação, para que cada um pudesse ali, assim como Dom Majella falou, ter uma experiência com Jesus”, relata o arquiteto.

Quem foi Monsenhor Alderigi Torriani?

Nascido em Jacutinga (MG) em 13 de novembro de 1895, Alderigi sentiu-se desde pequeno o chamado de Deus ao sacerdócio. Sua vocação foi semeada na Rodovia em Andradas poderá ter nome do monsenhor Alderigivida em comunidade culminando em sua entrada ao Seminário de Pouso Alegre e em sua Ordenação Presbiteral em 1920.  Desde os primeiros anos de padre, desempenhou papéis importantes na diocese pouso-alegrense, como Vigário Cooperador na Catedral e Diretor do Ginásio Diocesano, atual Colégio São José. Exerceu também seu ministério em Brazópolis e Camanducaia, até que em 1927 chega a cidade de Santa Rita de Caldas com 32 anos.

Padre Alderigi, com sabedoria e amor, dedicou toda sua vida ao povo desta paróquia e aos peregrinos que por ali passavam. A pequena igreja matriz tornou-se um santuário onde milhares de peregrinos iam para apresentar a Deus, por intercessão de Santa Rita, seus pedidos e necessidades e para louvar e agradecer as graças recebidas.

Torriani foi, também, apóstolo do confessionário. Nele, passava horas e horas atendendo, com carinho e, às vezes, energicamente, as confissões dos fiéis. Ele sabia que somente um coração que reconhece seus pecados diante de Deus e dos irmãos e recebe o sacramento da penitência pode estar aberto para acolher as graças que vêm dos céus! Por isso, o santuário e o confessionário tornaram-se sua casa. Ali, nos domingos e festas,  se alimentava e passava o dia todo esperando e acolhendo as pessoas e, com elas, celebrando os sacramentos e anunciando a Palavra que dá vida e salvação.

O padre faleceu aos 82 anos de idade, no dia 03 de outubro de 1977, 50 anos após sua chegada a cidade. Após autorização enviada pela Congregação das Causas dos Santos, a Arquidiocese iniciou sua causa de beatificação e canonização em 3 de fevereiro de 2001.

Saiba mais da vida do Servo de Deus Monsenhor Alderigi Maria Torriani, clicando aqui

Fase do Processo de Beatificação

Durante a homilia da Missa de Translado do Corpo do Padre Alderigi, Dom Majella explicou aos fiéis a atual fase do processo para beatificação:

“Em dezembro de 2023, iniciamos a fase que se chama Positio. Todos os documentos que foram colhidos aqui na paróquia, desde a sua infância até a sua morte, foram compilados em um material, juntamente com as graças recolhidas. Este material foi enviado a Roma, para o Dicastério das Causas dos Santos. Posteriormente foi lido e revisado pela Postulação dos Santos. Concluiu-se assim a fase arquidiocesana.

Este material agora está nas mãos de peritos, teólogos, cardeais, que estão estudando todo o material para reconhecer as virtudes do Padre Alderigi. Com a Igreja reconhecendo as virtudes do Padre Alderigi, ele se torna Venerável. Após ser declarado Venerável, é preciso um milagre reconhecido cientificamente de Padre Alderigi para que ele se torne Beato, e, depois, mais dois milagres comprovados para ser canonizado, ou seja, ser declarado Santo. Intensifiquemos nossas orações pelo seu processo e sempre peçamos a sua intercessão”.

Confira algumas fotos da Celebração Eucarística


#Reflexão: 3º Domingo da Páscoa (14 de abril)

A Igreja celebra o 3º Domingo da Páscoa, neste domingo (14). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: At 3,13-15.17-19
Salmo: 4,2.4.7.9 (R. 7a)
2ª Leitura: 1Jo 2,1-5a
Lc 24,35-48

Acesse aqui as leituras.

NÓS SOMOS TESTEMUNHAS!

Os textos que relatam a Páscoa de Cristo retratam experiências pessoais e comunitárias entre o Ressuscitado e os seus discípulos. Após a sua ressurreição, era necessário que Jesus tocasse pessoalmente os discípulos que ainda estavam mergulhados nas dores e nos sofrimentos da negação de todos e da perda de seu Mestre.

No Evangelho deste domingo, Lucas parte de mais uma experiência pessoal de dois discípulos que após uma caminhada juntos com Jesus Ressuscitado, O reconhecem quando Ele partiu o pão e em seguida partiram para retornar à Jerusalém.

Certamente, tinham participado da “Última Ceia” e o gesto definiu a vida inteira de Jesus Mestre: repartir, doar-se, entregar-se totalmente pelo bem do próximo.

O Domingo da Páscoa foi um dia da experiência profunda entre os discípulos e Jesus que procurou resgatar e retomar sua comunhão com eles a partir de um gesto (como partido do pão), uma palavra conhecida ou o nome pessoal de cada um. As experiências pessoais ajudaram a dar início ao novo momento que Jesus tinha planejado para os seus discípulos, mas era necessário que o grupo dos apóstolos, a comunidade que Ele próprio fundou, sua Igreja, fosse testemunha da Ressurreição.

Assim, enquanto os discípulos que tinham retornado de Emaús contavam com alegria e entusiasmo que também eles tinham visto o Ressuscitado, Cristo se apresenta e se coloca no meio deles (Jesus Cristo como centro!).

No meio: não acima deles; não na frente, para que ninguém interrompesse a comunhão com o próximo. Mas no meio: todos são igualmente importantes e Ele é o centro do olhar de todos.

Em todas as experiências com Jesus ressuscitado desde o início do Domingo da Páscoa, tudo acontece aos poucos, sem barulho ou impacto: Jesus se revela e os discípulos permanecem ainda confusos, Cristo lhes fala de algo que toca seus corações, por fim, cada pessoa percebe que está diante do Mestre Ressuscitado. Já nas manifestações em comunidade (ao final do dia), Jesus aparece e se revela claramente e imediatamente a todos.

Lucas repete a “palavra chave” usada por Jesus para mostrar a todos os presentes que era Ele realmente: “A paz a vós!”.

Jesus Ressuscitado é o Senhor da Paz e da Vida Nova e não da violência e da vingança! Em quase todos os relatos sobre as aparições do Ressuscitado, o medo era o sentimento inicial presente nos corações de todos, por isso, Jesus cura a todos derramando sua paz. Ninguém tinha vivido e ensinado o verdadeiro valor da palavra paz, senão Jesus enquanto esteve com eles.

Mas, não obstante tantos os relatos e as experiências pessoais, todos ainda tiveram dificuldade de, imediatamente, acreditar que se tratava do mesmo Jesus que eles conheceram. Lucas - como os outros evangelistas - narra as tentativas da parte de Jesus Ressuscitado de mostrar que não se tratava de uma visão, ou de outra pessoa ou pior ainda, de um fantasma, mas que era Ele próprio, Jesus de Nazaré que eles tinham conhecido.

Jesus é o mesmo de sempre e ao mesmo tempo é diferente, transformado; é o mesmo de antes, mas não mais como antes: a Ressurreição não é um simples retorno para esta vida, é avançar pra frente, é transformação, é plenitude.

A ressurreição não é um reavivamento (retorno para a vida de antes), mas uma vida nova a partir desta nossa vida; não é algo totalmente estranho distante de nossa realidade presente, mas uma continuidade desta nossa realidade em uma dimensão de perfeição e santidade. Consola-nos em ver a dificuldade de todos em acreditar de imediato em Cristo Ressuscitado, é a garantia de que não se trata de um acontecimento inventado por eles, mas de um fato que os chocou e que tiveram dificuldade para entender e acreditar.

Assim, Cristo, para eliminar definitivamente qualquer dúvida, desafia a todos a tocá-Lo: Ele estava vivo e presente, por isso afirma: “um espírito não tem osso!”. Mesmo assim, a comunidade dos discípulos que tinha caminhado por três anos com Nosso Senhor ainda vacilava em acreditar que se tratava do mesmo Jesus Mestre que eles tinham conhecido. “Eu não sou um fantasma”. Impressiona-nos o lamento de Jesus, um lamento muito humano: não sou um sopro no ar, um monte de palavras cheio de vento... Ele quer ser acolhido como um amigo que volta de longe, de ser abraçado com alegria. Você não pode amar um fantasma ou mantê-lo perto de você, é o que Jesus pede (Ermes Ronchi).

Por isso, o Ressuscitado apelou para o gesto de intimidade que eles conheciam: compartilha com eles uma porção de peixe assado. Sentar-se a mesa e comer do mesmo pão e peixe, certamente tinha sido algo diário entre Jesus e os seus discípulos. Em torno da mesa, Nosso Senhor deve ter conversado e ensinado muita coisa.

Por fim, os apóstolos se rendem a partir de uma porção de peixe assado, gesto profundamente familiar, realidade humana das mais profundas; um pedaço de peixe assado, rompe seus corações, não uma profunda teologia ou uma revelação espetacular. Eles o contarão como prova do encontro com o Ressuscitado: “comemos com ele depois da sua ressurreição” (At 10,41). Comer é sinal de vida; comer juntos é o sinal mais eloquente de uma comunhão redescoberta; um gesto que fortalece os vínculos das vidas e as faz crescer. Juntos, alimentamo-nos de pão e de sonhos, de entendimentos e de reciprocidade. E conclui: vocês são minhas testemunhas. Não pregadores, mas testemunhas, isso é outra coisa.

Jesus sempre promoveu como meio principal de evangelização os encontros pessoais e comunitários. As palavras do Mestre ganhavam um gosto pessoal e íntimo quando sempre eram seguidas com gestos concretos de fraternidade e de acolhida.

Compartilhar sentimentos de amor e paz, de comunhão e perdão foram sinais sensíveis que Jesus deixou no coração dos apóstolos e dos discípulos, por isso, em suas aparições Nosso Senhor retoma a comunhão com todos com esses mesmos gestos conhecidos por eles.

Sanada a dúvida de que se tratava do mesmo Jesus que conheceram, mas agora ressuscitado e vivo em meio a eles, era necessário aprofundar os fatos e tudo que tinha acontecido. Cristo usa o mesmo precioso instrumento para revelar que nada do que aconteceu, por mais estranho e doloroso que tinha sido, estava fora do projeto de Deus. As Escrituras já tinham previsto tudo, mas ninguém tinha atinado para isto. Dessa forma, agora com toda comunidade reunida, Jesus explica e aprofunda os fatos de sua paixão através da Palavra de Deus.

A Bíblia sempre foi e será o principal instrumento do encontro e da intimidade com Deus. Mais do que conhecimento, Deus quer sempre tocar e iluminar os nossos corações com suas Palavras.

Em sua catequese com as Escrituras, o ponto principal que Jesus procurou frisar foi sobre a remissão dos pecados.

A sua morte e a ressurreição de Cristo não foram um gesto isolado ou algo corajoso, mas redentor e salvador de toda a humanidade. Por isso, a Páscoa de Jesus (sua morte e ressurreição) deveria ser anunciada por todos e a todos. Eles deveriam ser “Testemunhas” (não somente anunciadores) desta verdade.

As revelações pessoais foram o ponto inicial naquele Domingo do Ressuscitado, mas era fundamental que o grupo dos apóstolos e discípulos, a sua Igreja, fizesse a mesma experiência comunitária da fé, pois mais que “encontros pessoais” com o Ressuscitado, deveriam anunciar uma mesma é única fé no Cristo Jesus Vivo e Ressuscitado, uma fé comum da Igreja de Cristo.

Nos textos que seguem a ressurreição de Cristo que encontramos nos Atos dos Apóstolos vemos o testemunho não de experiências pessoais, mas da fé da Igreja de Cristo: “Nós somos testemunhas!” Não um Jesus Cristo pessoal e moldado aos caprichos pessoais de cada um, mas o Cristo de sua Igreja, revelado a sua comunidade de discípulos. Sozinhos, certamente, teriam conseguido muito pouco, mas como Igreja, eles conseguiram vencer todos os obstáculos.

Pedro, na primeira leitura, anuncia Jesus Ressuscitado partindo das Escrituras (como o próprio Ressuscitado fizera com eles) e destemido denuncia o erro e o pecado de todos (“vós renegastes o próprio Santo e Justo...”), mas também anuncia o caminho de Salvação: arrepender dos pecados. Ele mesmo tinha experimentado o pecado de negar o Senhor e foi perdoado. Pedro anuncia a partir de sua experiência pessoal de ser perdoado pelo Ressuscitado que derrama sua paz que sana todo erro e todos os pecados.

A grande potência do anúncio dos apóstolos estava principalmente baseada no testemunho de vida e na força de suas palavras que eram já um “Evangelho vivo” de Cristo Ressuscitado. Vendo como viviam e como anunciavam, as pessoas se questionavam e se interessavam em conhecer aquele que é o nosso Salvador e Intercessor junto ao Pai (2a leitura).

Anunciar hoje Jesus Cristo, como foi no início da Igreja, é mostrar com testemunho de vida que as palavras têm um valor capaz de transformar tudo em paz e alegria. “Nós somos testemunhas” diziam os apóstolos ao final de cada anunciou sobre o Cristo Jesus. E nós hoje? O que cada um está testemunhando com sua vida aos outros sobre Jesus Cristo?

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Versões do divino

Translator

 

A Bíblia é uma extensa obra que, nascendo da intenção divina de revelar o Eterno ao humano, foi escrita, revisada, ampliada e transmitida ao longo de séculos, por diferentes tradições religiosas e culturais. O processo redacional dos textos sagrados é complexo e lento, e a obra final que se encontra canonizada como Palavra de Deus para a salvação humana, dividida em blocos temáticos (pentateuco, livros históricos, livros sapienciais etc) e didaticamente organizada em capítulos e versículos, é fruto do labor teológico de muitas e diferentes comunidades e pessoas que viveram em contextos e com interesses específicos. Os livros bíblicos, portanto, compõem uma literatura heterogênea, comportando uma grande diversidade de gêneros textuais (narrativas, crônicas, poesias, novelas etc), de períodos históricos e de níveis culturais, muito embora todos contenham a seguinte e homogênea mensagem: “Cristo morreu pelos nossos pecados (...); ele foi sepultado e, no terceiro dia, foi ressuscitado” (1Cor 15,3-4).

Segundo os estudos bíblicos modernos, a produção literária do Primeiro Testamento começou enquanto o rei Salomão reinou sobre o povo de Israel (970-931) e terminou cerca de 50 anos antes da encarnação da Palavra Eterna (cf. Jo 1,14), ao passo que os livros do Segundo Testamento foram escritos, muito provavelmente, entre os anos 50 e 100 d.C.. Essa milenar jornada redacional, que teve início com a transmissão oral da revelação divina e culminou na materialização da mensagem salvífica em tábuas de argila cozida, papiros e pergaminhos, produziu três importantes versões da Bíblia que serviram e servem de base para as várias traduções que foram e ainda são realizadas dos textos divinamente inspirados: a Tanakh hebraica, a Septuaginta grega e a Vulgata latina. Antes, porém, de conhecer cada uma delas, é importante reforçar a distinção entre versões e traduções: as versões são obras arcaicas que nasceram da reunião dos códices, ou seja, das cópias mais antigas da Bíblia, escritas nas línguas originais dos hagiógrafos (hebraico, aramaico e grego) ou na língua oficial do cristianismo romano (latim); já as traduções são transposições dos textos primitivos para línguas modernas como o português, por exemplo.

O primeiro registro da revelação divina foi composto pela tradição judaica, sendo conhecido como Tanakh - תַּנַ"ךְ - e constituindo a Bíblia hebraica, que mais tarde foi assimilada pelos cristãos como o Primeiro Testamento, isto é, como a preparação para a vinda do Messias Jesus, o filho que foi profetizado para Israel como príncipe da paz (cf. Is 9,6). A palavra Tanakh é um acróstico formado pelas letras iniciais dos três conjuntos de livros que compõem a Bíblia hebraica: T de Torah (תּוֹרָה significa instrução e é o conjunto dos cinco primeiros livros bíblicos), N de Neviim (נביאים significa profetas e é o conjunto de livros que compreendem textos proféticos e históricos) e K de Ketuvim (כתובים significa escritos e é o conjunto de livros que contemplam textos sapienciais e históricos). O cânon hebraico, que inicialmente ficou restrito a Israel e ao seu território, difundiu-se entre outros povos graças à diáspora que ocorreu depois do segundo exílio do povo de Deus (587-538 a.C.), quando os judeus que viveram como cativos na Babilônia espalharam-se por diversas regiões e levaram consigo a Tanakh.

Um grupo de judeus que migrou para o extremo norte da África, fixando-se próximo à cidade egípcia de Alexandria, produziu por volta do ano 250 a.C. a segunda versão da Bíblia chamada de Septuaginta. Alexandria foi um grande centro cultural do mundo helênico (ou seja, de tradição grega), fundado por Alexandre, o Grande, em 331 a.C; famosa por sua biblioteca, a cidade atraiu inúmeros estudiosos, dentre os quais vários judeus que se dedicaram ao estudo e ao ensino da Tanakh. Segundo conta a tradição, Ptolomeu II Filadelfo (287-247 a.C.), rei do Egito, encomendou uma cópia grega da Tanakh ao sumo sacerdote Eleazar que convocou seis sábios de cada umas das doze tribos de Israel para trabalhar na tradução dos textos. Os setenta e dois judeus sábios transpuseram os textos do hebraico e do aramaico para o grego koiné (Κοινή significa comum ou popular), que era a língua franca da época, isto é, adotada como forma de comunicação entre grupos multilíngues, utilizada nos territórios do Mediterrâneo Oriental e do Oriente Próximo. A Septuaginta (palavra derivada do termo grego setenta, εβδομήντα) ou Versão dos Setenta (LXX) foi a Bíblia conhecida e utilizada por Jesus e por seus apóstolos, cujo cânon era idêntico à versão antiga da Tanakh que continha os sete livros que mais tarde foram desconsiderados pelos judeus (Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus).

Num movimento de restrição da revelação e da Palavra de Deus ao mundo judaico, os fariseus que se deslocaram para o vilarejo israelense de Yavneh (nome traduzido para o latim como Jâmnia), depois da destruição do Templo e da cidade de Jerusalém pelos romanos, em 70 d.C., desenvolveram uma importante escola rabínica e propuseram um concílio, aproximadamente em 90 d.C., no qual definiram o cânon da Bíblia hebraica, excluindo livros que foram produzidos fora da Palestina, em língua grega e após a atuação do sacerdote Esdras (480-440 a.C.). Adotando o cânon de Jâmnia ou cânon restrito da Bíblia a partir do final do século I (que desconsiderou os sete livros deuterocanônicos citados no parágrafo anterior e os fragmentos de Daniel 3,24-90, Daniel 13 – 14, e Ester 10,4-16, redigidos em grego), os judeus diferenciaram a Tanakh da Septuaginta, ao passo que os cristãos optaram pelo cânon alexandrino ou cânon amplo que era utilizado pelos próprios judeus desde os tempos anteriores à tradução grega da Bíblia. Com o passar do tempo, o encontro entre a mensagem de Jesus e a civilização romana, que desencadeou a adoção do cristianismo como religião oficial do império, em 380, logo após quase quatro séculos de perseguição às comunidades cristãs primitivas, fez surgir uma nova versão da Bíblia.

No século IV, o papa São Dâmaso (366-384) encomendou de Sofrônio Eusébio Jerônimo, vulgo São Jerônimo (347-420), um notável sacerdote e estudioso cristão, a tradução da Tanakh e da Septuaginta para o latim, língua oficial do catolicismo romano. De acordo com a tradição da Igreja, entre 383 e 405, Jerônimo se dedicou à tradução dos textos hebraico e grego, de modo que não é possível afirmar que ele tenha realizado tal empreitada solitária e completamente. A versão latina da Bíblia ficou conhecida como Vulgata, cujo nome se traduz por “comum”, justamente porque se trata de um texto simples para ser mais facilmente divulgado. Na passagem do século VI para o VII, o papa São Gregório Magno (540-604) aprovou e incentivou a utilização da Vulgata, que foi oficialmente adotada pela Igreja como versão católica da Bíblia em 1546, durante o Concílio de Trento (1545-1563). A Vulgata latina baseou as traduções em vernáculo da Bíblia, ou seja, as traduções na língua própria de cada nação.

Como se nota, a história de desenvolvimento da Bíblia acompanha o desenrolar da aventura humana na direção de perceber, acolher, interpretar e preservar a revelação divina. Considerando que o desejo de Deus de mostrar-se ao homem para convidá-lo à comunhão consigo é um portento sem precedentes (cf. Is 63,7), é possível entender a complexidade teológico-cultural que envolve o processo de redação e canonização dos textos bíblicos e, consequentemente, o aparecimento de diferentes versões sobre o fato extraordinário de “um Deus nos céus que revela os mistérios” (Dn 2,28) de salvação ao gênero humano.

Imagem de Enrique por Pixabay


#Reflexão: Domingo na oitava da Páscoa e da Divina Misericórdia ( 07 de abril)

A Igreja celebra Domingo na oitava da Páscoa e da Divina Misericórdia, neste domingo (07). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: At 4,32-35
Salmo: 117(118),2-4.16ab-18.22-24 (R. 1)
2ª Leitura: 1Jo 5,1-6
Jo 20,19-31

Acesse aqui as leituras.

A FÉ DA IGREJA E O RESSUSCITADO

Estamos ainda vivenciando o primeiro dia da Vida Nova de Jesus Ressuscitado (Domingo da Páscoa) e experimentando as alegrias apresentadas por Cristo Jesus, mas também a difícil passagem que os discípulos e apóstolos tiveram que fazer naquele dia. Eles também tiveram que “renascer” para entrar na nova realidade que Jesus tinha inaugurado com a sua ressurreição.

Os relatos da ressurreição de Jesus no Evangelho de São João nos apresentam como, aos poucos, Jesus conseguiu refazer o seu grupo de discípulos e inseri-los na mesma missão que Ele mesmo tinha iniciado. Cristo ressuscitado precisou de muita paciência para recuperar cada pessoa que Ele mesmo tinha escolhido. Segundo São João o primeiro dia da semana iniciou com um “túmulo vazio” que foi visto por Maria de Mágdala (Evangelho do Domingo de Páscoa).

Ao longo daquele primeiro dia da Páscoa de Jesus, outras experiências aconteceram como aquela narrada por Lucas com dois discípulos que deixavam Jerusalém no Evangelho deste segundo Domingo de Páscoa. Este evangelista diz que até mesmo Pedro teve um encontro pessoal com o Ressuscitado, mas que não temos mais nenhuma informação (cf. Lc 24,34).

Somente no final da tarde do domingo da Páscoa (em Emaús), seus olhos se abrem e percebem que se tratava de Jesus. Eles retornam no final daquele dia especial, o primeiro da semana (domingo) e contam tudo aos apóstolos.

Estes relatos sobre o Ressuscitado, costumamos chamar de “aparições ou manifestações”, mas São João e os outros evangelistas narram esses momentos de uma forma diferente: Jesus “se apresenta” (não aparece) em meio a todos. Isto para indicar que, aos poucos, através de pequenos sinais, gestos e palavras é que a comunidade foi descobrindo a presença constante do ressuscitado.

Jesus não se apresenta de uma “forma magistral” ou impactante, mas com certa delicadeza, respeitando a amarga experiência de todos como vimos na jornada que passou com os discípulos de Emaús.

O Evangelho de João que hoje ouvimos conta como foi o final daquele primeiro dia da semana, o domingo. Os discípulos estavam reunidos, talvez para discutir e entender o que estava acontecendo, ou ainda para partilhar as diversas experiências com Jesus Ressuscitado. João nos lembra que não estavam em oração e fervorosos, mas com “muito medo dos judeus”. Na manhã do Domingo da Páscoa, ouvimos que o sepulcro estava aberto e vazio, mas a tarde, os discípulos estavam fechados em um quarto.

São João nos diz que mesmo estando isolados e fechados no medo que prevalecia em seus corações (dos apóstolos), Jesus se apresenta no meio de todos. As portas e as janelas não são mais limites para o Ressuscitado, nem mesmo o medo de todos pelo mundo que os circundava; Jesus se encontra novamente com todos, desta vez, como grupo apostólico.

Antes, as experiências foram pessoais com a finalidade de resgatar o grupo; agora todos unidos, tudo reparte com uma nova realidade e fortalecidos pelo Cristo em meio a sua Igreja.

A primeira palavra dita por Cristo Ressuscitado é “Paz” (insiste duas vezes). Diante do medo e do pavor por todos, Cristo procura semear a paz, aquela que somente Ele pode nos dar. A palavra “paz” não significa “ausência de medos e problemas”; para Jesus a paz que Ele nos dá é a sua própria presença e força: Jesus mesmo é a paz! Pedro na 2a leitura nos alerta das tribulações e desafios para todos aqueles que creem, mas se estamos com Jesus, Ele é a nossa verdadeira alegria e nossa maior força que nenhum problema pode suplantar.

Jesus não retoma o passado e nem esclarece nada em relação a Ele, mas propõe que eles devem continuar a Sua missão. Para o evangelista João, os apóstolos recebem a força do Espírito Santo neste mesmo dia da Páscoa.

É um dom dado a todos como Igreja, pois eles deverão assumir tudo como uma nova realidade no mundo, não mais individualmente, mas como Igreja, corpo do Cristo Ressuscitado.

As experiências pessoais com o Ressuscitado não tinham conseguido eliminar tudo que eles tinham visto na Sexta-feira da Paixão e nem o sentimento de culpa por terem abandonado Jesus. O grupo estava disperso e todos com muito medo. Naquela tarde de domingo de Páscoa faltavam dois no grupo de Jesus: Judas tinha cometido suicídio e Tomé tinha perdido a esperança em relação a Jesus. Talvez, ele tinha acreditado demais em Jesus, mas ao seu modo e conforme os seus critérios. A experiência da cruz tinha sido forte demais para aquele discípulo que sempre é chamado por João de Dídimo que significa “gêmeo” (mas de quem? de nós?).

Foi marcante e sentida a ausência de Tomé no grupo, mas ele não tinha abandonado a Igreja de Cristo. Ele estava procurando respostas do seu modo e seguindo seus critérios. Tomé não é um incrédulo. O seu erro foi procurar uma resposta para tudo do seu modo, com experiências pessoais e isoladas dos demais apóstolos. No diálogo que ouvimos entre Tomé e os apóstolos (Igreja), ele insiste em se firmar no Jesus de antes ou no Mestre que foi crucificado e não dá crédito no testemunho dos amigos apóstolos (“Vimos o Senhor!”). Ele queria experimentar do seu modo e do seu jeito. Foi a primeira frustração do anúncio de Jesus Ressuscitado da Igreja nascente: um do próprio grupo (Tomé), não acreditou nas palavras da comunidade-Igreja.

Tudo que tinha acontecido não tinha sido suficiente para que Tomé deixasse pra traz tudo que tinha acontecido com Jesus até sua cruz. Parece que ele não tinha visto o Cristo crucificado, pois tinha abandonado o Senhor como os outros apóstolos. Para ele, faltava ainda experimentar os últimos momentos do Mestre Jesus. Assim, ele não acredita na experiência nova que o grupo tinha tido, a palavra da Igreja que reencontrou com o Ressuscitado não lhe era suficiente: ele queria o Jesus “antigo”, com as chagas e as feridas.

Para ele era absurdo os relatos da Vida Nova de Jesus que todos juntos tinham experimentado.

Mas, Tomé é alguém que procura respostas para seus ideais pessoais, mas também é capaz de mudar seus métodos e modos de experimentar sua fé. Jesus não lhe tinha satisfeito pessoalmente e num momento privado e esse modo de se revelar, também tinha ficado pra traz. Com a missão dada a todos de continuar a missão de Deus Pai, Jesus fortalece a importância de continuar sentindo sua presença especial, mas agora como Igreja reunida.

Assim, oito dias depois da primeira experiência de Igreja com Cristo ressuscitado, novamente Nosso Senhor Ressuscitado se apresenta em meio a todos. Eles ainda estão fechados no local, mas João não diz mais que estavam com “medo dos judeus”. Confirma a paz ao grupo e se apresenta a Tomé. Jesus o convida: “Põe aqui o dedo e olha as minhas mãos; estenda sua mão e coloque-a ao meu lado”. A ressurreição não fechou os buracos dos pregos e não apagou as feridas, como seria de esperar.

Porque a cruz não é um simples acidente a superar e esquecer, mas é a glória de Jesus, o ponto mais alto da arte divina de amar, que naquelas feridas se oferecem para sempre à contemplação do universo.

Foi precisamente por causa daquelas feridas nas mãos e no lado (expressão da doação extrema de Jesus) que Deus o ressuscitou, e não apesar deles: eles são o alfabeto indelével da sua carta de amor. Jesus não quer forçar Tomé, respeita o seu cansaço e as suas dúvidas, conhece os tempos de cada um, conhece a complexidade de viver (Ermes Ronchi). Não sabemos se Tomé tocou em Jesus, mas, o mais importante são suas palavras de espanto e fé.

Cristo Jesus lhe propõe a fazer a experiência que lhe faltava (com as feridas e as chagas), mas alerta que o fundamental é sentir a presença de Cristo que se está presente e não aquele que ainda trazia em sua memória.

Não é Deus que tem que se ajustar aos caprichos das pessoas, mas cada pessoa, como Igreja reunida, experimentar a presença do Cristo Ressuscitado. Jesus insiste que o caminho para continuar sentindo a Sua presença é a fé que é amadurecida como Igreja reunida.

Felizes são todos aqueles que creem mesmo sem ter que experimentar fisicamente algo, pois o principal de nossa fé não é algo que se toca, mas Deus que está em meio a nós (Pedro na 2a leitura também nos lembra disto). Naquele segundo domingo da Páscoa (oito dias depois), Tomé foi o último a compor o grupo-Igreja constituído por Jesus, mas foi também o primeiro a avançar na nova realidade e missão de Jesus. Suas palavras de fé revelam o novo momento como apóstolo: “Meu Senhor e Deus!” Ele experimentou dentro da comunidade reunida a presença do Cristo Ressuscitado, não mais o Mestre que ele seguiu, mas o Senhor da Vida e o seu Deus.

Na primeira leitura temos o exemplo dos primeiros cristãos que passaram a viver com uma única realidade procurando colocar em prática os ensinamentos de Cristo inclusive no modo de vida comum entre todos. A experiência mais forte e significativa para todos foi a experiência que faziam como Igreja, corpo de Cristo. Nela Cristo continua sempre presente e pronto a dar a força que elimina todo medo, mas principalmente concede a paz a todos. Na Igreja corpo de Cristo, ontem como hoje, todos podem continuamente experimentar Nosso Senhor Ressuscitado: no testemunho de todos, na Palavra proclamada, nos Sacramentos (principalmente da Reconciliação, expressão da Misericórdia de Deus), mas sobretudo e de um modo especial na Eucaristia (expressão do seu Amor por nós).

Feliz Tempo Pascal a todos!

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#Reflexão: Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor (31 de março)

A Igreja celebra Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor, neste domingo (31). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: At 10,34a.37-43
Salmo: 117(118),1-2.16ab-17.22-23 (R. 24)
2ª Leitura: Cl 3,1-4 ou 1Cor 5,6b-8
Jo 20,1-9

Acesse aqui as leituras.

DOMINGO DE PÁSCOA - CRISTO RESSUSCITOU!

A morte de Jesus também foi uma experiência frustrante e decepcionante para todos os discípulos. Eles tinham convivido juntos com Jesus por, pelo menos, três anos. Desde o início de sua vida pública, Jesus se mostrou como alguém com uma proposta inovadora e revolucionária. Os discípulos tinham presenciando um Mestre (Jesus) que não se deixava intimidar por nada e ninguém. Até mesmo o Mal tinha sido derrotado por Cristo em diversas circunstâncias. Os discípulos O viam como um “super-herói” imbatível. Mas, nos últimos dias de Jesus em Jerusalém, Ele se mostrou, aparentemente, igual a qualquer outra pessoa. Ele foi humilhado, sofreu muito, dores insuportáveis e foi desprezo. Tudo e todos demonstravam ser mais fortes que Jesus. Definitivamente para os discípulos, Aquele que se entregou silenciosamente a morte não era o Senhor que eles conheciam.

Pedro acompanhou incrédulo o processo injusto e de morte talvez até esperando alguma reação, algum milagre da parte de Jesus para se livrar dos soldados e da condenação certa, mas nada aconteceu. Na lógica humana, a morte não tem nenhum sentido e para Pedro se revelava uma loucura maior alguém que poderia se livrar dela, resolve escolher livremente morrer, aparentemente, como mais um inocente condenado injustamente. Alguns devem ter afirmado: a que coisa serve sofrer como nós sofremos, ser humilhado como tantos são humilhados, morrer como todos nós? Eles queriam um Mestre que resolvesse o problema da dor, dos sofrimentos e da morte e não alguém que fosse solidário a todos que percorrem este caminho.

Os discípulos não tinham entendido quase nada da proposta de Reino de Deus que Jesus procurou ensinar. A morte do Mestre Jesus se revelou como algo estranho e longe da lógica humana.

Páscoa significa “passagem”, Jesus fez a sua passagem desta vida para Verdadeira Vida com a sua Ressurreição, mas os discípulos precisavam também fazer uma “passagem” para entrar na Verdadeira proposta de Deus para humanidade. Era necessário abandonar todas as ideias pessoais, interesseiras e limitadas sobre Jesus que todos tinham construído seguindo o Mestre Jesus pelas terras da Galileia.

Jesus Cristo é algo muito mais profundo, mais abrangente e perene do que eles imaginavam. Era necessário entrar na “lógica de Deus”.

O relato da Ressurreição de Jesus no Evangelho de João que meditamos neste domingo é mais centrado em fatos e detalhes mais significativos sobre a Páscoa de Jesus. O “túmulo vazio” representa uma grande ausência e um imenso vazio em relação às ideias limitadas sobre Jesus. Nosso Senhor não foi somente alguém que foi útil para curar doenças, resolver problemas, dificuldades pessoais e sofrimentos desta vida, muito menos alguém como uma proposta revolucionária e social.

Jesus é muito mais do que isto! Era necessário “enterrar” esta ideia de um Deus que é útil somente quando nos serve ou resolve nossas dificuldades.

O relato da Páscoa de Jesus inicia ainda com as cores da morte e da decepção dos discípulos. Também o sábado ficou para traz e tudo tem início no primeiro dia da semana: o domingo. São as mulheres entre os seguidores de Jesus que se rebelam e não se contentam com a última cena que viram aos pés da cruz. As mulheres possuem a capacidade de acreditar também com o coração e não somente com a lógica. Ademais, amar e crer estão profundamente ligados: nós verdadeiramente acreditamos quando amamos. Elas foram fiéis até o último momento, mas tudo não tinha ainda sido suficiente para Madalena. A discípula queria ainda chorar diante do túmulo do Mestre Jesus. A dor da perda ainda era imensa e sem solução. Ela vai ao encontro de alguém que se associava a tantos outros no sono da morte. Ela procura Jesus ainda na noite da derrota para o único inimigo (a morte) que ninguém – até então – tinha uma solução ou resposta.

Os seus olhos estavam à procura de um morto, mas Madalena se depara com um túmulo vazio. Tudo inicia ter um ritmo diferente e agitado: Ela corre do túmulo e, depois, os discípulos também correm para ver o sepulcro de Jesus. Ela transmite a primeira mensagem da Páscoa: o túmulo está vazio e falta um corpo na lista dos mortos. Para Maria (e outras mulheres que estavam com ela) ouve um roubo, mas foi a morte quem foi assaltada pela ressurreição de Jesus.

A corrida dos discípulos é descrita como uma competição entre o ver e o acreditar. O discípulo descrito como “amado de Jesus” chega primeiro, mas respeita aquele que foi escolhido como “primeiro apóstolo”. Os dois veem o sepulcro e constatam os detalhes que revelavam algo novo e inexplicável.  O primeiro discípulo que tinha chegado, aquele que tinha se inclinado ao peito de Jesus durante a última ceia, começa a acreditar que mais uma vez, Jesus estava surpreendendo a todos.

O evangelista João apresenta uma observação sobre o espanto dos discípulos diante do túmulo sem o corpo de Jesus: eles não tinham entendido as Escrituras.

A Páscoa de Jesus não muda o último destino da realidade humana: a morte. Jesus ao escolher enfrentar este inimigo da humanidade, Ele completa a sua missão de Pastor de todos os homens e mulheres. Era necessário também guiar a todos por este último caminho que percorremos neste mundo.

Mas, Jesus vai além de simplesmente sofrer e morrer na cruz: Ele abre uma nova via e ensina a todos que até a morte pode ser vencida por todos aqueles que acreditarem Nele e viverem o que Ele mesmo ensinou. O ato de Jesus foi único, pois a sua doação na cruz foi expressão do Amor total e infinito de Deus: somente o Verdadeiro Amor pode vencer a morte. Este Amor pleno e cheio de Misericórdia de Deus destruiu todos os obstáculos que nos separavam de Deus.

Não foram somente os sofrimentos e as dores que Jesus sofreu e carregou até à Cruz que nos salvaram, mas sim o Amor de Deus que abraçou todos os pecados e suas consequências (sofrimentos de todos os tipos), pois foi este Amor Pleno e total de Jesus que o conduziu através da morte até a Ressurreição. Assim, a Ressurreição não foi uma vitória somente de Jesus, mas também de todos os seres humanos, pois junto com Jesus que morria na Cruz estávamos todos nós; no Cristo que ressuscita também todos nós estamos presentes. Agora também nós podemos “passar pela morte” e ressuscitar como Jesus Ressuscitou percorrendo o mesmo caminho.

Pedro na primeira leitura se apresenta como alguém que anuncia a Boa Nova da Ressurreição de Jesus, mas o quer fazer não somente com discursos e ideias inovadoras, mas como testemunha. A sua vida e de todos os que anunciavam Jesus Ressuscitado é a prova mais convincente que tudo é realmente transformador e verdadeiro. Os apóstolos e os primeiros cristãos mesmo diante da morte não renunciaram esta fé em Cristo Ressuscitado. A Ressurreição de Jesus não é um fato ou uma mera novidade, mas algo que revolucionou a vida de todos que O conheceram e pode sempre produzir o mesmo bem a quem acreditar em Cristo como sentido pleno e total de sua vida. É uma proposta de vida que inicia neste mundo e tem sua máxima manifestação não na morte (coisa certa para todos), mas na vida além e nossa existência. Aquele que crê, como nos diz São Paulo, deve viver tudo com os pés neste mundo tendo o coração e a sua vida na Verdadeira Vida que Jesus inaugurou com a sua ressurreição. Buscamos não as coisas passageiras, mas sim aquilo que nos conduz para o alto, para Deus. Dessa forma, devemos viver intensamente o Amor de Deus já neste mundo para podermos compartilhar o pleno Amor de Deus na eternidade. 

Uma Boa e Feliz Páscoa a todos!

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