Arcebispo nomeia padres para atividades arquidiocesanas

Dom José Luiz Majella Delgado, C.Ss.R., arcebispo metropolitano de Pouso Alegre (MG), nomeou novos padres para atividades administrativas arquidiocesanas.

Por meio de comunicado, assinado pelo padre Jésus Andrade Guimarães, chanceler, no dia 3 de agosto, o arcebispo designou novos padres para colaborarem em serviços administrativos da arquidiocese. As nomeações aconteceram após a primeira reunião do Conselho Presbiteral, mandato 2022-2024, ocorrida nesse mesmo dia.

O padre Luciano Aparecido Pereira, vigário na paróquia Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, em Monte Sião (MG), foi designado a integrar o economato arquidiocesano. Ele irá colaborar com o trabalho já realizado pelos padres Omar Aparecido Siqueira, ecônomo, e Elton Cândido Ribeiro, vice-ecônomo.

Padre Luciano Aparecido Pereira. Foto: Arquivo/Arquidiocese.

Além disso, o padre João Bosco de Freitas, eleito como representante do Conselho Presbiteral, fará parte do Conselho Administrativo Arquidiocesano.

Padre João Bosco de Freitas. Foto: Arquivo/Arquidiocese.

Até o presente, essa função era desempenhada pelo padre Benedito Ferreira da Costa, a quem dom Majella, no comunicado da chancelaria, agradeceu pelos serviços prestados.

Padre Benedito Ferreira da Costa. Foto: Arquivo/Arquidiocese.


Texto: padre Thiago de Oliveira Raymundo.

Imagens: Arquivo/Arquidiocese de Pouso Alegre.

A imagem destacada da notícia traz dom Majella assinando documentos oficiais. Foto: seminarista Márcio Aurélio Gonçalves Junior.


#Reflexão: 21º domingo do Tempo Comum (21 de agosto)

A Igreja celebra, no dia 21, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Ap 11,19a;12,1-6a.10ab

Salmo: 44(45),10bc.11.12ab.16 (R. 10b)
2ª Leitura: 1Cor 15,20-27a
Evangelho: Lc 1,39-56

Acesse aqui as leituras.

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

            A celebração da assunção de Maria aos céus que festejamos neste final de semana trata de um ponto fundamental de nossa fé cristã: a ressurreição dos mortos. Crença que já encontramos nos últimos livros do AT e depois que ganha sua realização e promessa para toda a humanidade com a ressurreição de Jesus Cristo. Esse é o coração da nossa fé cristã.

Segundo uma tradição da Igreja que tem sua raiz entre os primeiros cristãos, Maria que desde sua origem tem uma história particularmente especial no projeto de salvação de seu filho, Jesus, ela também teria sido agraciada com o dom especial conquistado por seu filho com a sua ressurreição. São Paulo, de fato, afirma que “Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram” (2ª leitura), Nosso Senhor foi o primeiro a vencer a morte e ganhar o céu com sua ressurreição, o primeiro (“primícias”)  e abriu caminho para os filhos e filhas de Deus que um dia receberão de um modo semelhante o mesmo dom com a ressurreição da carne. Cristo inaugurou e deixou esse dom a todos que forem dignos e que seguirem os seus passos. Assim, sua mãe Maria teria sido a primeira das criaturas a receber este dom de Deus.

            A tradição e os padres da Igreja testemunham que Maria em seus últimos momentos de vida, o seu corpo não teria conhecido a corrupção da carne destino esse comum a qualquer outra pessoa, mas a sua “morte” foi considerado um momento de sono. Esse fato foi preservado e transmitido aos outros cristãos e passou a ser conhecido com a festa da “Dormição de Maria”. No século VII, essa festa de Maria foi assumida também pela Igreja do Ocidente pelo Papa Sérgio I e no século seguinte passou a ser celebrada como Assunção de Maria como nós conhecemos hoje.

Sabemos que Maria é especial exatamente porque dessa forma a Palavra de Deus atesta já desde os primeiros momentos quando a jovem moça da Galileia foi convidada para participar da história de salvação como Mãe do Salvador. O anjo Gabriel, mensageiro e porta-voz de Deus, chama Maria de “Cheia de Graça” (Lc 1,28), isso antes de gerar Jesus como salvador. De alguma forma, Maria já era especial, antes de ser Mãe de Jesus, por isso, o enviado de Deus, Gabriel, cumprimenta Maria da forma como ela é reconhecida no céu como aquela que é “Cheia de graça”, plena de Deus. De fato, Maria não foi somente uma mulher que Deus escolheu para dar a luz ao menino Jesus, mas alguém que foi preparada para participar plenamente da ação redentora de seu filho Jesus, mesmo antes dela ver tudo acontecer, ela acreditou plenamente. Não é uma pessoa qualquer nesta história, Maria participa plenamente neste projeto de Salvação como aquela que é “Cheia de Graça”.

Como uma Nova Eva, Maria gera a nova vida, promessa e realização da salvação deseja por Deus. Mãe não é mãe somente no parto, mas por toda a vida sua e do seu filho. Ela, logo após o anúncio do anjo, se coloca a caminho para ajudar sua parenta Isabel que estava grávida de seis meses de João Batista (Lc 1,36). Naquele encontro entre duas mães agraciadas com dons especiais, mais uma vez vemos a beleza de Maria resplandecer através das palavras de Isabel.

Duas mulheres portadoras de promessas especiais. Isabel já na velhice quando não havia mais esperança, recebe um dom de gerar um filho, graça de Deus para ela e Zacarias que se transformará em graça para o povo de Deus, pois terá a missão de anunciar e apontar o Messias esperado. Maria ainda antes de se casar, é agraciada com um dom de Deus de gerar o Filho de Deus.

            Em qualquer outra situação onde duas pessoas se encontram, é a pessoa mais velha que recebe todas as atenções, o que não aconteceu naquele encontro entre Maria e Isabel. A mais jovem cumprimenta sua parenta mais velha quando entra em sua casa, mas tão logo Isabel ouviu a voz de Maria, ela ficou cheia do Espírito Santo. Maria cheia de graça, distribui graça a todos; traz não somente em seu coração e no seu ventre o Messias, mas também em sua voz. O evangelista afirma que João Batista que estava ainda no ventre de Isabel deu sinais (“estremeceu”) para também indicar a sua mãe que tudo era verdade, de fato, Maria já trazia em seu ventre o Salvador. Um bonito sinal para todos nós cristãos: uma criança de seis meses (João Batista) mesmo ainda no ventre de sua mãe, participa da salvação pois é uma pessoa já conhecida por Deus e com uma missão especial na salvação.

Tinha se passado um pouco tempo somente entre o anúncio do Anjo Gabriel e o encontro com Isabel, talvez alguns dias. No ventre de Isabel, João Batista ainda em gestação se manifesta para saudar juntamente com sua mãe Isabel, Maria que já trazia em seu ventre o Menino Jesus com alguns dias de vida. A vida não se inicia quando nos queremos, mas desde o início de sua concepção.

Isabel e o bebê João Batista ainda no ventre de sua mãe reconhecem as duas pessoas especiais e unidas quase que em um único destino e missão. Isabel dirige suas primeiras palavras de ação de graças a Deus reconhecendo que Maria é a mais sublime entre as mulheres (“bendita”), pois da mesma forma, é bendito o que ela trazia em seu ventre. O adjetivo aplicado a Maria “bendita” é o mesmo aplicado a Jesus “bendito”. A graça de Deus em Jesus está presente também em sua mãe Maria, por isso, ambos são participantes da mesma graça de Deus, uma como criatura especial (“mais bendita entre as mulheres”), outro como Salvador e Redentor da Humanidade.  Maria ainda tem mais um reconhecimento especial de Isabel (Lc 1,43): “de onde me vem esta honra da Mãe do meu Senhor?” Maria mesmo com poucos dias após ter recebido o anúncio do anjo Gabriel, ela já é considerada e reconhecida como Mãe de Deus. Isabel reconhece sua parenta Maria em uma realidade inseparável que todas as mães possuem em relação aos seus filhos: é mãe do Salvador. E Maria recebe mais um título que se soma aos outros: O primeiro foi “Cheia de Graça”, depois “Bendita” (juntamente com seu filho) e agora é chamada de “bem-aventura”, mas tudo isso porque ela, mesmo sem ter qualquer prova ou segurança, acreditou plena e totalmente em Deus, somente uma grande fé em Deus pode gerar grandes coisa neste mundo.

Neste ano do Evangelho de Lucas, temos uma passagem da vida pública de Jesus, quando Ele já estava atuando plenamente em sua missão. Uma pessoa vendo a atuação de Jesus, louva a Deus por sua mãe. A graça que todos estavam colhendo diretamente do Mestre Jesus, se deve ao zelo e a dedicação da sua mãe. Jesus lembra que o exemplo maior que vem de sua mãe não foi somente de ter dado à luz a Ele, Jesus (algo exclusivo de Maria), mas de ter acreditado na Palavra de Deus e ter colocado tudo em prática. Ela é bendita porque é exemplo do discípulo fiel que crê e vive a Palavra de Deus.

            Assim, a assunção de Maria aos céus não seria de tudo estranho e nem impossível da parte de Deus, pois realmente Maria não foi gerada com mais uma criatura neste mundo, mas para ser Mãe de Deus e por isso, o destino final de sua vida nada mais seria do que algo em sintonia com toda a sua vida com alguém especial aos olhos de Deus. O Criador não joga fora ou despreza aquilo que Ele próprio criou e preparou para ser a Mãe do Salvador. O final da vida de Maria estava completamente vinculado ao destino final do seu próprio Filho Jesus e não como mais uma simples criatura neste mundo.

Belas palavras de São João Damasceno (†749) sobre Maria e esses momentos finais de sua vida: “Convinha que aquela que no parto tinha preservado sua virgindade intacta, convinha que fosse preservada intacta da corrupção também seu corpo após a morte. Convinha que aquela que tinha levado o Criador feito criança no ventre, vivesse também na morada divina. Convinha que a Noiva de Deus entrasse na Casa celeste. Convinha que aquela que tinha visto seu filho na cruz, recebendo no corpo a dor que ela tinha sido poupada no parto, O contemplasse sentado à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse aquilo que lhe era devido em mérito de seu Filho e que fosse honrada por todas as criaturas como Mãe e Serva de Deus”.

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São Maximiliano Maria Kolbe

Nesta semana, no dia 14 de agosto, celebramos a memória de São Maximiliano Maria Kolbe, que nasceu em 7 de janeiro do ano de 1894. Seu pai era tecelão e sua mãe era parteira, cristãos fervorosos que o iniciaram na fé cristã. No batismo, recebeu o nome de Raimundo Kolbe. Entrou para a família franciscana em 1907, na qual, em 1914 passou a se chamar Maximiliano Maria. Concluiu seus estudos em Roma e foi ordenado sacerdote em 1918. Na capital italiana, durante um jogo de bola, Maximiliano começou a cuspir sangue: era tuberculose, doença que o acompanhou pelo resto de sua vida.

Foi na Itália, que junto a outros jovens religiosos fundou o movimento mariano Milícia da Imaculada, com o objetivo de conquistar o mundo inteiro a Cristo, por meio da Virgem Maria. Em 1919, retornou à Polônia, fixando-se em Cracóvia. Nesta cidade, lecionou como professor no seminário franciscano e cuidou da divulgação do movimento criado por ele, contando com muitas adesões entre os professores e estudantes da Universidade, profissionais e camponeses e até mesmo religiosos de sua ordem.

Empenhou-se também na evangelização através da imprensa. No final de 1921, fundou a revista intitulada “O Cavaleiro da Imaculada”, a fim de propagar o espírito da Milícia. Em Grodno, situada a 600 quilômetros de Cracóvia, criou uma pequena tipografia para imprimir a revista. Tal iniciativa conseguiu atrair muitos jovens com o desejo de assumir o carisma franciscano inspirado em Maria. Em Varsóvia, num terreno que recebeu como doação, fundou a Cidade de Maria. O centro desenvolveu-se rapidamente com construções e novas técnicas de redação e imprensa.

Com a intenção de propagar seu movimento mariano, Maximiliano Kolbe foi para o Japão, onde fundou a Cidade de Maria em Nagasaki. Muitos anos depois, os órfãos desta cidade encontraram abrigo após a explosão da primeira bomba. Padre Maximiliano ajudou judeus, protestantes e budistas, na certeza de que as sementes da verdade foram lançadas por Deus em todas as religiões. Abriu também uma Casa em Ernakulam, no litoral oeste da Índia, mas, devido à tuberculose, voltou à Polônia para se tratar.

Durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Polônia foi tomada pelos nazistas, Frei Maximiliano foi preso por duas vezes. A Cidade de Maria foi destruída pelos nazistas e os religiosos tiveram que abandonar o local, que foi transformado pelos que ali permaneceram em lugar de acolhida para feridos, doentes e refugiados. Em 19 de setembro de 1939, os nazistas prenderam o Padre Maximiano Kolbe e os outros frades, levando-os para o campo de extermínio, de onde foram libertados no dia 8 de dezembro.

Retornando para a Cidade de Maria, os religiosos retomaram seu trabalho assistencial a cerca de 3.500 refugiados, sendo 1.500 judeus. Alguns meses depois, os refugiados foram expulsos ou presos pelos nazistas. Padre Kolbe, recusando a naturalização alemã para se salvar, foi preso em 17 de fevereiro de 1941 com outros frades.

O sacerdote foi levado para o campo de concentração em Auschwitz em 28 de maio de 1941, onde heroicamente evangelizou com a vida e a morte. Segundo relatos de pessoas que sobreviveram ao holocausto, é impressionante que São Maximiliano tenha sobrevivido por muito tempo, visto que, para a época, não era tão jovem, pois estava com 47 anos e tinha problemas de saúde. Com o número 16670, foi colocado junto com os judeus, por ser padre. Apanhava muito e os nazistas davam para ele os piores serviços, como o transporte de cadáveres para os fornos crematórios. Mesmo naquela situação desumana, não deixava de atender as pessoas que o procuravam.

Em julho de 1941, o Padre Maximiliano Kolbe foi transferido para o Bloco 14, onde os prisioneiros trabalhavam na lavoura. Aconteceu que, devido à fuga de um prisioneiro, dez outros foram escolhidos para pagarem com a morte. Os dez escolhidos seriam colocados numa cela subterrânea, ficariam sem luz, sem água e sem comida até a morte. Um deles, pai de família, caiu em pranto, pois não mais veria sua mulher e seus filhos. Movido por um profundo amor até as últimas consequências, o sacerdote se dirigiu até o oficial e, como um mártir da caridade, se ofereceu para morrer no lugar daquele homem.

Naquela cela, o Padre Kolbe e os demais presos escolhidos ficaram até a morte. São Maximiliano entoava cânticos e procurava dar conforto aos demais prisioneiros. Rezava e celebrava missas. Após duas semanas de desidratação e fome, restaram vivos São Maximiliano e outros três companheiros de prisão. Em 14 de agosto de 1941, os nazistas aplicaram em São Maximiliano e nos demais prisioneiros de cela uma injeção letal de ácido fênico. São Maximiliano Kolbe estendeu seu braço e rezou a oração da Ave Maria. Estas foram suas últimas palavras.

São Maximiliano foi beatificado por São Paulo VI, em 1971, e canonizado por São João Paulo II, em 10 de outubro de 1982, que o chamou de “patrono de nosso difícil século”. Ele, com seu testemunho de vida, nos inspira a empreender, de modo criativo, iniciativas arrojadas e corajosas de evangelização. Convida-nos a integrar em nossa espiritualidade cristã, a pessoa da Virgem Maria, assumindo, na liberdade, o serviço ao Senhor.

Por fim, a vida e a morte de São Maximiliano nos recordam as palavras do Cristo: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,12). Foi no momento mais sombrio da Humanidade que Maximiliano Kolbe se ofereceu para morrer no lugar de um irmão. Seu testemunho ilumina com luz pascal o horroroso mundo dos campos de concentração. Que o seu testemunho nos inspire a fazer da nossa vida um dom a ser ofertado a Deus por amor aos irmãos.

“Ó Deus, inflamastes São Maximiliano Kolbe, presbítero e mártir, com amor à Virgem Imaculada e lhe destes grande zelo pastoral e dedicação ao próximo. Concedei-nos, por sua intercessão, que trabalhemos intensamente pela vossa glória no serviço do próximo, para que nos tornemos semelhantes ao vosso Filho até a morte” (Oração do dia da memória de São Maximiliano Maria Kolbe).

 

Fontes:
https://santo.cancaonova.com/santo/sao-maximiliano-maria-kolbe/
https://www.bbc.com/portuguese/geral-58198542
https://www.vaticannews.va/pt/santo-do-dia/08/14/s--maximiliano-m--kolbe--presbitero-da-ordem-dos-frades-menores-.html

Imagem: Vatican News.


Encontro de presbíteros é realizado em Santa Rita do Sapucaí

Entre os dias 09 e 10 de agosto, realizou-se no Vale de Cássia, em Santa Rita do Sapucaí (MG), encontro de formação e confraternização do clero diocesano. No dia 9, o encontro contou com a presença dos presbíteros de 5 meses a 20 anos de ordenação. No dia 10, participaram os presbíteros com mais de 21 anos de ordenação.

Padre Humberto Robson de Carvalho, da arquidiocese de São Paulo (SP), assessorou o encontro em ambos os dias. Ele abordou o tema "A diocesaneidade na vida presbiteral". Em sua fala, salientou o presbitério como espaço para se viver a amizade fraterna e sincera, a colaboração missionária e a caridade evangélica.

Padres de 0 a 20 anos de ministério, participantes do encontro de presbíteros, no dia 9 de agosto.

Pe. Humberto é mestre em Educação e especialista em catequese, espiritualidade e liturgia. É graduado em Filosofia, Pedagogia e Teologia. É também coordenador dos cursos de pós-graduação em catequese e espiritualidade no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL - PIO XI).

Padres com mais de 21 anos de ministério, participantes do encontro de presbíteros, no dia 10 de agosto.

 

Fotos: Assessoria/Padre Humberto Robson de Carvalho.
A imagem destacada da notícia traz padre Humberto Robson de Carvalho, assessor do encontro dos membros do clero da arquidiocese de Pouso Alegre, nos dias 9 e 10 de agosto de 2022.

 


As grandes causas do Evangelho e da Política

Neste ano de eleições gerais, as cristãs e os cristãos são chamados a participar ativamente do processo eleitoral. Assim, uma pergunta surge: como deve ser nossa atuação, a partir da fé que professamos? Essa pergunta é importante, pois gente que segue Jesus Cristo precisa fazer a diferença na sociedade em geral e na política em especial. As eleições são importantes porque é o momento em que faremos a escolha não só das pessoas que vão nos governar, mas do projeto político que queremos para o país. O Caderno “Encantar a Política”, aprovado pela CNBB, traz alguns apontamentos sobre esse “como” no terceiro capítulo, que tem como título “As grandes Causas do Evangelho”. O capítulo todo se fundamenta na exortação apostólica Evangelii Gaudium (EG), do papa Francisco. Nele, o papa afirma: “Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (EG 176). São quatro as grandes causas do Evangelho apontadas nos documentos citados.

1) A relação profunda entre Evangelização e Política

Todo o capítulo IV da EG trata dessa relação afirmando que “Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo”. A proposta de Reino de Deus nos pede que a vida seja sempre valorizada, seja a vida dos nascituros e também a vida dos que já nasceram. Importante para o Reino não é somente nascer, mas também viver abundantemente (Jo 10,10). Vida abundante é vida com dignidade. O Reino realiza-se quando todas e todos vivam inteiramente, sendo cada pessoa o que é de fato, como afirma dom Pedro Casaldáliga. Pedro Casaldáliga que, ao chegar ao estado do Mato Grosso, vindo da Espanha como missionário, fez uma constatação: “Aqui, nascer e morrer é fácil. Difícil é viver”. Quanto mais Deus reinar no mundo, mais o mundo será espaço de vida. Vida digna inclui: fraternidade, justiça e paz. Vida plena é vida sem a competição que o mundo prega. As periferias são as que mais sofrem com um mundo competitivo sem fraternidade, justiça e paz. Então, o papa indica que a implantação do Reino se dará pelas periferias e, assim, nos convida a fazer política começando pelas periferias. Vida plena é também vida de paz e em paz.

2) A paz fundada na Justiça

A paz que Jesus de Nazaré veio trazer é a paz fundada na justiça. Em seu tempo, se falava na “Pax Romana”. Essa era uma paz armada, imposta pelo império dominador e opressor. Hoje, temos a paz do mercado financeiro que visa proteger a propriedade privada, mesmo que a maioria não tenha nenhuma propriedade. Temos também a paz da prosperidade e da segurança financeira para enfrentar os grandes problemas da vida, a qual é a idolatria do dinheiro. É uma paz sem ética, sem caridade, sem fraternidade. A paz fundada na justiça, proposta por Jesus e devemos defender, é fundada no diálogo e na solidariedade, a qual vai além da compaixão. É a paz que nos faz ver a todos e todas como irmãos e irmãos, imagem e semelhança de Deus. É fundada também na justiça que manda dar a cada pessoa o que ela precisa para viver com dignidade.

3) As causas estruturais da pobreza

É fácil apontar as causas individuais da pobreza e da riqueza. Nos últimos anos, aumentou a pobreza no Brasil, o que colocou de novo o país no mapa da fome da ONU, segundo relatório de 2021. Quase um terço da população está em insegurança alimentar moderada ou grave. No mesmo período, inclusive com a pandemia da COVID-19, a concentração de riquezas também aumentou, escandalosamente. Entretanto, difícil é definir as causas estruturais da pobreza. Precisamos cuidar para não cairmos em dois grandes erros ao falarmos de pobreza. Um é pensar que pobreza é “vontade de Deus”, argumento fatalista de cunho religioso. O outro é considerar que “o pobre é culpado da situação em que vive”, argumento usado pelo ultraliberalismo econômico que busca culpar o pobre e criminalizá-lo. O primeiro argumento paralisa nossas ações contra a pobreza em favor do pobre. O segundo convence-nos de que o pobre possa ser visibilizado e até mesmo eliminado, moral e fisicamente. Os bispos da América Latina, reunidos em Medellín (1968) já nos falaram dos pecados estruturais. Esses pecados são os que causam a pobreza e a morte de milhões de pessoas. O Brasil, como toda a América Latina, padece de uma desigualdade escandalosa na distribuição de rendas, mesmo sendo uma das maiores do mundo. Isso é resultado do sistema de colonização e da escravidão de milhões de pessoas trazidas da África. Esse sistema perverso gerou uma elite branca e rica que tem ódio ao pobre. Esse ódio é, ao mesmo tempo, consequência e o alimento do racismo estrutural. Se queremos transformar a sociedade, precisamos recorrer ao saber especializado das ciências sociais.

4) Para uma civilização do amor

Essa expressão é usada, primeiramente, por São Paulo VI e retomada por Francisco. Não basta lutar pela diminuição da pobreza como forma de construir um mundo de paz. É preciso avançar para uma ordem social e política cuja alma seja a caridade social. Francisco nos convida a fazer esse avanço por amor a todos os seres humanos, imagem e semelhança de Deus, mas também por toda a criação. Aqui, não se trata de um sentimentalismo, mas um amor concreto, eficaz. Um amor que faça a diferença na vida dos milhões de pobres que padecem diariamente a carência das condições básicas de vida. Um exemplo dessa civilização do amor ainda se vê entre os mais pobres nas comunidades carentes.

Por fim, é preciso dizer que a vivência e a defesa das grandes causas do Evangelho não são um otimismo ingênuo, mas fruto de luta e enfrentamento.

Sempre tendo como inspiração e fundamento as grandes causas do Evangelho, avancemos em nossa vivência e ação política, sobretudo fazendo a diferença neste ano eleitoral.

 

Imagem: Caderno "Encantar a Política", Comissões Episcopais para o Laicato e a Ação Sociotransformadora, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

 


#Reflexão: 20º domingo do Tempo Comum (14 de agosto)

A Igreja celebra, no dia 14, o 20º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Jr 38,4-6.8-10

Salmo: 39(40),2.3.4.18 (R. 14b)
2ª Leitura: Hb 12,1-4
Evangelho: Lc 12,49-53

Acesse aqui as leituras.

TESTEMUNHAR COM O FOGO DO AMOR DE DEUS

            Seguir a vontade de Deus não é uma realidade fácil e quase sempre não nos traz tranquilidade e paz, mas desafios que implicam renúncias. Anunciar a vontade de Deus incomoda àqueles que se opõe a Ele e que vivem na injustiça.

O profeta Jeremias experimentou muito bem este desafio. Procurando ser fiel à vontade de Deus, por isso, Jeremias acabou provocando a ira daqueles que tinham outros projetos para o povo de Deus. O país estava próximo de enfrentar uma grande invasão estrangeira e os funcionários do rei imaginavam que o melhor era se aliar a um grande país e se submeter a ele. O profeta procura alertar a todos sobre os riscos de tal pacto bem como procura indicar o melhor caminho para todos. Como porta-voz de Deus, Jeremias procura ser coerente com aquilo que Deus lhe falava e não conforme a vontade daqueles que sugeriam estranhas alianças e a guerra. Ser coerente a Deus, como o profeta, quase sempre implica sérios riscos e uma “guerra espiritual”. Os opositores do profeta vão além: procuram eliminá-lo.

Argumentam os funcionários do rei que Jeremias “não procura a felicidade, mas a desgraça para o povo”. A história se repete até os dias atuais. Muitos usam a “vontade popular” em uma “falsa maioria” para conseguir seus objetivos (“as pessoas dizem isto...”, “a maioria quer isto...”), mas na realidade são somente aquelas pessoas é que pensam e desejam algo para o povo realizar.  Jeremias convida o povo a permanecer fiel a Deus e a sua aliança. Como acontece até hoje, os inimigos dos projetos de Deus procuram eliminar aqueles que proclamam com palavras e vida a vontade de Deus. Jeremias sofreu muito e colocou em risco sua vida para cumprir sua missão. Mas, nada e ninguém impediram que ele - com decisão e coragem - anunciasse a Palavra de Deus para o seu povo.

No Evangelho deste domingo encontramos palavras e expressões que, se tomadas ao pé da letra, poderiam justificar qualquer tipo de violência em nome de Jesus. Mas, não é assim! Basta olhar a vida de Jesus para perceber que o sentido daquilo que disse é, certamente, outro. De fato, aqui temos um exemplo do risco de pegar uma leitura fora de contexto e interpretá-la no sentido literal, mas sem levar em consideração todo Evangelho e a vida de Cristo.

Jesus inicia falando que Ele veio “traz fogo a terra” e expressa seu desejo que tal fogo já tivesse sido acesso. “Fogo” é algo que expressa força e energia; ilumina, mas também queima; produz vida (usado para alimentação, iluminar nossas casas e ruas), mas também pode matar.  Ser discípulo de Cristo é incendiar o mundo com a mesma força, com a mesma vida e com a mesma determinação que o próprio Jesus viveu sua missão. Nosso Senhor expressa o seu desejo que este mesmo fogo que queimava em seu coração cheio de misericórdia já estivesse incendiando a vida das pessoas e do mundo. O Espírito Santo que foi derramado primeiro aos apóstolos e a todos nós no dia do Batismo é simbolizado como “línguas de fogo”. Mas, o próprio Jesus reconhece que tudo somente poderá acontecer após o seu Batismo, isto é, sua passagem da morte para a ressurreição.

As palavras seguintes são mais desconcertantes: “Não vim trazer paz, mas divisão”. Entendemos a sentido destas palavras quando olhamos aquilo que Jesus já tinha dito aos seus discípulos. Por duas vezes, Nosso Senhor convida quem quiser segui-Lo de “tomar sua cruz” (Lc 9,23; 14,27). O caminho que Jesus estava percorrendo e convida seus discípulos a percorrer também, não é de tranquilidade, isento de problemas e desafios, pelo contrário, é um caminho com cruz.

A fé em Cristo e a vida cristã não significam viver em mundo sem desafios e exigências. O cristão é chamado a uma “guerra espiritual” constante em sua vida, onde as batalhas são contra o mal e seus projetos. Olhando a vida de Jesus percebemos a constante batalha que Ele empreendeu para que o Reino de Deus tivesse suas raízes bem plantadas neste mundo. Uma guerra não feita de armas e morte de pessoas, mas com testemunho e muito amor ao próximo (como nos lembra a 2ª leitura). Segundo os evangelistas, Jesus não tinha tempo nem para repousar e nem para se alimentar, pois a “guerra” era exigente e constante. Ser cristão é encontrar-se na mesma estrada: promovendo batalhas com amor, usando as armas e a bandeira da paz.

Jeremias na primeira leitura é um exemplo de alguém que combate uma “guerra espiritual” contra aqueles que queriam uma guerra verdadeira. Estar do lado de Deus quase sempre provoca inimizades e forte oposição. Os projetos humanos nem sempre coincidem com aqueles expressos por Deus, por isto, os profetas do passado e do presente são perseguidos, sofrem todo tipo de calúnias e muitos são simplesmente eliminados.

No Evangelho, Jesus termina afirmando que muitos que escolherem serem discípulos Dele não terão a paz que o mundo promete, ao contrário encontrarão divisões em suas famílias. Hoje em dia, ser cristão não implica muitas mudanças e renúncias para uma pessoa, mas naquele tempo tudo era diferente. Um judeu que abandonasse a fé de seus pais era considerado um pagão por isto era até cancelado como herdeiro. Os primeiros cristãos vivenciaram plenamente a situação narrada por Jesus com divisões dentro de suas próprias casas: Pais se tornaram inimigos de seus filhos somente pelo fato de terem abraçado a fé cristã. Hoje as divisões ainda acontecem por causa da fé e até mesmo dentro de lares cristãos. Filhos que resolvem seguir sua vocação são ainda hoje desprezados ou criticados por seus pais; pais que procuram ensinar os valores cristãos para seus filhos são criticados e menosprezados etc.

Mas, o autor da carta aos Hebreus nos anima em nossa caminhada lembrando que são muitos que procuram testemunhar a fé. Somos sempre convidados a participar de uma corrida cujo ponto de partida e a chegada (como em uma olimpíada) é sempre Jesus que nos dá a verdadeira fé. Jesus em sua vida nos deixou o exemplo de uma vida inteiramente dedicada a uma guerra diferente onde as batalhas acontecem com as armas do amor, do perdão e da misericórdia. Este é o fogo que o mundo precisa ainda experimentar que “queima” tudo que destrói a humanidade, mas também “aquece” os corações de todos.

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Santa Dulce dos Pobres

Quando o Papa Francisco, em 2019, anunciava que Irmã Dulce era reconhecida santa pela Igreja, o povo brasileiro já a havia canonizado em seu coração.

“O que fazer para mudar o mundo? Amar. O amor pode, sim, mudar o mundo”, dizia Santa Dulce. E como amou, essa pequenina e grande mulher, Maria Rita de Souza Brito Lopes: a Santa Dulce dos Pobres! Amou com o amor de Deus, um amor de mãe! Sua fama de santidade já era cultivada ainda em vida, pela dedicação aos pobres. Seu coração não cabia em si, pois, desde tenra idade, aprendeu a acolher a todos. Mas os pobres eram seus preferidos: aqueles que faziam ecoar em sua boa alma tanto sofrimento pela falta de alimento, de roupa, de casa, de instrução, de trabalho e remédios.

A história de vida vivida e contada por Irmã Dulce é de profunda compaixão. Ela nasceu em 26 de maio de 1914, numa família que tinha o essencial para viver bem e era composta por pessoas zelosas e caridosas. Seu pai, doutor Augusto, grande humanista, era professor universitário e dentista. Ele percorria ladeiras e periferias de Salvador, com seu carro adaptado para atender aqueles que não podiam pagar o tratamento dentário, exemplo que Maria Rita ia aprendendo e desejando realizar. Sua mãe, Dulce, certamente se divertia com a menina brincalhona que gostava de jogar futebol, soltar pipa e tocar acordeon.

Maria Rita foi criada por seu pai com ajuda de três tias solteiras, pois tinha sete anos quando sua mãe faleceu. Muito cedo, aprendeu a ter um olhar para a vida, a “conhecer a realidade das pessoas que nada têm e que vivem em extrema pobreza”, como dizia sua tia Madaleninha. Tudo isso despertou Maria Rita à vida consagrada, para melhor servir a Deus e aos irmãos. Aos treze anos de idade, quis entrar para o convento, mas, pela pouca idade, não foi aceita. O tempo passou e, em 1933, ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão, Sergipe. Quando fez os votos, recebeu o nome de Irmã Dulce, em homenagem a sua mãe.

Regressando a Salvador, Bahia, um ano depois, atuou como professora em um colégio da congregação, mas seu desejo era mesmo trabalhar pelos pobres. Vivendo um amor perturbador, Irmã Dulce acreditava que “a miséria é falta de amor entre os homens”. Na Comunidade dos Alagados, um conjunto de casas de palafita, Irmã Dulce viveu a profundidade da compaixão: Deus estava ali, no rosto de cada irmão abandonado. Era uma realidade de um povo que sobrevivia sobre entulhos, e ela estendeu sua mão generosa aos sem rosto e sem esperança.

O caminho vivido por Irmã Dulce foi amoroso e muito exigente, regado de paciência, trabalho, críticas, muita luta para conseguir recursos com os mais abastados da sociedade e os políticos. Mas era fortalecido pela oração constante e frutuosa. Santo Antônio era o amigo com quem conversava. Ela o admirava por sua vida e pelos milagres alcançados de Deus, por sua intercessão. Irmã Dulce dormia rezando, sentada numa cadeira ao lado de sua cama. Era alimentada em silêncio, pela madrugada, em seus encontros com Deus, e assim pôde conduzir bravamente seu projeto de amor aos irmãos e irmãs carentes.

O encontro de Jesus com as irmãs Marta e Maria, na casa de Bethânia, ilumina nossa conversa! Irmã Dulce é Maria, que se senta aos pés de Jesus para dele ouvir a Palavra, a Boa Notícia do Evangelho do Amor misericordioso. É Marta, que oferece as mãos para acolher e acariciar as crianças, idosos e seus ‘doentinhos’. São os pés que caminham pela cidade de Salvador e saem dos muros do Convento, para encontrar sua gente e dar a ela o significado da “vida em abundância” desejada por Jesus, seu Amado.

O amor de Irmã Dulce foi disseminado, desde sempre, e hoje pulsa e continua presente. De um ‘galinheiro’ de dentro do convento nasce esse legado vivo, esse patrimônio de amor pelo menos favorecidos. As Obras Sociais de Irmã Dulce (OSID) são exemplo de ideal de fraternidade a nos inspirar. Elas nos fortalecem na certeza de que só um coração semeado com a semente da compaixão faz brotar a solidariedade!

O poema do Hino a Santa Dulce dos Pobres é o retrato de sua espiritualidade e das obras realizadas pelo amor a Deus e aos pobres:

Salve, Salve, Salve Santa Dulce do Amor / Veja, veja, veja os grandes feitos do Senhor

Santa Dulce tão querida e tão amada / Ontem e hoje tão venerada / Acolheu crianças, jovens, idosos e doentes / Entregues à divina caridade e à bondade.

Salve, Salve! Salve Santa Dulce do Amor / Veja, veja, veja os grandes feitos do Senhor

Santa Dulce andou tão feliz com o que fazia / Foi muito além daquilo que podia / Dulce, Dulce, Dulce tão querida do Senhor! Crestes no amor ao pobre – viveu o Evangelho com ardor.

Salve, Salve! Salve Irmã Dulce do Amor / Veja, veja, veja os grandes feitos do Senhor

O que é de Deus ficará no coração e na mente /Proclama esta canção para o mundo - em ação

Eternamente, / Dulce do Grande amor Viveu com os pequeninos, a mensagem do Senhor.

 

Referências bibliográficas:

DULCE NOTÍCIAS – Informativo interno das Obras Sociais Irmã Dulce, 2014.
REVISTA ECOANDO, São Paulo: Paulus, 2021, ano 19, n. 74, p. 30-31.
ROCHA, Graciliano. Irmã Dulce, a Santa dos Pobres. São Paulo: Planeta, 2019.

Imagem destacada da notícia: Vatican Media.

 


Palácio episcopal: 100 anos acolhendo os pastores da arquidiocese de Pouso Alegre

Na próxima quarta (10), o palácio episcopal, patrimônio histórico do município de Pouso Alegre (MG) e residência do arcebispo metropolitano, completará 100 anos de sua inauguração. O historiador Fernando do Vale apresenta dados sobre esse prédio que faz parte da história do Sul de Minas.

Com a instalação da diocese de Pouso Alegre, no primeiro ano do século XX, o padre José Paulino, aos poucos, foi adquirindo bens para compor o patrimônio eclesial. Inicialmente, era composto por uma fazenda, chácara para o seminário (onde hoje está localizado o Exército) e cinco prédios localizados na cidade. Com a nomeação do primeiro bispo, dom João Baptista Correa Nery, no dia 20 de julho de 1901, a residência que passou a ser sua moradia se localizava na esquina das ruas Dom Nery e Adalberto Ferraz.

Primeira residência episcopal que, posteriormente, deu lugar a Escola de Farmácia. Foto: Fernando do Vale.

Contudo, desejava-se construir uma residência mais funcional, adiada perante as dificuldades financeiras que a diocese enfrentava. Diante dos burburinhos que se espalhavam de uma possível transferência da sede eclesial para a cidade da Campanha, a ideia de se construir uma nova residência se tornou realidade. Uma comissão, composta por Cândido Antônio de Barros, capitão Ignácio de Loyola, coronel Octávio Meyer, senador Eduardo Carlos Vilhena do Amaral e padre Antônio Boucher Pinto, ficou responsável por incentivar a população a ajudar nas obras. A pedra fundamental foi lançada no dia 20 de janeiro de 1902 e a sua inauguração ocorreu no dia 5 de junho de 1904. A antiga residência serviu de habitação para dom Nery, dom Antônio Augusto de Assis e dom Octávio Chagas de Miranda.

Primeira residência episcopal, onde hoje se localiza o Colégio São José. Foto: Fernando do Vale.

Com a vinda do Exército para Pouso Alegre, os militares vislumbraram a chácara onde se localizava o seminário diocesano como sendo o local ideal para o estabelecimento da guarnição. Mesmo dom Octávio se opondo aos interesses militares, a chácara foi desapropriada por um valor ínfimo. O seminário e Ginásio Diocesano foram obrigados a se transferirem para a sede da residência episcopal, passando dom Octávio a residir em um dos prédios pertencentes ao bispado localizado na Rua Afonso Pena.

No ano de 1915, foi adquirido um terreno por meio de doação para a construção da nova residência:

“um terreno nesta cidade (Pouso Alegre) havido por compra feita ao Capitão João Pedro da Silveira e sua mulher, por escriptura do 1º Offício, que faz frente para o Palácio Episcopal (antiga residência), à Rua Júlio Brandão, que divide pelas ruas D. Nery e Monsenhor José Paulino, que tem fundos até a divisa do Cel. João Baptista Vieira e herdeiros de Fortunato de Tal”.

Estando legalizado o terreno, as obras da nova residência iniciaram. As obras ficaram a cargo do mestre construtor recém-chegado de Ribeirão Preto (SP), Mario Pio Gissoni, dispensando a quantia total de 85:000$000 (oitenta e cinco contos de réis). No dia 10 de agosto de 1922, dia de Santa Filomena, a qual dom Octávio era muito devoto, inaugurou-se o novo palácio episcopal. As cerimônias iniciaram com uma missa às 7h30min, presidida pelo monsenhor Lafayette Libânio, vigário geral da diocese, com a presença da comunidade, irmandades, representações de colégios e autoridades locais. Ao final da celebração, proferiu um discurso eloquente o cônego Antônio Furtado de Mendonça. Logo após, se dirigiram ao novo palácio episcopal toda população de Pouso Alegre. O convite foi veiculado no jornal “Semana Religiosa”, pois, dom Octávio, fez questão de que todos, sem distinção, participassem daquele ato.

Adentrando o novo palácio episcopal, o bispo diocesano foi saudado pelos alunos do Ginásio São José, da Escola Profissional e do seminário. Dom Octávio usou a palavra, demonstrando seu enorme carinho pelos presentes no ato de inauguração de sua nova residência e agradecendo aos cumprimentos pelo seu natalício, ocorrido no dia 10 de agosto. Fizeram-se presentes também, já no interior do palácio, representantes do Colégio das Irmãs Dorothéas, a quem carinhosamente acolheu o pastor diocesano. Em seguida, dom Octávio iniciou a bênção da casa, percorrendo-a por todos os cômodos e aspergindo-a com água benta. Procedeu-se também a entronização da imagem do Sagrado Coração de Jesus, a bênção do sacrário da capela e da imagem de Santa Filomena. Tendo findado a cerimônia e os discursos, durante a festa, uma banda de música executou belas canções.

Ato de inauguração do novo palácio episcopal da diocese de Pouso Alegre, no dia 10 de agosto de 1922. Foto: Fernando do Vale.

O novo edifício, inaugurado em 1922, possui belo aspecto e acomodações necessárias para a residência dos bispos. Com fachada sóbria e elegante, estava se formando um belo jardim, na época sob a responsabilidade de Jacintho Libânio, monsenhor Lafayette e Mirabeau Ludovico (chofer e jardineiro que trabalhou até o final de sua vida com os bispos). A porta principal conduz a um vestíbulo, com aspecto claro e alegre, na época, decorado por Carlos Titos Wunderling. Do lado esquerdo do vestíbulo, seguia o salão nobre, decorado por cortinas e guarnições, sob a ótica de Leão Gery, da cidade de Campinas (SP). Do lado direito do vestíbulo, se encontrava a secretaria do bispado, o arquivo e o gabinete do vigário geral, todos bem iluminados e pintados com gosto e composto por novos mobiliários. Seguindo ainda pelo térreo, se encontrava a capela, com decoração apropriada, belas cortinas, altar de madeira, oferecido pelo povo da paróquia de Ouro Fino (MG) e executado pela oficina do senhor João Pinheiro, na cidade de Jacutinga (MG). Do outro lado, um amplo refeitório todo mobiliado, trabalho das oficinas de Luiz Checchia & Irmão, de Campinas. Ainda neste pavimento, se encontravam quarto de empregados, cozinha e outras dependências.

No andar superior, acesso conduzido por modesta escada, se encontrava um hall todo iluminado onde eram localizados os seguintes cômodos: biblioteca, sala de bilhar, gabinete e quarto de dormir do senhor bispo diocesano, quarto para o secretário, três quartos para hóspedes e outras dependências. Toda a mobília do quarto do prelado foi oferecida pela paróquia da Vila Braz, atual paróquia São Caetano, em Brasópolis (MG), sob os cuidados dos irmãos Checchia.

O palácio episcopal, durante os anos, foi testemunha de diversos acontecimentos religiosos, como cerimônias, festividades e serviu de hospedagem a diversas personalidades religiosas. Ao completar 50 anos de sacerdócio, durante as comemorações no ano de 1953, dom Octávio recebeu na sua residência o então governador de Minas Gerais e futuro presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Dom Otávio discursa diante de fiéis na entrada do palácio episcopal. Foto: Fernando do Vale.
O então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek de Oliveira, discursa no palácio episcopal, por ocasião dos 50 anos de ordenação sacerdotal de dom Octávio Chagas de Miranda, no ano de 1953. Foto: Fernando do Vale.

Nestes 100 anos de inauguração do palácio episcopal da arquidiocese de Pouso Alegre, residiram os seguintes bispos e arcebispos:  dom Octávio Chagas de Miranda (1922-1959), dom José D’Ângelo Neto (1962-1990), dom João Bergese (1991-1996), dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho (1996-2014) e dom José Luiz Majella Delgado (atual residente). Como bispos auxiliares, também habitaram aquela residência: dom Oscar de Oliveira (1954-1960), dom João Bosco Óliver de Faria (1987-1991) e dom José Francisco Rezende Dias (2001-2003).

O palácio é a residência do atual arcebispo metropolitano, dom José Luiz Delgado Majella, que, com muito amor e respeito pela história da arquidiocese, cuida desse prédio que se tornou patrimônio histórico do município de Pouso Alegre. Mantendo a imponência original da época de sua inauguração, a residência, atualmente, possui dois pavimentos circundados por um belo jardim cercados por muros, primando pela segurança daquele patrimônio e de seu habitante. Atualmente, o muro e o jardim do palácio passam por reforma e revitalização. A arquidiocese pretende concluir essas obras em breve e, com evento solene, comemorar os 100 anos da inauguração do prédio.

Foto atual do palácio episcopal, com destaque para sua lateral esquerda e jardim. Foto: Arquivo pessoal/dom José Luiz Majella Delgado.

Referências bibliográficas:

A Semana Religiosa, 14 de outubro de 1922, ano VII, nº304, Capa.

Documento de Compra e Venda do terreno e benfeitorias do Palácio Episcopal. Acervo da Cúria Metropolitana de Pouso Alegre.

Dossiê de Tombamento da Prefeitura Municipal de Pouso Alegre, 1998. Acervo da Superintendência de Cultura de Pouso Alegre.

Imagens: Fernando do Vale e dom José Luiz Majella Delgado.
A imagem destacada da notícia apresenta perspectiva do palácio episcopal e é dom José Luiz Majella Delgado.

 

 

Seguem mais fotos atuais do palácio episcopal, do arquivo de dom José Luiz Majella Delgado:


#Reflexão: 19º domingo do Tempo Comum (07 de agosto)

A Igreja celebra, no dia 07, o 19º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Sb 18,6-9

Salmo: Sl 32(33),1.12.18-19.20.22 (R. 12b)
2ª Leitura: Hb 11,1-2.8-19
Evangelho: Lc 12,32-48

Acesse aqui as leituras.

O MAIOR TESOURO É SERVIR AO SENHOR.

            As duas leituras deste domingo recordam o exemplo de nossos pais na fé. Homens e mulheres que movidos pela fé deixaram tudo para cumprir a vontade de Deus. Pessoas que confiaram e arriscaram muito para descobrir que ao final de tudo, Deus sempre quis o bem de todos. Eles aprenderam que acreditar em Deus é se colocar a caminho, construir junto com Deus um projeto de comunhão e de felicidades que tem suas raízes na história, mas os verdadeiros frutos não são colhidos neste mundo.

Estes grandes personagens nos mostram que a fé não cega as pessoas (diferente do fanatismo), mas abre os olhos para valores importantes que vão além da realidade e do presente. Aprenderam a crer em um Deus que sempre está pronto a caminhar e a ajudar a cada um em sua estadia neste mundo. Um Deus que constrói história conosco. Por isto, nossos patriarcas da fé aprenderam que nossa presença neste mundo é algo passageiro: somos peregrinos e temos uma pátria e um Deus que nos espera!

Jesus nos ajuda no Evangelho a entender como devemos caminhar neste mundo e onde devemos colocar nossa esperança e fé:

As primeiras palavras de Jesus completam a parábola de domingo passado do rico agricultor insensato. Naquela história, um homem que já era rico, obteve uma grande colheita e seu pensamento foi somente conservar e acumular ainda mais bens. Um pobre homem em uma realidade onde somente ele, seus bens e projetos pessoais tinham espaço. Ninguém mais fazia parte de seu mundo. Por isto Jesus no Evangelho deste domingo, aconselha seus discípulos chamados de “pequeno rebanho” [Jesus tinha consciência que sua proposta era pra poucos] de vender tudo e dar em esmola, ter bolsas que acumulem riquezas junto de Deus. O melhor celeiro onde devemos carregar nossos tesouros é o nosso coração: onde ele estiver, estará a nossa riqueza. Mas, como podemos ter este tesouro que nunca será roubado ou corroído? Com mais uma parábola, Jesus explica o caminho.

Jesus narra um ambiente conhecido de um senhor com seus servos, mas não é uma casa igual àquelas que todos os seus ouvintes conheciam. Os servos são retratados como todos conheciam: obedientes, serviçais, aplicados e atentos ao serviço que deveriam fazer. O patrão confia tanto que se sente tranquilo em sair e voltar a qualquer hora, pois sabe que seus servos são vigilantes. Tais servos são descritos como felizes por Jesus não porque estão em uma condição de servidão ou submissão, mas porque compreenderam o sentido do serviço que o próprio Jesus tinha ensinado. A casa representa a comunidade cristã onde todos devem se sentir iguais no serviço e que ninguém se sente como patrão, mas discípulos serviçais.

A novidade nesta primeira parábola de hoje é atitude do senhor e proprietário da casa. Mesmo voltando à noite (cansado e com fome), Ele mesmo servirá seus servos. Nesta casa diferente, todos são servos, todos se preocupam com o bem comum, todos são obedientes. Estão sempre prontos pra servir: com os “rins cingidos” (roupa amarrada na cintura como um trabalhador ou missionário) e “lâmpadas acesas” (não dormem jamais!). O senhor da casa é o primeiro a servir seus servos, por isto, todos os servos são aplicados e felizes. É fácil perceber que tal senhor é o próprio Jesus que de diversos modos procurou servir a todos, até o final de sua vida. O Lava pés não um ato isolado, mas o mais significativo de uma vida servindo e lavando os pés de todos. Para Jesus, a vida de serviço é a fonte de felicidade e o melhor modo de estar preparado para quando Ele vier.

            Nesta história, estranhamento, o senhor da casa “bate à porta”, pois está de volta. Se ele é o dono da casa, não precisaria “bater à porta”. Aqueles que batem a nossa porta são os pobres e necessitados, nosso Senhor vem constantemente até nós e onde nos encontramos, naqueles que necessitam de nossa caridade, de dia e de noite.

Para aqueles que estão apegados aos seus bens, quem se aproxima se apresenta como ladrão e “rouba” suas coisas, diferentemente dos servos que estão sempre a serviço, não são donos, mas compartilham o que possuem. Mas, nosso Senhor afirma que virá uma próxima vez, de forma definitiva ao nosso encontro. Para muitos, Jesus chegará como ladrão; para os discípulos, Cristo se manifestará como servo e nos servirá. Assim, precisamos esperar o Senhor não “olhando para o céu”, mas atentos ao que acontece ao nosso redor, em relação aos nossos irmãos e irmãs. É necessário sempre acolher e servir aquele que bate a nossa porta, pois em cada pessoa, Jesus está presente.

As palavras de Jesus sobre a riqueza e a parábola anterior foram tão expressivas que Pedro achou que não seriam somente para eles, os discípulos. Jesus não responde a pergunta de Pedro, mas lhe propõe outra parábola para que ele refletisse ainda mais:

            O ambiente é o mesmo: patrão e servos, mas desta vez, aparece um administrador. Alguém que tinha uma responsabilidade de coordenar o serviço de todos. Sua função não era algo para ser tomado como uma forma de exploração e opressão, mas com um peso de coordenar o bem comum de todos. Um servo com maior responsabilidade. Quem ocupava aquele cargo de administrador – segundo Jesus – deveria sempre se recordar do seu senhor e se inspirar nele. O administrador foi colocado em um cargo de responsabilidade e deveria tudo realizar sempre com este princípio fundamental: tudo que tenho e possuo, me foi dado em confiança!

Quem possui um peso de responsabilidade sobre outros deveria sempre se lembrar que tudo é um dom e tudo deve ser exercido como um serviço. Quanto mais poder alguém recebe, mais e melhor deve servir. Para Jesus, quem administra não deixa de ser servo e sempre deve se lembrar que Cristo é o melhor exemplo que temos de quem foi administrador e servo em plenitude.

Mas, a segunda parábola possui também um exemplo daquilo que é muito comum acontecer quando alguém recebe o cargo de administrador. Muitos se comportam não como servo, mas como um mercenário. O patrão, segundo Jesus, reconhece o bom serviço dos servos e, inclusive, se coloca a serviço deles; o mercenário está interessado em somente obter lucros e vantagens. Sua posição de superioridade em relação aos outros, ele encara como uma vantagem para explorar e maltratar seus companheiros de serviço. Pobre administrador! O pouco que ele consegue obter de alegria (comendo e bebendo), logo se transforma em tristeza aos olhos do seu patrão. O péssimo administrador não percebe que se comportando de um modo que nem seu patrão se comporta, ele nada ganha, mas perde tudo.

Assim, Pedro e os discípulos deveriam entender que a posição que ocupavam dentro do projeto de Jesus (Igreja), eles não deveriam ter como um privilégio para ganhar vantagens diante do povo, mas como serviço especial que deveriam colocar em prática com mais cuidado e obediência. No Reino de Deus que nos foi dado através de Jesus, o tesouro maior que se pode conseguir não se consegue senão em uma vida de serviço e doação. O despojamento dos bens deste mundo não é uma perda, mas uma forma de acumular tesouros junto de Deus, mas o meio fundamental é uma vida de serviço, em outras palavras, viver como Jesus viveu.

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Santo Cura d'Ars

Com este artigo, a Pastoral da Comunicação da arquidiocese de Pouso Alegre (MG) inicia a divulgação de textos de espiritualidade nas suas mídias digitais. O conteúdo de espiritualidade é preparado por padres e cristãos leigos da arquidiocese, orientados pelo padre Reinaldo dos Santos. Os textos serão postados semanalmente, às quartas-feiras. Você acompanha, a seguir, texto elaborado pela Thais Aparecida Salles Afonso, da paróquia São José, em Paraisópolis (MG), sobre São João Maria Vianney. Esperamos que o nosso conteúdo lhe ajude a fortalecer e viver a fé cristã!
Boa leitura! Compartilhe!

 

Era o ano de 1818, um dia que parecia ser como outro qualquer. Eis que em uma pequena estrada da França, um humilde sacerdote caminha à paróquia que lhe foi confiada. Era um padre de origem muito simples, filho de camponeses, nascido em 08 de maio de 1786, em Dardilly, um vilarejo francês. Ele havia enfrentado com sua família o difícil período da Revolução Francesa, quando muitos sacerdotes perderam suas vidas ou tiveram que ficar foragidos, pois houve o fechamento das igrejas sob ordens das autoridades e o povo muito sofreu com a ausência de padres. Mesmo assim, havia vários padres que eram corajosos e enfrentavam perigos para administrar os sacramentos.

Assim nasceu no coração daquele homem o desejo pela vocação sacerdotal. Porém, ele havia sido privado dos estudos, tendo a oportunidade de se alfabetizar somente na juventude, o que resultou em grandes dificuldades na preparação para o sacerdócio, pois não tinha facilidade em aprender o latim. Fora reprovado dos exames no seminário, pois não o achavam apto para receber o Sacramento da Ordem. Mas aquele simples homem do campo, nunca desistiu de sua vocação. Faltava-lhe instrução acadêmica, no entanto ele recebeu a sabedoria que vem do céu.

Com muito esforço e dedicação, foi ordenado padre em 1815. Entretanto, no início, teve um impedimento grave: não poderia atender confissões! Os superiores achavam que ele não teria capacidade de orientar e dirigir a vida espiritual dos fiéis. Mas aqueles sacerdotes jamais imaginariam que estavam diante de um dos maiores confessores da história da Igreja!

Tinha pouco tempo de ministério quando foi nomeado cura da vila mais miserável da França: Ars. Um lugar com pouco mais de 200 habitantes, onde as pessoas se encontravam muito distantes de Deus. Aquele pequeno vilarejo, ao qual fora designado, tinha uma geração toda perdida devido aos males causados pela Revolução. Era um povo sem padre, sem catequese, sem sacramentos, que não guardava o domingo e não gostava de rezar... Mas a providência divina, que jamais abandona, enviou para cuidar daquelas pequenas ovelhas o padre João Maria Batista Vianney.

Quase chegando ao vilarejo, o sacerdote encontra-se com um pequeno pastorzinho e lhe pergunta qual seria o caminho para Ars.  O menino responde e São João Maria Vianney lhe diz: “Tu me mostraste o caminho para Ars. Eu te mostrarei o caminho para o Céu”. Com fé, ele disse, ao chegar em seu destino: “Esta igreja não será capaz de conter a quantidade de pessoas que virão”.

E de fato, este santo pároco, com amor e excepcional ministério pastoral, conseguiu incutir o amor a Deus nos corações daquelas pessoas. Além do seu redil de Ars, o humilde pastor também soube cuidar e conduzir tantos outros milhares de ovelhas, que vinham de todas as partes do país. Sentado por horas no confessionário e rezando sem descanso pela salvação do seu rebanho, o Santo Cura d’Ars conseguiu converter o coração de muitos.

Viveu até os 73 anos, sendo beatificado em 1905 pelo Papa Pio X, e canonizado em 1925, pelo Papa Pio XI, que o proclamou, em 1929, “Padroeiro dos párocos do mundo”. No centenário de sua morte, em 1959, o Papa São João XXIII dedicou-lhe a Encíclica “Sacerdotii nostri primordia” colocando-o como modelo de santidade a todos os sacerdotes. Nessa belíssima carta, as virtudes destacadas de São João Maria Vianney também inspiram a todos nós a seguir seus exemplos. Os pontos fundamentais de seu ministério sacerdotal foram a penitência e a oração. Dizia ele que “o padre, antes de tudo, deve ser homem de oração”.

Vianney tinha uma profunda piedade eucarística, e isso fez com que este santo sacerdote vivesse em uma constante união com Deus, dedicando mais de 16 horas por dia no confessionário e sendo instrumento da misericórdia divina a tantas pessoas de todas as partes da França que enchiam a igreja de Ars para buscar os sacramentos e os ensinamentos do Evangelho. Sem dúvidas, aquele humilde pároco de aldeia teve um extraordinário zelo pastoral e um ministério tão fecundo por ser um sacerdote de profunda oração, intimidade e imitação de Cristo, pois em seu coração estavam marcadas as palavras de nosso Senhor: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5).

O Santo Cura d’Ars viveu num total desprendimento dos bens deste mundo. Deu exemplo de amor e caridade, sobretudo com os pobres de sua paróquia, os quais tratava com verdadeira ternura. Teve sempre o espírito de obediência, vivia para Igreja e somente trabalhava para ela, como palha que se consome no fogo.

Recordar São João Maria Vianney no dia 4 de agosto é, sobretudo, um convite para que todos nós intensifiquemos nossas orações pelos sacerdotes. Muitos nunca rezam pelo seu pastor, e ainda tem costume de maldizer os padres. Devemos sempre lembrar que “o sacerdote é o amor do Coração de Jesus”, como nos ensinou Santo Cura d’Ars.

Rezemos pelos nossos padres, para que, a exemplo desse grande sacerdote, levem o amor e a misericórdia de Deus a todas as pequenas ovelhas que lhe foram confiadas. Rezemos para que sejam bons pastores, amem seu povo e mostrem sempre o caminho para o Céu, assim como vez São João Maria Vianney ao povo de Ars.

Oração pelos sacerdotes (indulgenciada por S. Pio X)

Ó Jesus, Pontífice Eterno, Divino Sacrificador! Vós que, no Vosso incomparável amor, deixastes sair do Vosso Sagrado Coração o sacerdócio cristão, dignai-Vos derramar, nos Vossos sacerdotes, as ondas vivificantes do Amor infinito. Vivei neles, transformai-os em Vós, tornai-os, pela Vossa graça, instrumentos de Vossas Misericórdias. Atuai neles e por eles, e fazei que, revestidos inteiramente de Vós pela fiel imitação de Vossas adoráveis virtudes, operem, em Vosso nome e pela força de Vosso Espírito, as obras que Vós mesmo realizastes para a salvação do mundo.

Divino Redentor das almas, vede como é grande a multidão dos que dormem ainda nas trevas do erro; contai o número dessas ovelhas infiéis que ladeiam os precipícios; considerai a multidão dos pobres, dos famintos, dos ignorantes e dos fracos que gemem ao abandono. Voltai-Vos para nós por intermédio dos Vossos sacerdotes. Revivei neles, atuai por eles e passai de novo através do mundo, ensinando, perdoando, consolando, sacrificando e reatando os laços sagrados do amor entre o Coração de Deus e o coração humano. Amém.

São João Maria Vianney, intercedei por nós e por todos os sacerdotes de Cristo!

Imagem destacada da notícia apresenta um monumento dedicado a São João Maria Vianney, a 1 Km de Ars. Fonte: Vatican News.